No rol de vilões mais famosos da saúde está o colesterol, responsável por elevar riscos de doenças cardíacas. Mas você já deve saber que nem todo colesterol é vilão: essa gordura é essencial para o corpo humano. Sua versão “boa”, o HDL, ajuda a remover dos vasos sanguíneos o colesterol “ruim” LDL, responsável por entupir as artérias.
Só que o colesterol não é o único responsável pelos problemas cardíacos. Outro fator importante a se considerar é a lipoproteína (a), também conhecida como Lp(a) (os especialistas chamam de “LPazinha”). Essa partícula faz o transporte do colesterol pelo sangue e se parece bastante com a lipoproteína de baixa densidade (LDL), o famoso colesterol ruim.
A estrutura molecular da Lp(a) pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como infartos, tromboses e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Em pessoas com níveis elevados, essa lipoproteína se acumula nas artérias e aumenta a inflamação dos vasos sanguíneos até formar placas e coágulos. Isso aumenta os riscos cardiovasculares mesmo para pessoas que tem bons níveis de HDL e LDL.
Um novo estudo estima que 18% da população tem uma predisposição genética que gera níveis alterados de Lp(a), aumentando o risco de doenças cardíacas. A pesquisa foi feita pela empresa de medicina diagnóstica Dasa e a farmacêutica Novartis
Os pesquisadores usaram os dados de amostras de sangue de 115.197 pacientes dos laboratórios da Dasa, com exames coletados entre 2016 e 2019, para analisar os dados de Lp(a) da população. O estudo, publicado na PLOS One, é o mais extenso já realizado sobre o assunto no Brasil.
Descobrindo os riscos reais
Quando seu colesterol ruim está elevado, isso provavelmente significa algum problema na dieta ou excesso de peso. Porém, às vezes a culpa é da genética ou do uso de medicamentos corticoides. No caso do acúmulo de Lp(a), a culpa é quase sempre dos genes.
“[Os níveis da Lp(a)] são fixados pela herança genética de cada indivíduo”, explica Maria Helane Gurgel Castelo, diretora de análises clínicas da Dasa e uma das autoras do estudo. O valor da lipoproteína não muda com o tempo, por isso é possível fazer a dosagem só uma vez na vida.
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“Isso significa que pessoas com predisposição genética podem apresentar níveis elevados dessa substância independentemente de hábitos de vida saudáveis”, explica Victor Gadelha, superintendente médico de pesquisa, ensino e inovação da Dasa.
Ou seja: fatores externos ou ambientais, como alimentação e atividade física, não têm influência significativa nos níveis da lipoproteína (a). O aumento de Lp(a) não é resolvido da mesma forma que se resolveria um problema de colesterol ruim, cortando alguns alimentos e fazendo mais exercício.
Esse estudo mostra que a predisposição genética aos níveis altos de Lp(a) é bem mais comum do que se imaginava. Cerca de 18% dos mais de 115 mil pacientes apresentaram níveis elevados de lipoproteína (a), acima de 50 mg/dL, o que já os posiciona na faixa de alto risco cardiovascular.
61% dos participantes do estudo eram mulheres, com níveis médios de Lp(a) um pouco maiores que os dos homens. A mediana (número bem no meio de um conjunto de dados) das idades dos participantes é de 44 anos.
Alguns anos atrás, a Lp(a) não era vista como um biomarcador muito importante na avaliação de riscos cardiovasculares. Diretrizes europeias e estudos recentes têm reforçado a importância de dosar o nível da lipoproteína pelo menos uma vez na vida, mas no Brasil isso é complicado: o exame de sangue para descobrir se o paciente tem níveis elevados da substância não está incluído no Sistema Único de Saúde (SUS) e muitas vezes nem entra na cobertura de planos de saúde privados.
Por enquanto, ainda não existem medicamentos no mercado para a diminuição efetiva desses níveis altos da lipoproteína (a). Os médicos podem mudar as estratégias de prevenção adotadas, focando em ações direcionadas para os fatores de risco controláveis, como hipertensão, obesidade e nível de LDL.
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[Por: Superinteressante]
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