[Editado por: Marcelo Negreiros]
O Brasil está vivendo algo nunca visto antes: uma ditadura malfeita e de barganha. É algo sem precedentes em 525 anos de história em uma terra onde, independentemente de ideologia ou regime, todo governo sempre foi obcecado apenas em governar para si e contra o povo. O que temos agora é um regime sem coragem de se autodenominar uma ditadura de classe mundial como a Coreia do Norte ou Cuba — ou um que simplesmente não consegue. Mas, para todos os efeitos práticos, o sistema atual funciona exatamente como aquelas ditaduras “boas, velhas e honestas” que conhecemos tão bem. A única lei que tem algum peso real é a vontade de quem controla a polícia e as forças armadas. E aqueles que detêm o poder nem são os vilões clássicos — um Hitler, um Fidel Castro , um Luís XV. Não, o que temos é um “coletivo” de juízes, não eleitos, irresponsáveis, comandando o espetáculo como um conselho tribal de alguma aldeia do interior da qual todos têm medo. E eles comandam o Brasil há seis anos consecutivos.
Essa ditadura de juros baixos só se safa porque está encarando a classe política mais fraca e covarde que o Brasil já viu — talvez desde os governadores coloniais. E esses ministros são absolutamente desavergonhados, exibindo-se em público como: “Ei, nós somos o Supremo Tribunal Federal e agora mandamos aqui”. “Não somos mais apenas um gabinete técnico”, diz o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso. “Agora somos um poder político, forçados a governar o país porque os brasileiros e seus representantes eleitos são ineptos demais para se governarem.” Em outras palavras: é isso que o Supremo Tribunal Federal pensa, e já que eles acreditam nisso, é melhor você não “se incomodar”, seu “idiota” — ou então Alexandre de Moraes vai te mandar para a cadeia como “golpista”. Em seu último episódio de arrogância narcisista e mesquinha, a pequena gangue que comanda a Corte — os outros são apenas ocupantes de assentos, apenas corpos quentes, como costumavam dizer sobre jogadores de futebol quando não era possível substituir os lesionados — fizeram uma verdadeira maravilha.

STF, sob Barroso e Moraes, passou a se enxergar como poder político central, assumindo o papel de governante diante da suposta incapacidade dos eleitos — e quem discordar corre o risco de ser preso como ‘golpista’ | Foto: Antonio Augusto/STF
Segundo a Folha de S.Paulo, o Supremo Tribunal Federal negociou um projeto de lei — um projeto de lei, pelo amor de Deus! — para suavizar as sentenças brutais que Moraes impôs aos envolvidos nos distúrbios de 8 de janeiro. Como assim? Agora o Supremo Tribunal Federal está negociando leis com o Congresso? Isso não é apenas fora de contexto, é de outro mundo. Mesmo que a Constituição brasileira importasse tanto quanto uma imitação de Rolex, nem o Supremo Tribunal Federal nem o Congresso deveriam estar “negociando” nada. Aprovar leis? Esse é o trabalho do Congresso, e somente dele. O Supremo Tribunal Federal não tem nada a ver com isso. Ele deveria interpretar a lei, não fazer, aprovar, vetar ou “negociar” o que o legislativo decide. Mas o Brasil não é uma democracia há muito tempo. Hoje em dia, o Supremo Tribunal Federal governa, e o Congresso está de joelhos implorando: “Por favor, chefe, me bata de novo!”
Isso é sério? O Supremo Tribunal Federal precisa dar seu aval antes que qualquer coisa passe pelo Congresso? E se os ministros Moraes e Flávio Dino — que, ainda segundo a Folha, “concordaram” com o projeto de lei para reduzir as penas — não tivessem concordado? Lei nenhuma? Não é apenas absurdo — é monstruoso, é mais uma mutação que surge desse pequeno e aconchegante caso de amor entre o Supremo e o governo. Durante o mandato de Bolsonaro, o Supremo bloqueou o governo a todo momento. Agora, sob Lula — libertado da prisão e instalado no palácio presidencial —, eles governam o país juntos com o Partido dos Trabalhadores (PT), PSOL, PCdoB e “companheiros” semelhantes, em um sistema de bajulação mútua e troca de favores. Em dias pares, o Supremo é o queridinho de Lula. Em dias ímpares, Lula é o queridinho do Supremo. Neste momento, Lula percebeu que prender um cabeleireiro por quatorze anos e todas as outras loucuras simplesmente não estão lhe conquistando corações ou votos. Ele não aceita anistia — nem sua fé nem seu caráter permitem —, mas está farto de ser cúmplice da intimidação judicial de Moraes. Aparentemente, também está cansado de aplaudir incansavelmente o Líder Supremo por cada decisão absurda. O governo, então, armou essa redução de pena — para poder soltar todos sem conceder oficialmente a anistia (e possivelmente perder uma votação). A Suprema Corte, em seu dia de ser a queridinha de Lula, entra na brincadeira.

STF passou a atuar como instância de aprovação prévia de leis, num regime de concubinato com o governo Lula, em que decisões são moldadas para evitar impopularidade e disfarçar concessões | Foto: Lula Marques/ Agência Brasil
E agora? O Supremo Tribunal Federal foi terminantemente contra a redução da pena de qualquer pessoa — nem por um segundo. Na verdade, eles ainda estão babando por mais punição, mais prisão, mais multas, mais arrastamento, amontoamento e humilhação pública para todos os “golpistas” de Alexandre de Moraes e seus fãs — tanto na corte quanto na mídia. Agora mudaram de ideia: o terrível foi elevado a simplesmente ruim, por razões que nem a Corte nem Lula explicarão. Mas e todos aqueles meses de pregação histérica e linha-dura, jurando que houve uma tentativa de golpe armado com “provas” irrefutáveis, e que dizer o contrário era praticamente um crime de “direitismo bolsonarista”? E os editoriais dizendo que anistia é inaceitável, impensável e inconcebível? Então: sem anistia, mas liberdade condicional é aceitável? Não houve golpe algum? Não faz sentido algum. Mas fazer sentido é a última das preocupações deste regime. O que importa aqui é a força bruta, não a razão. Essa é a regra número um de qualquer ditadura.
O regime de exceção imposto pelo consórcio STF-Lula não tem nada a ver com ideologia. É claro que eles adoram falar sobre “redistribuição de renda”, “políticas públicas” para acabar com a pobreza, ou seja, socialismo em geral. São obcecados por seus slogans pró-igualdade, pró-impostos sobre os ricos e pelas campanhas intermináveis ??para permitir que homens se tornem legalmente mulheres e entrem para o time de basquete feminino — ou para o banheiro feminino. São ferozmente antimudanças climáticas, anti-racismo, anticlasse média — sem contar seu ódio ao agronegócio, aos alimentos processados ??ou às cores nacionais verde e amarelo, agora tachadas de símbolos “fascistas”. Acima de tudo, nutrem um profundo ódio pela classe trabalhadora que ousa sonhar com uma vida melhor. Mas todas essas “causas” são apenas uma cortina de fumaça. Sua verdadeira agenda é muito mais simples.
Vamos chamar as coisas pelo que elas são. Toda essa conversa sobre “propriedade coletiva”, “mais-valia” e os contos de fadas comunistas da velha guarda e barbudos não tem sentido. Ninguém dessa esquerda se importa com “socialismo”, muito menos com a abolição da propriedade privada. Eles estão nisso só para roubar — roubar tudo. Roubar de aposentados idosos, roubar hospitais não construídos e respiradores inexistentes, roubar empregos superfaturados na construção civil, roubar lancheiras para os pobres, e assim por diante. Sociólogos temem ouvir isso, mas fatos são fatos. Em 2003, a esquerda de Lula assumiu o poder — e o roubo começou. E nunca parou até hoje ( veja o artigo de Silvio Navarro nesta edição ).

A atual esquerda brasileira não busca mais o socialismo, mas sim o poder de roubar recursos públicos em todas as esferas desde que chegou ao governo com Lula em 2003 | Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert
Esse é o verdadeiro propósito dessa ditadura bicéfala entre o Supremo Tribunal Federal e o Lula: saquear o Tesouro Nacional em plena luz do dia. A lógica básica é: a corrupção é muito mais fácil, mais lucrativa e mais segura quando apoiada por um regime totalitário — a começar pelos tribunais que decidem quem vai para a cadeia e quem sai impune. Claro, o Brasil sempre foi corrupto, mas o PT e seus comparsas tropeçaram em algo novo: existem dois tipos de corrupção. Uma é a velha guarda: mais cedo ou mais tarde, uma Lava Jato arromba a porta, bilhões seriam apreendidos e os ricos acabariam na cadeia. O outro tipo? Roubar sem chance alguma de Lava Jato ou qualquer risco real à impunidade dos ladrões. Uma vez que a corrupção é protegida, roubar dinheiro do Tesouro Nacional se torna mais seguro do que ir à igreja — e se a ditadura é o preço, então saúde a ditadura! Por que não? Você pode saquear R$ 6 bilhões de aposentados e ninguém perde o emprego. Isso é um jogo totalmente novo.
Hoje em dia, o novo lema do Brasil, mais sagrado que “Ordem e Progresso”, é: “Roube o quanto quiser — o STF te protege”. A essa altura, já existe uma vasta jurisprudência garantindo que ladrões sejam à prova de balas. Mostrar ao Tribunal que você roubou do Estado? Ser absolvido — e quem sabe até receber uma indenização. Se você for ministro, como no caso do roubo da Previdência Social, você mantém seu cargo. Se você for a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Lula se gaba de que o próprio STF está a seu serviço. A premissa básica é: o Estado precisa arrecadar mais impostos para “dar aos pobres”. A realidade: eles privatizam o Estado para seu próprio enriquecimento, e os impostos vão direto para o bolso deles.
O modus operandi clássico (como diria a polícia) era: despejar bilhões em empreiteiras, que devolvem propinas gordas. Ou, na era Lula-Dilma, saquear a Petrobras até a beira da falência — ou investir dinheiro em refinarias de sucata e plataformas submarinas que nunca viram a luz do dia. O terremoto da Operação Lava Jato foi um terremoto único em uma geração — ninguém esperava. De repente, havia delatores, confissões em tribunais e barões da ladra cumprindo pena de prisão de verdade. O sistema teve que se adaptar — prioridade número um: acabar com a Lava Jato. Feito isso, eles redobraram a aposta, tramando uma “Transferência Direta do Tesouro”. Quatro milhões de reais desviados do Tesouro pelos Correios para os bolsos do cantor e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil, só para dar um exemplo.

No governo Dilma, o esquema de corrupção atingiu o ápice com o saque da Petrobras, a compra de refinarias sucateadas e negócios bilionários que nunca foram entregues | Foto: Luiz Gustavo F Rossi/Shutterstock
Mas isso é só uma gota no oceano. Considere a escala completa. Há os R$ 6 bilhões saqueados de idosos, os R$ 20 bilhões entregues à Odebrecht e aos irmãos Batista, golpes de leilão de arroz, assaltos a lancheiras e muito mais, estendendo-se até o fim do mundo. Eles estão roubando tanto, tão rápido, que às vezes nem conseguem roubar tudo. Artistas pró-governo e estrelas de estimação de Lula receberam sinal verde para quase R$ 17 bilhões por meio da Lei Rouanet somente em 2023 — mas eles só conseguiram tirar R$ 2,2 bilhões. Eles não conseguiram roubar nem tanto quanto o governo esperava. Mais uma vez, a Previdência Social estava promovendo um grotesco empréstimo de “adiantamento de salário” — com juros — até que os próprios bancos se opuseram, já que teriam que adiantar o dinheiro. É quase pastelão — se não fosse tão patético.
Tudo isso deixa claro como o dia — e poupa o leitor de uma enxaqueca — a profunda conexão carnal entre o fim da Operação Lava Jato (espancado até a morte pelo Supremo Tribunal Federal para interromper a luta contra a corrupção) e a ditadura improvisada que vemos agora.
Com os figurões do PT e os grandes chefões da ladroagem encarando penas de prisão de verdade, a festa teve que acabar. Para salvar a própria pele (e as contas bancárias), eles simplesmente destruíram o Estado de Direito — para que o Supremo Tribunal Federal, Lula e a esquerda pudessem tomar para si o poder totalitário, que exercem até hoje. Claro, políticos corruptos de fora do PT também se beneficiam, mas quem se importa? O chamado “campo progressista” parou de se preocupar com más companhias e pureza ideológica há muito, muito tempo.
Eis a verdade nua e crua: a esquerda abandonou o mundo dos trabalhadores e mergulhou de cabeça na terra da fantasia das riquezas materiais — tão estranho quanto a Igreja Católica ter abandonado o Credo, a Sagrada Comunhão e o Rosário. Basta olhar para a vida cotidiana e você verá. A maior “causa” de hoje é a semana de trabalho de quatro dias. Mas quem a quer? Não os trabalhadores — não, são os universitários que nunca trabalharam um dia sequer na vida gritando mais alto.
No último Primeiro de Maio, o governo Lula não se deu ao trabalho de realizar nenhum ato público. Não queriam repetir o desastre do Dia do Trabalhador do ano passado — não, preferiam passar o tempo se aproximando de Alexandre de Moraes, dos “Mottas”, dos “Alcolumbres” e dos pilantras que desfalcam o Tesouro Nacional 24 horas por dia.
Houve um tempo — alguém se lembra? — em que o maior mandamento da esquerda era: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”. Sob a junta militar do Supremo Tribunal Federal e de Lula, o slogan é completamente diferente: “Temos que estancar o sangramento”.

A esquerda brasileira trocou trabalhadores por elites políticas e hoje vive em conluio com o STF, tendo até abandonado o Primeiro de Maio | Foto: Ton Molina/ Estadão Conteúdo
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