‘A transição energética é uma farsa’

[Editado por: Marcelo Negreiros]

A demagogia e a panfletagem dos que “governam” o Brasil na atualidade atingem diversas áreas com severidade, mas as de cunho estratégico, como a geração de energia — especialmente a elétrica — demonstram o tradicional despreparo, a desqualificação técnica e lógica, além de uma clara orientação em alcançar metas para cumprir as agendas ambientais e climáticas, altamente prejudiciais e temerárias para o futuro próximo do país.

Exemplos desse engodo não faltam. A União Europeia, seguidora fervorosa da igreja do “aquecimento global”, vem mergulhando há anos em uma condição de caos energético sem precedentes, o que prejudica todas as conquistas obtidas pelo alto avanço tecnológico e industrial de diversos de seus países.

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Parece que as cartilhas mais básicas sobre ciência econômica perderam seus fortes e coesos fundamentos, pois, entre maximizar a eficiência e a produção e minimizar os custos — alcançando excelência em resultados, inclusive ambientais e sociais na escala macro —, tudo foi facilmente e deliberadamente trocado por uma “ciência climática”, cuja robustez é calcada em implicações torpes, colando ou vinculando fragmentos de “um caos ambiental generalizado”, sem a apresentação das devidas evidências que supostamente explicassem algo. Tudo se resume à aplicação do princípio da precaução.

Recentemente, comentamos os problemas que a Alemanha causou no sistema unificado de energia europeu ao fechar suas usinas nucleares. As piores situações ocorreram justamente no inverno, quando a maioria dos moinhos eólicos se congela e passa a necessitar de muito líquido anticongelante pulverizado nos eixos e nas pás (provavelmente, devem ser “altamente ecológicos”, não?!). Nessas épocas, também aumentam as chances de calmarias sobre várias regiões da Europa — e a Alemanha acaba por não escapar delas. O resultado foi o encarecimento vertiginoso do custo de energia por simples falta de geração de base, ou seja, a que podemos considerar firme e permanente.

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A herança de Angela Merkel

Os noruegueses e suecos não gostaram nem um pouco da “brincadeira”, deixada como herança maldita do período em que Angela Dorothea Merkel foi chanceler da Alemanha (de 2005 a 2021). Além de o cidadão norueguês ter de ajudar a pagar a conta dos devaneios climáticos alemães durante o intenso e recente inverno do Hemisfério Norte de 2024-2025, agora, em julho de 2025, na ocasião de seu curto, mas costumeiramente intenso verão, novamente os europeus tiveram de se desdobrar para arcar com os altos custos energéticos para aliviar o calor.

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A Holanda, por exemplo, informou recentemente aos seus cidadãos que a necessidade de racionamento elétrico entrou em sua pauta operacional, pois precisa “aliviar o estresse da rede elétrica”. Detalhe: isso ocorre em pleno século 21, em 2025! Mesmo assim, o país continua a investir pesado em energia eólica e solar e força as pessoas a seguirem medidas de eficiência energética com a finalidade de reduzir o consumo. Isso significa que, além de haver pouca e cara geração de eletricidade, o consumidor ainda tem de apertar o cinto. É a forma que os governos encontraram para seguir a agenda: não produzem eletricidade em abundância, quando a produzem é pelas formas mais caras e ineficientes — todas subsidiadas — e, ainda no final, o cidadão tem de reduzir seu consumo porque os preços são altos. A grande verdade, que se omite do consumidor no mundo inteiro, inclusive no Brasil, é que, desde 2001, quanto mais o consumidor economiza e troca seus aparelhos por versões mais eficientes, mais cara fica sua conta de energia!

Lembremos que a França ainda tortura mais seus cidadãos. Em 2023, conseguiu aprovar medidas draconianas para o uso de energia, tanto para aquecimento quanto para resfriamento. Entre elas, a instalação de sistemas de alimentação residencial distintos entre a eletricidade de uso geral das residências e a destinada ao conforto térmico doméstico. Chegaram ao cúmulo de os termostatos serem literalmente controlados pelo Estado! Usou demais, multa e corte!

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Apagão na Europa

Os problemas não param por aí. Em 2015, Portugal já possuía mais de 5 milhões de toneladas de entulho referentes ao descarte de torres eólicas quebradas, danificadas ou vencidas, além do material estrutural e peças de geradores. O “apagão espanhol” virou uma novela que merece um artigo mais descritivo e específico, pois se tornou um jogo de empurra-empurra entre as empresas geradoras de “energia renovável” e o sistema nacional de distribuição, em que um acusa o outro pelos problemas operacionais de regulação de voltagem, controle de spikes, balanço da rede e interruptores de proteção automáticos.

Amigos se cumprimentam em uma rua comercial iluminada, um dia depois de um grande apagão repentino na Península Ibérica, em Ronda, Espanha - 29/5/2025 | Foto: Jon Nazca/ReutersAmigos se cumprimentam em uma rua comercial iluminada, um dia depois de um grande apagão repentino na Península Ibérica, em Ronda, Espanha - 29/5/2025 | Foto: Jon Nazca/Reuters
Amigos se cumprimentam em uma rua comercial iluminada, um dia depois de um grande apagão repentino na Península Ibérica, em Ronda, Espanha – 29/5/2025 | Foto: Jon Nazca/Reuters

A farra energética acontece somente porque os governos subsidiam o circo elétrico “renovável”. A Alemanha, por exemplo, fez o cidadão pagar a conta por um bom tempo. A promoção dessas energias originou-se nos anos 1990, sendo baseada fortemente, no ano 2000, na Lei das Energias Renováveis (EEG), que estabeleceu uma taxa EEG para transferir os custos crescentes da expansão da “eletricidade verde” para os consumidores numa base pro rata. Com os valores crescendo absurdamente e escancarando a ineficiência e a fraude do sistema — sem falar das falências generalizadas de algumas empresas —, o governo alemão acabou por abolir a taxa em 2022, aliviando os custos de eletricidade aos clientes na forma direta, mas obviamente não na indireta, pois o país continuou bancando o rápido aumento dos custos de energia com o dinheiro dos impostos. Troca-se seis por meia dúzia, mas “faz bonito” para a agenda climática.

No Brasil, não foi diferente. O sistema ineficiente de privatização colocou cláusulas de impossibilidade de prejuízo. Acrescente-se a isso a má geração e a baixa operacionalidade do sistema de distribuição, que se arrasta desde os anos 1990, sem acompanhar o crescimento do país. Ademais, inventaram um apagão climático inexistente entre 2000 e 2001, que criou mais um imposto na conta de energia — e, assim, os brasileiros pagaram o IEE – Imposto Emergencial de Energia até 2009.

Contudo, o custo não se encerra apenas na ineficiente e custosa geração. São necessárias novas instalações elétricas adequadas para realizar as ligações entre os parques e fazendas geradoras até as centrais regionais, que, no caso alemão — um país de 357.592 km² (o Brasil é “só” 23,7 vezes maior) —, exigirá centenas de quilômetros de fios e torres. E não apenas isso: todos os equipamentos necessários para satisfazer a chamada “mecânica de transmissão”, que é uma ciência à parte no mundo da eletricidade, dada sua alta complexidade em gerir corrente, diferença de potencial, capacitância, indutância, reatância, potência etc. Aliás, em todos eles o problema é sempre o mesmo — e isso incluirá o Brasil em breve: a necessidade de melhorias na infraestrutura para manter a estabilidade da rede elétrica.

Valor consta do orçamento preliminar da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) | Foto: Reprodução/PixabayValor consta do orçamento preliminar da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) | Foto: Reprodução/Pixabay
Valor consta do orçamento preliminar da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) | Foto: Reprodução/Pixabay

Se esses são problemas para países ricos, muitos deles com território bem menor, imaginemos para países pobres e gigantes como o Brasil, que sequer conseguem desenvolver uma base industrial porque lhes faltam os recursos mais essenciais — especialmente a energia elétrica. Para piorar, recentemente tivemos a má notícia de que os aumentos na eletricidade brasileira poderão ocorrer acima da inflação, todos os anos. Só para julho e agosto, aumentos entre duas a três vezes a inflação acumulada serão praticados. Tudo isso porque temos que “satisfazer” aquela parte da conta chamada “encargos”, onde o governo mascara o devaneio brasileiro de seguir a agenda climática. Essa parcela, somada aos impostos, chega a 44% da conta.

O fracasso energético na Alemanha

Adicione-se ainda o mesmo problema relatado na Alemanha: fazendas e parques “renováveis” ainda carecem de estruturas de ligação à rede em vários casos — e os custos dessas construções também recaem na conta. A transmissão pode acrescentar mais uns 30%. Sem contar a caridade governamental feita com o dinheiro dos outros para tampar o caixão, pois milhões de pessoas não pagarão mais a conta de energia, enquanto outras arcarão com esse custo. No meio desse processo, ainda temos de ouvir de “especialistas” que o Brasil pode gerar energia eólica seis meses no Norte e depois seis meses no Sul, seguindo o regime de ventos do território. Patético! Temos duas estruturas para manter que geram a potência de uma — portanto, preço dobrado. Afinal, enquanto não gera eletricidade, eles não ficam sem receber!

Bjorn Lomborg, autor de diversos livros, entre eles O Ambientalista Cético, publicou recentemente uma observação que contraria expressamente uma matéria do jornal The New York Times, a qual afirmava que, quanto mais energia solar e eólica implantada, mais barata é a eletricidade. Lomborg mostrou que os dados indicam o contrário. Mesmo com alguns números ainda defasados — pois no Brasil as contas já estão bem mais caras —, observa-se que não há países com muita energia solar e eólica e preços baixos ao mesmo tempo (Fig.1). As fontes incluem preços médios anuais de 2022 a 2025, com raros dados de 2019, abrangendo a Agência Internacional de Energia (IEA), Euro 27 (EU27), entre outras.

Mesmo com alguns números ainda defasados — pois no Brasil as contas já estão bem mais caras —, observa-se que não há países com muita energia solar e eólica e preços baixos ao mesmo tempo (Fig.1) | Foto: Divulgação/Arquivo pessoalMesmo com alguns números ainda defasados — pois no Brasil as contas já estão bem mais caras —, observa-se que não há países com muita energia solar e eólica e preços baixos ao mesmo tempo (Fig.1) | Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
Mesmo com alguns números ainda defasados — pois no Brasil as contas já estão bem mais caras —, observa-se que não há países com muita energia solar e eólica e preços baixos ao mesmo tempo (Fig.1) | Foto: Divulgação/Arquivo pessoal

O Brasil compra petróleo da Rússia — especialmente óleo diesel —, mas também vende petróleo para os EUA. Enquanto isso, o cidadão brasileiro tem seu combustível dolarizado, o que consome significativa fatia do seu orçamento. Ao mesmo tempo, o tão sonhado processo de reindustrialização nacional passa longe de qualquer planilha de investidores, porque simplesmente não somos competitivos — e nunca seremos — com esses preços de energia, base de qualquer indústria robusta. Assim, fica bem claro que a sabotagem estratégica do Brasil é feita por dentro. Seja pelo consumo de combustíveis ou pela geração de eletricidade, pergunta-se: transição energética justa? Sim — justamente para você pagar mais caro!

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[Oeste]

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