google.com, pub-4606529578615391, DIRECT, f08c47fec0942fa0

Acareação no STF na ação do golpe: Entenda as versões diferentes de Mauro Cid e Braga Netto

[Editada por: Marcelo Negreiros]

Delator e réu, o tenente-coronel Mauro Cid e o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil general Walter Braga Netto serão confrontados pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na ação penal do golpe de Estado nesta terça-feira, 24. A acareação será realizada porque os dois apresentaram versões diferentes sobre determinado episódio.

Também ficarão frente a frente para esclarecer pontos divergentes em seus depoimentos o ex-comandante do Exército general Marco Antônio Freire Gomes, testemunha, e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, que também é réu.

Interrogatórios dos réus da ação penal do golpe de Estado Foto: Antonio Augusto/STF

A principal divergência de versões entre Cid e Braga Netto envolve uma caixa de vinho cheia de dinheiro, supostamente entregue pelo general para o ex-ajudante de ordens, para financiar ações do plano golpista.

Foi o ex-ministro da Defesa de Jair Bolsonaro (PL) que pediu a acareação a Moraes, e recebeu autorização para se deslocar do Comando da 1.ª Divisão de Exército, no Rio de Janeiro, onde está preso preventivamente desde dezembro do ano passado, até a sede da Suprema Corte, em Brasília. A acareação está marcada para 10h.

Já entre Freire Gomes e Torres, o ex-comandante disse que o ex-ministro participou de reuniões de teor golpista, o que Torres rechaça. A acareação será na sequência, às 11h.

A seguir, leia os trechos do que foi dito por cada um durante depoimentos e interrogatórios.

Caixa de vinho com dinheiro

O réu colaborador afirmou que Braga Netto entregou a ele uma quantia em dinheiro dentro de uma “caixa de vinho” no Palácio da Alvorada. Cid afirmou que a caixa estava lacrada, mas que sabia que ali havia dinheiro, e que acredita ter repassado o objeto no mesmo dia para o major Rafael de Oliveira, quem supostamente orçou e organizou o plano Punhal Verde e Amarelo, para matar autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.

“E aí depois, acho que, realmente o espaço temporal não me recordo, o general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu também não sei precisar quanto foi, mas com certeza não foi os cem mil, porque até pelo volume não era tanto, eu peguei assim um… Então, que foi passado para o major de Oliveira, no próprio Alvorada”, disse Cid a Moraes no interrogatório no último dia 9.

Cid negou que sabia do plano antes de a investigação ser divulgada na imprensa, e também disse não saber a origem do dinheiro, mas que “provavelmente” poderia ter vindo do “pessoal do agronegócio”. O tenente-coronel disse que escondeu o dinheiro junto à sua mesa no Palácio da Alvorada e que a entrega poderia ter ocorrido na garagem ou em um corredor.

Já o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil negou ter entregue dinheiro a Mauro Cid em uma “sacola de vinho” ou de qualquer outra forma. Braga Netto afirmou que Cid o procurou para perguntar se o PL poderia conseguir algum recurso para a “campanha”, segundo teria dito Cid, e que o general direcionou o pedido do então ajudante de ordens ao tesoureiro do partido.

O tesoureiro, por sua vez, informou que não havia amparo para fornecer o dinheiro solicitado por Cid. A resposta de Braga Netto a negativa teria sido “então morre o assunto”, segundo ele.

“E morreu o assunto. Eu não tinha, como eu disse ao senhor, contato com empresários. Então, eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid”, disse o ex-ministro em interrogatório no dia 10. Moraes, então, questionou especificamente sobre a caixa de vinho, e recebeu nova negativa de Braga Netto, que também negou ter conhecimento sobre o plano Punhal Verde e Amarelo.

Reunião na casa de Braga Netto

Durante interrogatório no início do mês, Cid afirmou que ocorreu uma reunião em 12 de novembro de 2022 na casa do general Braga Netto, da qual ele teria participado por no máximo 15 minutos. A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que na ocasião foi discutido o plano para o assassinato de autoridades, como o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice Geraldo Alckmin (PSB). Segundo narrou o ajudante de ordens, no momento em que sairia do encontro, ele foi informado pelo general que “seriam tomadas medidas operacionais” e, por Cid ser muito ligado a Bolsonaro, seria bom que não participasse.

“Basicamente, eles estavam insatisfeitos com o rumo do processo eleitoral, insatisfeitos com o rumo que até as Forças Armadas estavam tratando esses assuntos. Foi uma conversa nesse nível, inicialmente desse nível, o que poderia ser feito, o que deveria ser feito, sempre nessa toada. Mas não teve nada, naquele momento que eu estava presente, de radicalismo ou de planejamento, ou de apresentação formal de alguma ideia ou de alguma ação”, disse Cid durante o interrogatório.

Sobre a ocasião, o ex-comandante do Exército disse durante seu depoimento que se tratou de uma “visita”, em que Cid apareceu com “dois forças” que queriam o conhecer. Eram eles o coronel Hélio Ferreira Lima e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, “kids pretos” que estão presos preventivamente.

Braga Netto disse que não tinha costume de receber visitas em casa, mas que após a campanha eleitoral de 2022 passou a dar atenção aos apoiadores.

“O assunto, eles chegaram perguntando, tocou-se em assunto da intervenção, assuntos operacionais, alguma coisa que tinha sido feita, que eu prefiro não comentar. Tocaram no assunto do que eu estava fazendo, do que eu iria fazer, achavam que tinha sido… Ficaram tristes, porque nós perdemos a eleição. Perguntaram onde eu estava trabalhando, e eu falei: ‘Eu já estou trabalhando no Partido Liberal’. Foi genérico. Eles não tinham intimidade para entrar em assuntos detalhados, delicados comigo, não tinham essa intimidade”, disse Braga Netto em depoimento em maio.

Reuniões golpistas

  • Versão de Anderson Torres

O ex-ministro da Justiça de Bolsonaro negou categoricamente ter participado de qualquer reunião com militares para discutir a decretação de um estado de exceção após as eleições de 2022 ou para assessorar juridicamente o então presidente nesse sentido. Moraes questionou Torres diretamente sobre o tema, no que recebeu negativas do ex-ministro.

Anderson Torres em interrogatório no STF Foto: Ton Molina/STF

“Com todo respeito, já adianto um pouquinho, eu vi nos autos que disseram que participei de reunião com os comandantes. Eu nunca participei de reunião com os comandantes de força para tratar desse tipo de assunto e nem nenhum outro tipo de assunto com eles”, disse Torres ao relator.

Por outro lado, o general Freire Gomes afirmou que teve contato “muito reduzido” com Torres, mas que o então ministro participou “algumas vezes” das reuniões para discutir as medidas de exceção após a derrota eleitoral de Bolsonaro.

“O meu contato com o ministro Anderson Torres foi um contato muito reduzido. Ele, sim, esteve algumas vezes. A maioria das vezes que nós nos reuníamos, os comandantes, com o senhor presidente da República, eram assuntos militares, mesmo em se tratando dessas questões eleitorais. E o ministro Anderson Torres, no meu depoimento, eu afirmo que ele participou, acho que uma ou outra vez, muito rara, apenas para assessorar o presidente nos aspectos jurídicos do que estava sendo apresentado. Em nenhum momento, que eu me lembre, ele interferiu ou quis estimular qualquer coisa. E eu nunca tive nenhum contato em paralelo com ele. Então, o que eu posso falar é isso”, disse Freire Gomes ao procurador-geral da República, Paulo Gonet.

‘Minuta do golpe’

  • Versão de Anderson Torres

Após ouvir do ex-ministro as negativas sobre ter participado de reuniões que discutiam o que poderia ser feito para reverter o resultado eleitoral de 2022, Moraes questionou Torres sobre por que a “minuta golpista” foi encontrada na mesa dele.

“Na verdade, ministro, não é a minuta do golpe. Eu brinco que é a minuta do Google, porque está no Google até hoje. Esse documento foi entregue no meu gabinete, no Ministério da Justiça”, afirmou, dizendo que recebeu o papel, mas nem chegou a lê-lo.

“Eu nunca tratei isso com o presidente da República, eu nunca tratei isso com ninguém, isso veio até o meu gabinete no Ministério da Justiça, foi organizado pela minha assessoria, que isso veio num envelope dentro, foi parar na minha casa, mas eu nunca discuti esse assunto, eu nunca trouxe isso à tona, isso foi uma fatalidade que aconteceu, porque era para ter sido destruído há muito tempo, eu nunca trabalhei isso. O documento era muito mal escrito, cheio de erro escrito lá, estava escrito errado. Então, não é da minha lavra, não sei quem fez, não sei quem mandou fazer, e nunca, nunca, nunca discuti esse tipo de assunto”, completou.

O ex-comandante detalha reuniões em que o conteúdo da minuta golpista teria sido discutido, em que a previsão de estado de defesa e prisões de autoridades foram apresentadas para “estudo”.

General Freire Gomes, almirante Almir Garnier e brigadeiro Carlos Baptista Júnior teriam participado de reuniões em que conteúdos golpistas foram apresentados pelo então presidente não-reeleito Jair Bolsonaro Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

“Como nós não sabíamos da pauta e esses considerandos, aquele documento, aquele apanhado de considerandos nos foi apresentado, nós não tínhamos, eu, particularmente, não tinha condição de avaliar aquele assunto ainda. O presidente apenas apresentou, nos informou, como eu falei anteriormente, de que ele estaria estudando o assunto juridicamente e não nos perguntou de opinião. Então, nós tomamos conhecimento que ele falou que voltaria a conversar conosco após aprofundar um pouco mais os aspectos jurídicos”, disse a Gonet.

Embora o ex-comandante do Exército não diga que Torres estava presente nessa reunião, a existência e a discussão da minuta em reuniões de alto nível, com o presidente e militares, contradizem a versão de que o documento possa ter sido encontrado na internet e levado para casa sem contexto de discussão de ruptura institucional.

[Por: Estadão Conteúdo]

Source link


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Comente a matéria:

Rolar para cima