Ações da Petrobras caem com volta ao GLP: risco de intervenção?

O conselho de administração da Petrobras anunciou, na quinta-feira (7), o retorno ao segmento de distribuição de combustíveis. O foco inicial será o gás liquefeito de petróleo (GLP), o popular gás de cozinha. A medida levantou questionamentos entre investidores sobre os efeitos nos resultados da companhia.

Uma das principais preocupações é com a possibilidade de interferência nos preços por parte do governo, comprometendo o retorno dos investimentos. As ações da empresa estão nos menores níveis do ano. A queda chega a 17%.

O retorno da Petrobras à distribuição de GLP: decisão estratégica ou política?

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) celebrou a decisão como uma “vitória dos trabalhadores” e um passo estratégico para fortalecer a presença da estatal em uma atividade essencial para os brasileiros.

A entidade, que contribuiu para incluir a proposta no plano de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, defende que a Petrobras volte a atuar também na distribuição de gasolina, diesel, álcool e lubrificantes – função antes desempenhada pela BR Distribuidora, privatizada em 2021.

O argumento da disparidade de preços ao consumidor

Um dos principais argumentos para o retorno da Petrobras à distribuição está na dinâmica de preços ao consumidor. Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) revelam que, entre janeiro de 2023 e abril de 2025, os preços nas refinarias da Petrobras caíram, mas as distribuidoras não repassaram integralmente essas reduções ao consumidor final.

A gasolina aumentou 25,5% no período, enquanto o diesel S10 e o GLP tiveram reduções mínimas de 2,3% e 0,7%, respectivamente. Essa disparidade se manteve até 5 de agosto, com a gasolina ao consumidor subindo 21,1%, apesar das quedas nas refinarias.

Dentro do Plano Estratégico da companhia, as diretrizes para distribuição são claras:

  • atuar em negócios rentáveis através de parcerias,
  • focar na distribuição de GLP,
  • integrar-se com demais negócios no Brasil e no mundo, e
  • oferecer soluções de baixo carbono aos clientes.

A reação do mercado: queda nas ações e incerteza nos dividendos

Enquanto a FUP celebra, o mercado financeiro analisa os desdobramentos com base nos resultados do segundo trimestre de 2025. Analistas da Suno Research, Safra e XP Investimentos concordam que a performance operacional da empresa no segundo trimestre foi sólida e em linha com as expectativas. A produção de petróleo cresceu 4,8%. O lucro líquido ficou entre US$ 4,7 bilhões e US$ 4,8 bilhões, e a geração de caixa (EBIDTA) ajustada alcançou US$ 10,2 bilhões, ambos dentro do esperado.

Fluxo de caixa está pressionado e ameaça rendimentos de acionistas

A surpresa negativa veio do nível de investimento (capex), que foi maior do que o projetado. A XP Investimentos observou um capex de US$ 4,1 bilhões, levemente acima das expectativas.

A Genial Investimentos destacou que a Petrobras agora planeja investir 100% do prometido em seu planejamento estratégico, um aumento significativo em relação ao histórico de 70% a 80%. Esse ritmo acelerado pressionou significativamente o fluxo de caixa livre, que caiu 24% na comparação trimestral.

O reflexo direto dessa pressão foi a redução nos dividendos. A remuneração aos acionistas para o segundo trimestre foi de US$ 1,6 bilhão, abaixo das estimativas do mercado e inferior ao valor distribuído no primeiro trimestre. O rendimento de dividendos ficou entre 2,0% e 2,1%. A empresa indicou que não haverá espaço para dividendos extraordinários, frustrando investidores que esperavam ganhos de curto prazo mais robustos.

O fantasma da interferência nos preços e a governança

Analistas do banco Safra apontam que a possível entrada da Petrobras na distribuição de GLP pode “abrir espaço para interferência nos preços de venda, comprometendo os retornos e levando investidores a ignorar proteções de governança”.

A XP Investimentos pontuou que a companhia deve observar as disposições contratuais vigentes, referindo-se à cláusula de não concorrência com a Vibra Energia. Essa cláusula impede a Petrobras de atuar na distribuição de combustíveis líquidos antes de meados de 2029, limitando sua volta inicial ao GLP. A efetivação dessa estratégia é esperada apenas a partir de 2026.

Apesar dos fortes fundamentos operacionais, as ações da estatal estão bem mais baratas do que os seus pares globais. Segundo o analista Vitor Souza, da Genial Investimentos, considera a empresa é “um pouco injustiçada”. Ele ressalta que a Petrobras entrega rentabilidade, fluxo de caixa e dividendos superiores aos seus pares estatais e até a alguns privados internacionais, impulsionada pelo baixo custo de extração no pré-sal (cerca de US$ 4 por barril) e pela distribuição de mais de R$ 500 bilhões em dividendos nos últimos cinco anos.

Petrobras: uma gigante com ações baratas ou um ativo permanentemente arriscado?

A percepção de risco permanece elevada. A natureza estatal da empresa, operando em um país que exige prêmios de risco maiores para investimentos, somada a decisões como a expansão para áreas historicamente menos rentáveis (como eólicas offshore, postos de combustível e botijão de gás) e as mudanças na Lei das Estatais, contribuem para que o mercado tenha dificuldade em “destravar valor” no ativo.

Analistas de mercado apontam que as perspectivas de longo prazo não mudam, mas a forma como a gestão lidará com os investimentos em distribuição e a política de dividendos será fundamental para a percepção do mercado.

[Gazeta do Povo]

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