[Editada por: Marcelo Negreiros]
A reunião entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, provavelmente nesta semana, pode resultar numa guinada estonteante não apenas nas relações entre EUA e Brasil, mas na própria política interna brasileira. Trump extrapolou limites para defender Jair Bolsonaro e obteve o efeito oposto. Se a reunião com Lula for minimamente satisfatória, pode significar (ou ser assimilada como) o abandono do ex-presidente.
A ótima reportagem de Felipe Frazão no Estadão, com os bastidores do encontro de Trump e Lula, deixa evidente que não foi um esbarrão casual no acesso ao púlpito da ONU, mas um movimento diplomático muito bem articulado pelos dois países, com Mauro Vieira e Geraldo Alckmin na linha de frente.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, vê discurso de Lula durante assembleia geral da ONU Foto: UN Photo/Mark Garten
Assim como o rápido encontro na ONU, a reunião formal vem sendo milimetricamente detalhada, para excluir o inconciliável e focar nos interesses comuns. O grande trunfo de Lula são as “terras raras”, que têm muito mais valor para Trump do que um ex-presidente inelegível e condenado.
Trump pode estar só trucando, mas a “química” e a guinada em direção a Lula têm potencial para ser a pá de cal nas tentativas tão desesperadas quanto inúteis da família Bolsonaro de usar a maior potência mundial para tentar, primeiro, impedir a condenação e, agora, evitar a prisão do ex-presidente.
Os EUA aplicaram 50% de tarifa em produtos brasileiros, a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, a suspensão de vistos de juízes e autoridades, mas o devido processo legal correu sem uma vírgula de desvio e Lula foi quem se deu bem. Se Trump se aproximar realmente dele, vai queimar pestanas por Bolsonaro?
O clã vem de derrota em derrota e a próxima está a caminho: a cassação de Eduardo Bolsonaro pelo Conselho de Ética da Câmara, com ótimos motivos e o beneplácito de Hugo Motta, que abriu a porta para o processo, ao sustar o absurdo de transformá-lo em líder da Minoria, a muitos quilômetros de distância, em outro País.
De outro lado, Lula recupera energia eleitoral, tem forte chance de ver seu discurso pela soberania desaguar na abertura de negociações com Trump e é o maior beneficiário da volta das esquerdas à rua. Pode ter sido pontual, pode ter vindo para ficar.
Ao concordar com a “química” entre ambos, Lula disse que ele e Trump são dois homens de 80 anos “e não existe espaço para brincadeira”. Eles dividem pragmatismo, vaidade e megalomania e Trump pensa com o bolso e com a popularidade. Vai apostar no passado do Brasil, ou investir no presente? E o futuro? Quanto mais os Bolsonaros definham e Lula se fortalece, menos Tarcísio é candidato à Presidência em 2026.
[Por: Estadão Conteúdo]
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