Todos os anos, esses peixes nadam cerca de 1,3 mil km a partir de seu habitat rotineiro, nas redondezas do Círculo Polar Ártico, para pôr seus ovos no litoral do condado norueguês de Møre, onde o clima primaveril ameno é muito mais propício à sobrevivência dos filhotes.
Nos países escandinavos, que apreciam muito o bichinho na culinária, os pescadores são orientados a capturar apenas arenques mais velhos, para que os jovens tenham tempo de crescer e se reproduzir. O objetivo é manter a população da espécie estável, sem risco de extinção pela exploração desenfreada.
O problema é que arenques têm uma tradição cultural particular: os peixes mais velhos precisam mostrar as rotas migratórias para os filhotes. Esse é um dado transmitido por aprendizado, que não depende de predisposição genética. Ou seja: se os anciões viram almoço, a juventude perde o rumo. E esse fenômeno pode causar disrupções perigosas nas cadeias alimentares da região.
Houve um declínio de 68% na biomassa de peixes mais velhos: de aproximadamente 4,0 milhões de toneladas em 2019 para 1,3 milhão de toneladas em 2023. Os arenques recém-nascidos mudaram de rota pela primeira vez em 2016, trocando More por Lofoten, 800 km ao norte. Esse caminho alternativo se tornou cada vez mais proeminente a partir de 2021, e hoje é a escolha majoritária dos peixes.
O estudo usou dados colhidos entre 1995 e 2024 das indústrias pesqueiras da Noruega, Islândia e Ilhas Faroe, que dão um retrato minucioso de cerca de 80% do total de arenque pescado legalmente nas últimas três décadas (a captura dessa espécie com finalidade comercial é reportada ao Conselho Internacional de Exploração dos Mares).
Os pesquisadores também usaram dados de 202 mil arenques equipados com tags de rastreamento via transponder e de levantamentos dos cardumes realizados com sonares.
Agora que o padrão migratório mudou de vez, é pouco provável que seja possível revertê-lo para a situação original, pré-2021: a nova geração de arenques ensinará seus próprios filhotes que Lofoten é o destino certo. Os pesquisadores ainda não conseguem prever quais serão as consequências exatas desse fenômeno, mas é evidente que ele afetará tanto as cadeias alimentares como a atividade econômica no litoral norueguês.
[Por: Superinteressante]
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