Bastidores: com BB independente, mudança na vice-presidência de agro surpreende governo e mercado

[Editada por: Marcelo Negreiros]

A mudança na vice-presidência de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, anunciada pela instituição financeira na semana passada, surpreendeu tanto o governo quanto o mercado. O banco anunciou que o atual subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Gilson Bittencourt, foi indicado para o cargo em substituição a Luiz Gustavo Braz Lage.

Nos bastidores, desde autoridades da Esplanada dos Ministérios até diretores de instituições financeiras ouvidos pela Coluna do Estadão/Broadcast Agro classificaram a “dança das cadeiras” como inesperada.

Até mesmo pares de Bittencourt na equipe econômica se disseram surpresos com a sua ida para o BB, dada a independência da gestão do banco público. De ministros a técnicos, a avaliação que predominou nos bastidores em Brasília é de compatibilidade do perfil de Bittencourt com o desafio de liderar a maior carteira de crédito agro do País dada a conjuntura “desafiadora” atual do segmento.

Diretores de agronegócios em bancos privados e cooperativos, que tratam do Plano Safra e de questões regulatórias com o subsecretário da Fazenda, também se mostraram admirados com a mudança, apesar do histórico de ex-subsecretários da Fazenda assumirem a vice-presidência do banco.

Um dos interlocutores avalia que a mudança de perfil na gestão pode estar relacionada aos resultados recentes do BB. “A troca é sintomática. Bittencourt é conhecido pela gestão dura, austeridade e rigor na concessão de crédito”, aponta um técnico, colega de Bittencourt na Esplanada. “Ele é de perfil técnico. Será um bom nome”, avalia um diretor de agronegócio de um banco privado. Liderança de entidade que representa o setor produtivo destaca a “ampla expertise” em crédito rural e “conhecimento das particularidades do agronegócio” de Bittencourt.

Bittencourt é agrônomo formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em Análise de Políticas Públicas pela Universidade do Texas/EUA, e mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Desde janeiro de 2023, ocupa o cargo de Subsecretário de Política Agrícola e Negócios Agroambientais do Ministério da Fazenda. Atualmente também é membro do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Conselho de Administração da Livelo.

De volta ao Executivo desde 2023, foi um dos principais nomes responsáveis pela elaboração do Plano Safra nos últimos três ciclos. Também conduziu, pela Fazenda, mudanças regulatórias ligadas a títulos do agronegócio, o endurecimento de regras quanto à concessão de crédito rural para produtores com embargo ambiental e revisões no Manual de Crédito Rural.

É visto por alas do governo e do setor produtivo como o “leão do caixa” em discussões de renegociações de crédito rural. “É o nome adequado para este momento difícil de endividamento crescente no campo”, reconheceu um ministro à reportagem. Além disso, é tido como um nome de confiança do Executivo com bom trânsito na área econômica e agrícola.

Em nota à imprensa, após o fato relevante na última terça-feira, a presidente do BB, Tarciana Medeiros, afirmou que a “indicação segue o foco do banco em alinhar perfis de liderança às exigências de cada negócio em especial o atual cenário e os desafios que temos para manter e ampliar o protagonismo do BB no agro”.

O desempenho do BB vem sendo afetado pela carteira agro, que responde por um terço da carteira total do banco, cuja inadimplência alcançou 3,04% ao fim de março. O aumento da inadimplência do segmento com uma onda de recuperações judiciais pressionou os resultados do banco no primeiro trimestre deste ano, que até mesmo suspendeu o seu guidance.

Os interlocutores ouvidos reconhecem a boa gestão de Braz Lage à frente da operação de agronegócio do banco desde maio de 2023 como sendo responsável pelo crescimento da atuação do banco no setor. No mercado, seus pares apontam a conjuntura do agronegócio como o “entrave” para melhores resultados. Líder em crédito rural no País, com cerca de 50% do mercado, a carteira agro do Banco do Brasil chegou a R$ 406,2 bilhões ao fim do primeiro trimestre deste ano.

Fachada de agência do Banco do Brasil em São Paulo Foto: Alex Silva/Estadão

[Por: Estadão Conteúdo]

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