[Editada por: Marcelo Negreiros]
A ação conjunta dos presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), para votar e derrubar o decreto de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), nesta quarta-feira, 25, deixou um recado claro ao governo: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está cada vez mais abandonado pela própria base aliada, e o Congresso não está disposto a pagar a conta da impopularidade da atual gestão.
Afinal, ao chegarem às bases no período de festas juninas, os parlamentares constataram as queixas de prefeitos, irritados com obras paradas, e de eleitores insatisfeitos com a economia. E, diante da relação deteriorada com o Planalto, não justificaria tamanho esforço para ajudar o governo.

Apesar de o Planalto ter reagido com surpresa à decisão de Motta e Alcolumbre, a crise na relação com o Legislativo é antiga. Além disso, nos últimos dias, o próprio Lula fora informado sobre ao menos quatro fatores que levariam a essa implosão, segundo lideranças partidárias.
A cúpula do Congresso reclamou que o governo envia projetos sem combinar; não cumpre acordo para a liberação de verbas e que o presidente Lula não seguiu o prometido de tentar intermediar um acordo com o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), para o pagamento de emendas.
Para piorar, parlamentares entendem que, na tentativa de driblar a impopularidade, o governo agora adotou o “Lula X Congresso”, e teria escalado o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como porta-voz para disparar as críticas. Então, eles também se queixaram ao Planalto dos discursos que acusam os congressistas de tentarem achacar o governo ou de não se importarem com o ajuste fiscal.
Queda de braço terá novos capítulos, apostam líderes
A derrubada do decreto do aumento do IOF foi apenas uma amostra de que a crise entre governo e Congresso chegou a um ponto de difícil reversão. A tendência, afirmam lideranças de partidos que hoje ocupam ministérios, é de novos capítulos da queda de braço.
Um dos principais motivos para essa aposta é porque o governo Lula havia avisado que a derrubada do IOF provocaria o bloqueio de pagamentos de emendas parlamentares. A mensagem foi reforçada publicamente, nesta quarta-feira, pela ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. A ameaça, no entanto, só serviu para inviabilizar ainda mais o diálogo.
Câmara e Senado derrubaram aumento do IOF com apenas 1h20 de intervalo entre as votações nas duas Casas
O acordo entre Hugo Motta e Davi Alcolumbre para passar o recado ao governo Lula foi tão bem amarrado que apenas uma hora e vinte minutos depois de a Câmara derrubar o decreto de aumento do IOF, por 383 votos a 98, o plenário do Senado também fez o mesmo, só que em votação simbólica.
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[Por: Estadão Conteúdo]
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