[Editada por: Marcelo Negreiros]
O ritmo se acelerou. Havia um calendário – digamos assim – para a condenação de Jair Bolsonaro. Até certa previsibilidade. Calendário informal público; que estava plantado na imprensa e pacificado no debate, assentado também nos cálculos para projeção eleitoral: o ex-presidente seria julgado entre setembro e outubro de 2025. E de repente essa aceleração, materializada nas medidas cautelares determinadas contra ele.
O chão, nunca estável, está – ficou – especialmente movediço. Não existe previsibilidade neste Brasil.
Impossível não considerar – como elemento deflagrador das restrições – o que terá havido de novidade desde a semana passada: a crescente carga de Donald Trump, instrumentalizando o poder comercial dos EUA, afinal contra a economia do Brasil; o que Lula chamou de “chantagem inaceitável em forma de ameaça às instituições brasileiras”. Crescente carga de Trump – incentivada pelos Bolsonaro, em prol da família Bolsonaro. Na prática: contra Bolsonaro.
Os bolsonaristas miraram em punições individuais a ministros do Supremo; colheram potencial prejuízo ao Brasil – e uma tornozeleira eletrônica no líder.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, foi alvo de ações da Polícia Federal Foto: Werther Santana/Estadão
Relação de causalidade. Ontem, quinta, o presidente dos EUA divulgou carta a Bolsonaro em que vai reafirmada, em termos ainda mais explícitos, a fundamentação política do tarifaço. Reafirmado o objeto da sanção – da chantagem. Os imprevisíveis são previsíveis.
Impossível não considerar – como elemento decisivo às cautelares contra Bolsonaro – o que seria uma resposta do Estado brasileiro ao programa de intimidação de Trump. Alexandre de Moraes não recuará. Os imprevisíveis são previsíveis. Acelera. Acelerará. É como reage. E encaixou, no conjunto de restrições ao ex-presidente, o extremo de proibir o uso de redes sociais – o que significa tirar do sujeito a palavra em arena pública. Grave. Nenhuma novidade. Em nome da democracia, há censura – prévia – no Brasil.
Há censura. Não há santos.
Fala-se em possibilidade de fuga. De obstrução de justiça. De coação no curso do processo. Seriam as explicações formais para o conjunto de medidas. Tudo é crível. Bolsonaro se mexe. O filho não está nos EUA sem financiamento. Tudo agravado – todos esses riscos avolumados – pela sucessão recente de manifestações contra a soberania nacional.
Manifestações que têm musculatura projetada em sanção econômica contra o Brasil – que, se confirmada, abalará produção e emprego entre nós. Manifestações de Trump, estimuladas pelos Bolsonaro – em prol de Bolsonaro. Contra Bolsonaro, na prática. Manifestações de Trump, estimuladas pelos Bolsonaro – em prol dos Bolsonaro e contra os interesses do país.
Jair Bolsonaro não levaria doravante uma tornozeleira eletrônica não fossem as gestões de Donald Trump. A chance de prisão preventiva, que antes não se avistava, agora desponta no horizonte.
[Por: Estadão Conteúdo]
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