Bolsonaro vai ser julgado por racismo nesta terça-feira

[Editado por: Marcelo Negreiros]

Menos de uma semana depois de ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro deve enfrentar novo julgamento nesta terça-feira, 16. O processo será analisado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), com sede em Porto Alegre, e trata de uma ação civil pública por “declarações públicas de preconceito, discriminação e intolerância contra pessoas negras”.

A ação foi movida pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Defensoria Pública da União (DPU) contra Bolsonaro e a União, conforme informações do jornal Estado de S.Paulo. Em caso de condenação, não há possibilidade de prisão, mas o pagamento de indenização.

+ Leia mais notícias de Política em Oeste

O pedido é para que o ex-presidente desembolse pelo menos R$ 5 milhões a título de indenização coletiva. Já a União pode ser condenada a pagar R$ 10 milhões. Conforme os autos, como o dano teria sido causado à sociedade, os valores seriam destinados a um fundo público.

O processo foi ajuizado em julho de 2021, quando Bolsonaro ainda era presidente da República. Em primeira instância, o pedido foi negado. O recurso apresentado ao TRF-4 resultou no julgamento agora marcado para terça-feira.

Declarações de Bolsonaro em diferentes ocasiões

Segundo a ação, Bolsonaro fez as declarações consideradas discriminatórias em três momentos distintos: 4 e 6 de maio de 2021 e 8 de julho do mesmo ano. Além disso, teria reforçado os comentários em uma transmissão ao vivo feita em suas redes sociais, conhecida como “live do presidente”.

Em 8 de julho, por exemplo, Bolsonaro comparou o cabelo crespo de um apoiador negro a um “criatório de baratas”, enquanto ria. O então presidente acrescentou: “Você não pode tomar ivermectina, vai matar todos os seus piolhos”. O apoiador, alvo da fala, declarou na época não se sentir ofendido por não se considerar um “negro vitimista”.

Leia mais:

Dois meses antes, em 6 de maio, Bolsonaro já havia feito piada semelhante com o mesmo apoiador, ao dizer: “Tô vendo uma barata aqui”. Em 4 de maio, também indagou outra pessoa com cabelo crespo: “O que que você cria nessa cabeleira aí?”.

Na live transmitida em 8 de julho, Bolsonaro convidou o apoiador a participar e repetiu as falas com frases como “Se eu tivesse um cabelo desse naquela época, minha mãe me cobriria de pancada”, “Você toma banho quantas vezes por mês?” e “Se criarem cota para feios, você vai ser deputado federal”.

Argumentos do MPF e da DPU

Para o MPF e a DPU, os episódios não se limitam a uma ofensa individual, mas constituem “verdadeira ofensa estigmatizante de discriminação e intolerância a qualquer pessoa negra”. Em um dos trechos, as instituições afirmam que Bolsonaro “visa a transmutar um elemento de afirmação da identidade negra em algo sujo, execrável e que identifica um padrão fenotípico da população negra como algo que a subjugasse a uma posição social inferior, em evidente comportamento discriminatório”.

A ação também cita outras declarações de Bolsonaro ao longo da vida pública, utilizadas como prova de que não se tratariam de fatos isolados. Um exemplo é de abril de 2017, quando ele era deputado federal: “Fui num quilombo, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas” recordou. “Não fazem nada! Acho que nem para procriador ele serve mais.”

Jair Bolsonaro com o apoiador Maicon Sullivan | Foto: Instagram/ReproduçãoJair Bolsonaro com o apoiador Maicon Sullivan | Foto: Instagram/Reprodução
Jair Bolsonaro com o apoiador Maicon Sullivan | Foto: Reprodução/Instagram

Segundo os autores da ação, esse comportamento teria influenciado membros do alto escalão do governo a adotar condutas igualmente discriminatórias, o que configuraria, nas palavras da petição, “notória dissonância do dever do Estado Democrático de Direito de enfrentamento ao racismo e à desigualdade racial”.

Além da indenização, o processo pede que Bolsonaro seja obrigado a não cometer novos atos discriminatórios, a realizar retratação pública à população negra e a retirar de seus canais oficiais vídeos com manifestações racistas.

Leia também: “A ofensiva da censura”, reportagem de Branca Nunes publicada na Edição 141 da Revista Oeste

[Oeste]

Conteúdo Original


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Comente a matéria:

Rolar para cima