O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que, a partir do dia 1º de agosto, vai taxar produtos brasileiros em 50%. Em abril, o Brasil já havia tido seus produtos taxados em 10% pelo governo norte-americano.
Diante da taxação iminente, o governo brasileiro tem buscado o diálogo com a Casa Branca para reverter o tarifaço. A ordem executiva, no entanto, ainda não chegou ao governo brasileiro.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na última quinta-feira (24/7) que, além de apostar na mesa de negociações para resolver o impasse, a área técnica envolvida nas tratativas, que envolve a Fazenda, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MIDC) e Ministério das Relações Exteriores (MRE), preparou uma série de medidas que podem ser acionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caso o tarifaço se concretize.
De acordo com ele, as medidas serão apresentadas ao presidente a partir da próxima semana. “O papel técnico está feito, a decisão política não está tomada porque cabe a ele [Lula] ouvir os seus colaboradores”, disse Haddad.
Ele disse que o presidente pediu que a área técnica elaborasse um “cardápio” com todas as medidas possíveis e imagináveis para defender a soberania nacional. De acordo com ele, após ouvir os ministros palacianos, Lula deve tomar a decisão que será melhor e mais conveniente para o país.
Durante as últimas semanas, o governo tem ouvido representantes dos setores produtivos para encontrar alternativas e maneiras de negociação ao tarifaço de Trump.
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Geraldo Alckmin, vice presidente da República em coletiva de imprensa
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Geraldo Alckmin fala sobre como reverter situação do tarifaço
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O vice-presidente Geraldo Alckmin participou de uma reunião com a Amcham, Câmara de Comércio Americana
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Geraldo Alckimin fala sobre como reverter tarifas impostas pelos EUA
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Negociações com os Estados Unidos
Haddad avaliou que as conversas com o governo norte-americano estão acontecendo a nível técnico. Segundo ele, o governo Trump tem sido centralizador sobre a questão, o que dificulta as negociações. No entanto, ainda na tarde da última quinta-feira (24/7), o vice-presidente Geraldo Alckmin afirmou que o governo brasileiro conversou com o secretário de comércio dos EUA, Howard Lutnick, no sábado passado (19/7).
O ministro da Fazenda disse também que o Brasil nunca saiu da mesa de negociação com o governo norte-americano e que não criou o problema, mas vai trabalhar para resolver. Ele explica que as empresas brasileiras nos Estados Unidos estão se mobilizando e acionando a justiça americana para que os contratos com indústrias brasileiras possam ser honrados.
Haddad faz apelo e culpa família Bolsonaro
O ministro disse que a família do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores estão dificultando e impedindo as negociações com a Casa Branca. Para ele, a taxação foi motivada pela interferência desses interlocutores e por preocupações norte-americanas com o sistema do Pix.
“Essas pessoas deveriam se mobilizar junto ao Bolsonaro para que parem de militar contra o Brasil, porque eles estão prejudicando o Brasil”, disse. Ele apontou que os países já estariam na mesa de negociação se não fosse a intervenção dos apoiadores de Bolsonaro.
Por fim, Haddad pediu que esses apoiadores “saiam do caminho e não impeçam a negociação”.
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Minerais críticos
O setor de mineração brasileiro se reuniu com o encarregado de negócios da embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, para tratar sobre um possível acordo de cooperação entre os países. O encontro aconteceu em meio às negociações do governo brasileiro sobre as tarifas de 50% impostas por Trump.
A indústria de mineração é estratégica para os EUA, em um momento em que o país almeja ser menos dependente da China nesse mercado. A expectativa do governo brasileiro é que o setor receba um tratamento diferenciado nas tratativas comerciais entre os países.
Questionado sobre essas negociações, Alckmin disse que essa é uma pauta longa e que pode ser explorada, mas não deu mais detalhes sobre futuros acordos.
Nesta sexta-feira (25/7), o presidente Lula afirmou que o país protegerá o ouro e os minerais ricos do Brasil. “Ninguém põe a mão, este país é do povo brasileiro”, disse durante um evento que aconteceu em São Paulo.
Apelo a população americana
Interlocutores afirmam que a intenção do governo é que a população norte-americana também se sensibilize às medidas impostas ao Brasil. A ideia é que os americanos tenham entendimento que as tarifas vão causar aumento de preços e de inflação no país.
Haddad afirmou que os americanos também sofreram com as medidas de Trump. Ele apontou que, caso as tarifas se concretizem, os produtos como café, suco de laranja, minerais, frutas e carne ficarão mais caros nos EUA.
Durante uma coletiva de imprensa, o presidente da Câmara de Comércio Americana (Amcham Brasil), Abrão Neto, disse que o Big Mac, sanduíche vendido pela rede de fast food Mcdonald’s, certamente ficaria mais caro nos EUA, já que a matéria prima dos hambúrgueres é a carne brasileira.
Governadores se mobilizam e antecipam medidas
Alguns governadores se anteciparam ao governo federal e anunciaram medidas para socorrer empresas que podem ser afetadas pelo tarifaço.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), lançou uma linha de créditos de R$ 200 milhões para exportadores do estado. A nova linha terá taxas de 0,27% ao mês + IPCA, prazo de até 60 meses para pagamento, carência de até 1 ano e limite de financiamento de até R$ 20 milhões por cliente.
Já o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), apresentou uma linha de crédito de R$ 628 milhões, com taxas inferiores a 10% ao ano. A contrapartida do governo goiano é que as empresas que optarem pelo crédito mantenham os empregos dos colaboradores.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), lançou um crédito especial para empresas gaúchas por meio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). A linha terá R$ 100 milhões disponíveis para crédito imediato e juros subsidiados.
Os governadores do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), e do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), anunciaram que estão estudando quais medidas podem ser tomadas para auxiliar os setores.
Países que já conseguiram negociação com os EUA
- Japão: A alíquota ficou em 15% e o país se comprometeu a realizar investimentos nos EUA.
- Filipinas: O acordo previu alíquotas em 19% para os produtos filipinos, enquanto os EUA não pagarão tarifas no país.
- Indonésia: As alíquotas no país também ficaram em 19% e 99% dos produtos americanos receberão isenção.
- Vietnã: O acordo fechou as alíquotas em 20%.
- Reino Unido: Fechou negociações em alíquotas de 10% e redução de tarifas para o setor automotivo.
[Metrópoles]
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