google.com, pub-4606529578615391, DIRECT, f08c47fec0942fa0

Candidatos à presidência do PT pregam de rompimento a aliança com Centrão; leia entrevistas

[Editada por: Marcelo Negreiros]

A eleição à presidência do PT neste domingo, 6, tem candidatos com visões opostas sobre as alianças do governo Lula com o Centrão. Em entrevistas à Coluna do Estadão, Edinho Silva defendeu que acordos com esses partidos fazem parte da “construção democrática”, enquanto Valter Pomar disse que os ministros do grupo “precisam ser demitidos”.

A Coluna do Estadão enviou quatro perguntas aos quatro postulantes ao comando do Partido dos Trabalhadores. Romênio Pereira não se manifestou e Rui Falcão não respondeu. O espaço segue aberto. Leia a íntegra das respostas ao fim da reportagem.

Edinho Silva e Valter Pomar Foto: Gabriela Biló/Estadão e Agência PT

“Alianças políticas fazem parte da construção democrática. Se há no Brasil uma liderança preparada para costurar alianças com diferentes partidos dentro do campo democrático, é o presidente Lula”, afirmou Edinho Silva, que tem o apoio do presidente da República. Edinho foi ministro da Secretaria de Comunicação no governo Dilma e prefeito de Araraquara (SP).

Por outro lado, para Valter Pomar, diretor da Fundação Perseu Abramo, braço teórico do PT, “a frente ampla com setores da direita demonstrou todos os seus limites”. E concluiu: “Aqueles ministros precisam ser demitidos”.

Centrão comanda ministérios, mas joga contra no Congresso

A despeito de controlarem ministérios importantes na gestão Lula, partidos do Centrão têm causado derrotas do governo no Congresso, a exemplo da derrubada da alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), no último dia 27. O Parlamento não anulava um decreto do governo há três décadas.

Siglas que chefiam dez pastas deram 56% dos votos contra o Palácio do Planalto: 216 dos 383 votos. O União Brasil, que chefia os ministérios de Comunicações e Turismo, entregou 58 votos; o PP, que chefia Esportes, 48; o Republicanos, que chefia Portos e Aeroportos, 42; o PSD, que chefia Agricultura, Pesca e Minas e Energia, 27; e o MDB, que chefia Planejamento, Transportes e Cidades, 41.

Leia as respostas de Edinho Silva e Valter Pomar

O partido precisa manter ou reforçar o discurso do “nós contra eles” reeditado pelo presidente Lula?

Edinho Silva: A resposta para a questão, em primeiro lugar, é que não existe o “nós contra eles” da forma como foi caracterizado. O que aconteceu foi que, sem respaldo legal, o Congresso Nacional revogou uma iniciativa do presidente da República. E, naturalmente, o presidente – o governo, o PT -, reagiu como deveria: enfrentando o debate que estava colocado.

Na minha avaliação, uma medida ilegal, quando o Congresso extrapola, gera uma reação. E, de fato, o caminho que restava era esse: reagir, mobilizando a sociedade e estimulando o debate público.

Portanto, não vejo essa situação como uma reedição da lógica do “nós contra eles”. Muitas vezes, as contradições da sociedade estão postas, independentemente da vontade de um agente político. Nesse caso, a meu ver, o governo reagiu a um ato praticado pelo Congresso Nacional, mas a contradição existia: um modelo tributário injusto.

Evidentemente, ao se debater privilégios tributários há o envolvimento direto da sociedade no debate. E, neste caso específico, ainda mais, pois estamos diante de temas que o Brasil precisa debater, e repensar. Qual é o modelo de sociedade que queremos construir?

Uma sociedade de privilégios, com isenções e renúncias fiscais permanentes? Porque uma coisa é conceder desonerações ou incentivos fiscais a setores ou cadeias produtivas que precisam se firmar na economia, no mercado. Outra coisa é transformar isso em uma regra eterna.

Não existe desoneração ou incentivo que possa durar para sempre. Quando isso ocorre, quem paga o preço é o conjunto da sociedade. Neste caso, estamos falando de R$ 860 bilhões em renúncias fiscais, cujo impacto recai sobre toda a população brasileira.

Por outro lado, temos o trabalhador assalariado, que ganha dois, três, quatro salários mínimos, pagando tributos diretos ou indiretos ao ir ao mercado, à padaria, à farmácia. Por isso, trata-se de um debate que a sociedade brasileira precisa fazer. R$ 860 bilhões em renúncia fiscal não é algo que se normaliza.

Portanto, diante da revogação do decreto presidencial era inevitável que ocorresse uma reação. E foi, de fato, o único caminho que o governo tinha.

Valter Pomar: O governo vinha numa toada muito moderada. Foi a maioria de direita no Congresso que optou pelo “tudo ou nada”, ao aprovar um decreto que na nossa opinião cassa o direito de Lula governar. O governo poderia capitular ou reagir. Lula fez muito bem em reagir. E, sim, o Partido precisa reagir ainda mais forte.

O sr pretende conduzir o PT para uma guinada à esquerda ou deve recuar e tentar compor com o Centrão na corrida ao Planalto?

Edinho Silva: O PT é e sempre será um partido de esquerda. As principais políticas públicas criadas e implementadas pelos governos do PT são fundamentalmente de esquerda, fundamentadas na justiça social e na igualdade de oportunidades. E, para garantir a continuidade dessas políticas no Brasil, de um projeto justo de País, a prioridade para o PT deve ser a reeleição do presidente Lula. Não só para garantir a continuidade da reconstrução das políticas públicas, mas também para fortalecer a democracia ao derrotar a extrema direita que se move pelos valores fascistas.

Alianças políticas fazem parte da construção democrática, principalmente nesse momento de crise institucional que vivemos, de descaracterização do presidencialismo, de uma apropriação do parlamento de atribuições que constitucionalmente não são suas. Se há no Brasil uma liderança preparada para costurar alianças com diferentes partidos dentro do campo democrático, para dialogar com o Judiciário e construir uma concertação institucional para o País, essa liderança é o presidente Lula.

Valter Pomar: A frente ampla com setores da direita demonstrou todos os seus limites. Os deputados e senadores vinculados aos ministros de direita votam contra o governo e já anunciam que estarão com outra candidatura em 2026. Portanto, não se trata de uma opção: quem pode nos dar vitória em 2026 é uma aliança com o povo. E aqueles ministros precisam ser demitidos.

Quando o partido precisará definir e nominar a liderança que substituirá o presidente Lula?

Edinho Silva: O sucessor do presidente Lula não será um nome, será o Partido dos Trabalhadores, como o próprio presidente Lula afirma. É a construção de um partido forte, que entenda sua missão, que entenda seu papel, mesmo quando o presidente Lula não disputar mais eleições. A eleição de 2026 efetivamente será a última que o presidente estará nas urnas representando nosso projeto, nossa construção partidária. O partido forte e organizado construirá nomes e processos para que a gente continue disputando os rumos da sociedade brasileira.

Valter Pomar: Nunca faremos isso. Não há como “substituir” alguém que é produto de meio século de luta. Além do mais, minha preocupação não é substituir, minha preocupação é eleger novamente Lula em 2026. E quanto ao futuro distante, o Partido é nossa liderança coletiva.

Quem é o candidato mais difícil para o PT enfrentar na corrida presidencial de 2026?

Edinho Silva: Eu penso que o Partido dos Trabalhadores não deva se preocupar com os adversários. A preocupação com candidaturas do campo adversário é deles. Eles estão com dificuldades para definir nomes, e esse problema não é nosso.

A nossa maior preocupação deve ser dialogar com os nossos aliados históricos. Precisamos construir um campo democrático para que possamos enfrentar os problemas que o Brasil vive hoje. Essa, na minha opinião, deve ser a nossa prioridade.

O centro da nossa tática deve ser a reeleição do Lula. Também, para garantir as transformações sociais, o PT tem que trazer para dentro do partido agendas que dialoguem com a sociedade brasileira. O PT precisa ter uma proposta para segurança pública, precisa entrar com força no debate sobre a transição energética, sobre o tempo de trabalho, sobre a tarifa zero no transporte público, que hoje é um grande problema para as cidades médias e grandes do Brasil. O peso do transporte público no orçamento das famílias é enorme.

Essas são pautas importantes. E também é fundamental que a gente renove propostas que sempre fizeram parte da história do PT, como a democracia direta, o Orçamento Participativo, a valorização da economia solidária e do cooperativismo.

Precisamos retomar debates que sempre foram nossos e que continuam atuais, como a educação integral e o cuidado com a primeira infância.

Por isso, estou muito otimista. Acho que no próximo período teremos uma agenda intensa de diálogo com a sociedade, e esse diálogo precisa ser pautado por essas propostas.

Valter Pomar: O candidato mais difícil chama-se “desânimo”. Por isso é tão importante reagir ao cerco da direita que controla o Congresso. Pois se eles forem capazes de nos impedir de governar em 2025, que sentido faria ganhar em 2026? Para derrotar o “desânimo”, é preciso polarizar com as elites e governar a favor dos trabalhadores.

[Por: Estadão Conteúdo]

Source link


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Comente a matéria:

Rolar para cima