Os químicos descobriram que a bactéria Escherichia coli pode ser usada para criar a molécula do acetaminofeno, outro nome para o fármaco, a partir de um material extraído de garrafas de polietileno tereftalato, o famoso plástico PET. O processo é descrito num artigo publicado no periódico Nature Chemistry.
Vamos entender mais sobre o paracetamol – e como essa pesquisa foi feita.
Remédio reciclado
O acetaminofeno é usado para tratar febre e dor leve ou moderada. Ele foi sintetizado pela primeira vez em 1873 pelo químico Harmon Northrop Morse (sem relação com Samuel Morse, que desenvolveu o código com o sobrenome deles), mas levou décadas para começar a ser usado como antipirético, nome técnico para remédio contra febre.
Os efeitos terapêuticos do paracetamol só foram descobertos em 1948, e o remédio começou a ser comercializado em 1955 com o nome de “Tylenol”. Desde então, virou um dos analgésicos mais populares do mundo, com patente quebrada para ser vendido como genérico por preços baixos.
O experimento escocês começou misturando bactérias E.coli com plásticos PET descartados. A partir daí, o fosfato dentro dos microrganismos serviu de catalisador para um processo curioso chamado “rearranjo de Lossen”.
Trata-se de uma conversão química complexa que, até então, só havia sido observada em laboratório, nunca na natureza. Esse é um dos trunfos da pesquisa, já que os cientistas descobriram que ela era biocompatível – ou seja, poderia acontecer na presença de células vivas (as bactérias) sem causar dano a elas.
O resultado do rearranio de Lossen feito pelas bactérias foi o ácido 4-aminobenzoico, conhecido como PABA. Ele é essencial para o crescimento das bactérias e geralmente é produzido dentro delas. A cepa de E. coli usada no estudo foi geneticamente modificada justamente para transformar o material PET nesse composto químico, em vez de buscar os caminhos convencionais de produção do PABA.
Além disso, a edição genética também adicionou um gene de cogumelos e outro de bactérias do solo. Foi isso que permitiu que as E.coli convertessem o PABA em paracetamol.
A conversão do material à base de plástico PET para paracetamol aconteceu em menos de 24 horas, com um rendimento de até 92% e baixas emissões de gases de efeito estufa. Não é como se o paracetamol saísse pronto para consumo: a molécula é produzida, sim, mas o remédio que consumimos geralmente é misturado com outros compostos ativos. Mais estudos serão necessários para usar esse remédio bioquímico reciclável comercialmente.
[Por: Superinteressante]
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