[Editado por: Marcelo Negreiros]
Em coluna publicada na Folha de S.Paulo desta sexta-feira, 15, o sociólogo Demétrio Magnoli criticou a atuação da ombudsman do jornal e afirmou que ela transformou seu espaço, tradicionalmente voltado à defesa dos interesses dos leitores à luz dos princípios jornalísticos, em um “contra-editorial”.
O texto responde à coluna da ombudsman que se opôs a um editorial da Folha que defendia o direito de Jair Bolsonaro à liberdade de expressão, mesmo diante do que o artigo descreveu como campanha contra o sistema de votação e tentativas de subversão do regime democrático.
O editorial em questão, publicado em 5 de agosto, sustentou que “democratas não se transformam em tiranos para combater a tirania” e que o ministro Alexandre de Moraes “erra ao mandar prender o ex-presidente” por manifestações públicas.


Ombudsman da Folha contesta defesa da liberdade de expressão de Bolsonaro
O texto também argumentou que a liberdade de expressão “não abandona nem sequer quem cumpre pena” e classificou como equivocada a decisão que impôs restrições a Bolsonaro nas redes sociais. No dia 10, a ombudsman reagiu e citou leitores que consideraram o editorial “um tapa na cara” e uma “traição” à linha histórica do jornal.
Entre os depoimentos, destacou o de Gabriel Pereira, de Campinas (SP): “Nenhuma democracia sobrevive se não souber se proteger de quem a usa como escada para destruí-la por dentro”. Ela argumentou que o editorial gerou perplexidade e cancelamentos de assinatura, e questionou a aplicação irrestrita do princípio da liberdade de expressão.
Para Magnoli, a coluna da ombudsman simulou refletir uma “opinião quase universal” dos leitores, mas funcionou como “guerrilha digital” contra a própria linha editorial. Ele comparou a abordagem a práticas de “gabinetes do ódio”, em que líderes definem alvos e argumentos que são amplificados por influenciadores e replicados por apoiadores.
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O colunista observou que o raciocínio adotado pela ombudsman repete justificativas usadas pelo STF em decisões de censura, como a proibição de entrevistas de Lula na prisão, a ordem de censura à revista Crusoé, restrições a perfis ligados à direita e o embargo ao uso de redes sociais por Bolsonaro.
Magnoli ampliou a crítica para além do episódio na Folha e afirmou que a “novidade” atual é a adesão de jornalistas à defesa de restrições à expressão. Ele atribui essa postura ao enfraquecimento financeiro da imprensa e ao “declínio da lealdade aos princípios jornalísticos” em cursos universitários, que, segundo ele, estariam “intoxicados pelo ativismo digital”.
Citou Rosa Luxemburgo para reforçar o argumento: “A liberdade é sempre, e unicamente, a liberdade dos que divergem de mim”. O colunista conclui que a prática documenta uma época em que parte da imprensa abdica da pluralidade em nome de afinidades ideológicas, sem perceber que, com a mudança dos ventos políticos, poderá se tornar alvo da mesma censura que hoje apoia.
Leia também: “O fim do consórcio de imprensa”, reportagem de Cristyan Costa publicada na Edição 150 da Revista Oeste
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