Após mais de 100 dias de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Condomínio Solar de Brasília, no Jardim Botânico, retomou sua rotina praticamente normal: não há mais a presença constante de apoiadores, integrantes da oposição ou mesmo da imprensa.
Após vivenciar semanas agitadas quando Bolsonaro foi confinado em casa por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a vizinhança do condomínio de classe média alta voltou a desfrutar de um cotidiano mais tranquilo.
Bolsonaro cumpre prisão domiciliar desde o dia 4 de agosto. A decisão veio após o ex-presidente descumprir medidas cautelares impostas no dia 18 de julho e participar, via telefone, de uma manifestação bolsonarista realizada no domingo (3/8) no Rio de Janeiro. Essa participação foi republicada pelos filhos Carlos e Flávio Bolsonaro nas redes sociais.
Agora, Bolsonaro vive a expectativa da decretação de sua prisão em regime fechado pela condenação como líder de uma trama golpista. A defesa do ex-presidente, porém, quer pedirpara que a pena seja cumprida em prisão domiciliar, no mesmo lugar onde o ex-presidente se encontra atualmente.
Leia também
Eduardo Bolsonaro pôs “interesse pessoal acima do país”, diz Zema
Flávio Bolsonaro acusa Gonet de conluio com STF: “Não tem vergonha?”
Bolsonaro e o “aniversário” dos 100 dias: narrativa, dieta e Papuda
Bolsonaro é rejeitado pelos que poderiam lhe dar abrigo
Os primeiros dias da prisão foram marcados por manifestações intensas em frente ao condomínio: apoiadores e opositores, vigílias e a presença em peso da imprensa, que ocasionou toda uma alteração na rotina dos moradores e comerciantes que circulam pelo local.
Com o passar dos dias, porém, os manifestantes foram dispersando e a rotina em torno do condomínio foi voltando ao normal. Os cultos e manifestações passaram a fazer parte de um passado que dividiu opiniões entre os moradores.
Há os que não sei queixam. A empresária Maria Amélia, dona da confeitaria Maria Amélia Doces, explicou que, ao longo desses 100 dias, não houve prejuízo ao comércio. Pelo contrário: o local virou ponto turístico para quem quer conhecer o “condomínio do Bolsonaro”.
A empresária Maria Amélia é amiga de Michelle Bolsonaro
Faixada do condomínio onde Bolsonaro cumpre prisão domiciliar
A manhã no em frente ao condomínio foi tranquila e sem a presença de manifestantes
“O afastamento dos clientes ocorreu apenas quando teve presença da oposição e gerou um conflito com uma certa agressividade. Na maioria das vezes não deu nenhum trabalho para nós como comércio. Muito pelo contrário. Viramos ponto turístico para quem vinha conhecer o condomínio onde ele mora”, contou a empresária.
Sobre a reação dos moradores, Maria Amélia conta que os relatos que escutou eram mais a respeito de pessoas que passavam na porta da casa de Bolsonaro gritando palavras ofensivas e atrapalhando o silêncio do local.
Amiga da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e apoiadora do ex-presidente, a empresária diz que encontrou nela forças para lidar com a situação. “A Michelle é um exemplo de fé para todos nós, assim como toda a família que está se mantendo firme diante dessa injustiça”, afirma.
No entanto, ela destaca que a normalidade em torno do condomínio é motivo de revolta e que apoiadores deveriam voltar a se manifestar como estavam fazendo nos primeiros dias de prisão. “Eu fico revoltada de ver que a vida está normal. Para mim, há 3 anos, a vida deixou de ser normal […] Eu quero voltar a ver isso aqui cheio”, ressalta.
Agenda antecipada
A moradora Natália Magalhães, de 26 anos, afirma que no ínicio o motivo de preocupação era em relação à segurança e ao trânsito. “Com o passar dos dias, por mais incômodo que fosse o barulho das manifestações e a presença da imprensa, a segurança não era um problema, já que ninguém apresentava riscos”.
No entanto, a jovem afirma que o trânsito foi uma grande questão e os moradores tinham de “se antecipar para sair de casa e também para chegar”. Após o fim do julgamento de Bolsonaro no STF, ela disse que tudo começou a voltar ao normal e as preocupações se reduziram.
“Vez ou outra a gente acompanha a entrada de carros oficiais ou que aparentam ter algum vínculo com o sistema político, mas nada muito muito expressivo. A visitas de apoiadores e manifestações na parte da noite se dispersaram, então voltamos a ter um trânsito e uma movimentação mais tranquilos”, explica a moradora.
O morador Matheus Godoi, de 28 anos, afirma se sentir aflito em relação a como serão os dias após a decisão sobre a prisão definitiva e também demonstra um certo receio de como a segurança vai lidar com a comoção popular.
“A expectativa que a gente tem é que de fato exista uma grande comoção popular porque o julgamento por si só já deixou isso claro. Mas a gente espera que as pessoas entendam que os moradores da região não são participantes dessa dessa narrativa e que precisam ter os seus direitos reservados”, explica.
Godoi reforça que o problema não gira em torno apenas do trânsito, mas de imagem também, tanto por parte da imprensa quanto de populares que passam gravando o local. “É uma questão de de imagem também. Ter câmeras apontada para as entradas das casas e até mesmo na rua do condomínio, também gera um incômodo”.
[Metrópoles]
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
