[Editada por: Marcelo Negreiros]
Com uma sequência de reveses nas últimas semanas, a direita brasileira entrou no modo “cada um por si”. Governadores, deputados e senadores ligados a esse segmento da política passaram a avaliar nos bastidores como cada passo neste momento vai impactar a própria trajetória e seu desempenho nas eleições de 2026. O principal argumento é que dois dos principais personagens do bolsonarismo se fixaram nos próprios interesses e geraram abalo na unidade política: os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP).
Como mostrou a Coluna do Estadão, a mais recente evidência desse dilema foi o racha entre governadores de direita sobre uma reunião – que acabou cancelada – com o vice-presidente Geraldo Alckmin para tratar do tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil. Por mais que não quisessem dar palanque para o governo Lula, que recuperou popularidade com a ofensiva americana, os governadores também precisam dar uma resposta aos setores econômicos de seus Estados prejudicados pelas tarifas.
A ausência de Tarcísio a ato bolsonarista neste domingo, 3, ainda que para passar por um procedimento médico, também foi lida no ambiente político como uma mostra de tentar se preservar.
Eduardo se volta cada vez mais para os próprios interesses nos EUA
Na visão de caciques da política, Eduardo só se demonstra interessado em garantir uma aproximação com Trump e sua permanência nos EUA.
Causou mal-estar até mesmo na direita a frase de Eduardo de que trabalhava para dar errado a tentativa de senadores brasileiros de negociar um alívio no tarifaço. O ex-apresentador da Jovem Pan Paulo Figueiredo, que acompanha Eduardo, já havia dado o tom em entrevista a Coluna, quando disse que os parlamentares iriam “quebrar a cara” ao viajar para os EUA.
Eduardo passou a brigar com expoentes da direita. Primeiro, o alvo foi o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que também se apresentou para negociar as tarifas após ser pressionado por setores econômicos afetados. Depois, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro passou a mirar no deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), principal trunfo do bolsonarismo nas redes sociais.
Carla Zambelli e a nova “pá de cal”
Zambelli, que já era apontada desde 2022 como responsável pela derrota de Bolsonaro por corrido atrás de um homem com uma arma nas mãos na véspera das eleições, agora provocou um vexame. Enquanto outros bolsonaristas conseguiram driblar determinações judiciais, como o senador Marcos do Val, a deputada acabou não conseguindo escapar da prisão. Como mostrou a Coluna, a fuga de Zambelli para a Itália já havia sido vista como uma pá de cal para os réus do 8/1.
Presidenciáveis da direita tentam ajustar discursos
Nesse cenário, a situação mais delicada continua sendo a de Tarcísio, que é quem mais tenta se equilibrar entre os interesses do bolsonarismo raiz e as necessidades do Estado que governa.
Segmentos da indústria e do agronegócio de viés anti-Lula que estavam cada vez mais animados com a possibilidade de o governador concorrer à Presidência em 2026 puxaram o freio desse entusiasmo após ele fazer, no começo da crise do tarifaço, um aceno a aliados de Bolsonaro que foi considerado exagerado.
Tarcísio precisou recalcular rota, depois de ter concordado com Trump, e chamar empresários para uma reunião. Como antecipou a Coluna, também anunciou medidas de apoios às empresas antes do governo Lula.
O governador de Minas, Romeu Zema (Novo) afirmou que Eduardo “causou um problema para a direita” ao articular as tarifas contra o Brasil. Após a declaração, o filho do ex-presidente se defendeu afirmando que Zema representa a “turminha da elite financeira”.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, evitou entrar em embate direto com Eduardo e, sempre que é perguntado sobre a ação do deputado nesse episódio nos EUA, direciona a conversa para críticas à condução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante da crise comercial.
O governador do Paraná, Ratinho Júnior(PSD), por sua vez, articulou jantar esta semana em São Paulo com um grupo de empresários. O objetivo é atrair investimentos ao seu Estado. Em meio a um vácuo na direita, com impasses para a escolha do candidato que substituirá o ex-presidente Jair Bolsonaro nas urnas, Ratinho tenta se viabilizar como alternativa.
Resumindo, cada um corre de um lado para tentar se viabilizar para 2026 e salvar o próprio espólio político. Mas Tarcísio de Freitas minimiza o “cada um por si” e disse durante painel da Expert XP 2025 que não haverá um racha na direita brasileira na disputa eleitoral de 2026.
“A União faz a força. A boa notícia é que temos um grupo que tem o caminho para o Brasil que passa pela reforma administrativa e pela desvinculação das receitas. O projeto nacional está acima de todas as vaidades. O Brasil merece isso, é um País que está vocacionado para dar certo e pode explorar os seus diferenciais competitivos”, disse.

Jair Bolsonaro, ex-presidente da República Foto: Daniel Teixeira/Daniel Teixeira/Estadão
[Por: Estadão Conteúdo]
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