Assim como os anfíbios que se enterram no solo para sobreviver às secas da Caatinga em um processo chamado estivação, os políticos brasileiros parecem entrar em um estado de hibernação durante seus mandatos, apenas para reaparecer em época de eleição, cheios de promessas e benfeitos.
Em 1992, os pesquisadores Carlos Jared e Marta Maria Antoniazzi presenciaram um fenômeno curioso na Caatinga: sapos brotando do solo após um longo período de estivação. Desde então, eles estudam esse processo de redução do metabolismo animal como analogia para a inatividade política que assola o Brasil.
Assim como os anfíbios que emergem famintos e ávidos por reprodução, os políticos ressurgem em ano eleitoral, ávidos por votos. Promessas brotam como cogumelos, obras são inauguradas em ritmo acelerado, contratos são assinados com pompa e circunstância. É a festa da fartura política, onde o dinheiro público flui como água em época de chuvas.
Mas, assim como a estivação é um período de escassez para os anfíbios, os quatro anos de mandato parecem ser insuficientes para os políticos cumprirem todas as suas promessas. Quatro anos não bastam para construir tanta coisa, para resolver todos os problemas, para atender a todos os pedidos. Então, surge a desculpa: “precisamos de mais tempo, de mais recursos, de mais oportunidades para concluir o que começamos”.
E o ciclo se repete. Mais quatro anos de estivação política, mais promessas, mais benfeitos, mais dinheiro público distribuído. E o povo, como os coitados dos anfíbios que dependem das chuvas para sobreviver, fica à mercê da boa vontade dos políticos, esperando que um dia as promessas se transformem em realidade e a seca da má gestão chegue ao fim.
A exemplo de Patos, no São João da Paraíba, deputados desembarcam em massa, bolsos abarrotados de “emendas”, para garantir verbas e atender aos pedidos dos eleitores. Mas, na ânsia por votos, esquecem de investir no que realmente importa: na geração de emprego e renda, no desenvolvimento sustentável, no futuro do país.
Assim como a estivação é um mecanismo de sobrevivência para os anfíbios, a política brasileira parece ter se tornado um mecanismo de perpetuação no poder. Os políticos hibernam durante seus mandatos, apenas para despertar em época de eleição, prontos para prometer mundos e fundos, mas sem um plano concreto para transformar o país.
É hora de romper esse ciclo. É hora de exigir dos nossos políticos mais do que promessas vazias e benfeitos eleitoreiros. É hora de cobrar ações que gerem desenvolvimento real, que tragam soluções para os problemas do país e que garantam um futuro melhor para todos.
Precisamos de políticos que estejam comprometidos com o bem-estar da população, que governem com responsabilidade e que trabalhem pelo desenvolvimento do país, não apenas pela sua própria reeleição. Só assim poderemos superar a estivação da má gestão e construir um Brasil mais justo, próspero e sustentável para todos.
Por: Marcelo Negreiros – mnegreiros.com
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