Em um novo capítulo da conturbada relação entre usuários, segurança, privacidade de dados e a tecnologia de inteligência artificial, surgiram relatos de que o Facebook passou a acessar fotos não publicadas guardadas na galeria dos aparelhos dos usuários – imagens que até então nunca haviam sido carregadas nas plataformas da Meta – para treinar sua IA.
Usuários que tentavam postar conteúdos no recurso Stories receberam, segundo relatos, um pop-up oferecendo a opção de ativar um recurso de “processamento em nuvem” (cloud processing).
Ao aceitar, o usuário autorizaria o Facebook a “selecionar mídia do seu rolo de câmera e enviá-la para nossa nuvem regularmente”, com o objetivo declarado de gerar sugestões automáticas – colagens, recapitulações, estilizações feitas por IA em temas comemorativos como aniversários ou formaturas. O aviso também explicava que, ao aceitar, o usuário concordaria com os termos da Meta AI, que permitem à empresa analisar “mídia e traços faciais”, datas das fotos e a presença de outras pessoas ou objetos, além de “reter e usar” essas informações.
Compartilhe essa matéria via:
A iniciativa, inicialmente reportada pelo TechCrunch e posteriormente repercutida por veículos de tecnologia, aparece num momento em que a Meta já reconheceu haver usado bilhões de imagens publicadas no Facebook e no Instagram para treinar modelos generativos de IA. Sem contar com as obras de sites piratas utilizadas sem permissão alguma.
A diferença, agora, é que a empresa passou a tentar obter acesso direto a imagens que os usuários não colocaram intencionalmente no ecossistema público da plataforma.
Para a revista The Verge, a Meta respondeu com uma posição cautelosa, afirmando que, por agora, o teste é “muito inicial” e inteiramente opcional. Um porta-voz, Ryan Daniels, disse que “este teste não usa fotos das pessoas para melhorar ou treinar nossos modelos de IA” e que a funcionalidade destina-se a oferecer sugestões de conteúdo apenas ao próprio usuário.
Outra representante, Maria Cubeta, declarou que as sugestões são mostradas apenas ao usuário – salvo se ele decidir compartilhar algo – e que a opção pode ser desativada a qualquer momento. Ainda assim, o texto legal que acompanha os termos da Meta AI, estabelecidos em 23 de junho de 2024, não esclarece se a empresa se reserva o direito de utilizar esse tipo de mídia como dados de treinamento no futuro.
Além disso, embora a comunicação oficial afirme que o upload foi pensado para recuperar apenas os últimos 30 dias de material do rolo de câmera, a própria Meta indica exceções: sugestões baseadas em temas – por exemplo, “pets”, “casamentos” ou “formaturas” – “podem incluir mídia mais antiga que 30 dias”. E relatos de usuários em redes como Reddit mostram que a plataforma já ofereceu reestilizações automáticas em fotos antigas, sem que os donos das imagens soubessem da função ativa.
A leitura atenta das mensagens de consentimento e dos termos de uso revela duas preocupações centrais. Primeiro, o acesso direto ao conteúdo que não foi publicado por usuários torna mais difusa a barreira entre o que é “privado” e o que pode, eventualmente, tornar-se matéria-prima para modelos de IA.
Segundo, a linguagem jurídica e técnica empregada pela Meta – que promete que o teste não treina modelos hoje, mas não garante nada amanhã – deixa um espaço considerável para interpretação, e portanto para possíveis usos futuros.
Uma terceira análise é mais pessoal. Pense em você: será que todas as vezes que você clica confirmando que leu e concordou com os termos de uso de um serviço, você realmente leu? Ou será que clica em qualquer coisa sem saber exatamente no que concordou? E mais: você realmente entende tudo que está sendo aprovado naquela mensagem?
A ambiguidade é problemática. “Consentimento informado” perde sentido se o usuário não consegue prever as ramificações futuras de um clique em “aceitar”. Além disso, a retenção de dados e a possível reaplicação deles em sistemas de reconhecimento facial, geração de imagens ou perfis automatizados de comportamento elevam riscos de vigilância, discriminação e perda de controle sobre imagens.
Para desabilitar (ou mitigar) esse tipo de cloud processing, siga estes passos:
- Desative o recurso na própria conta do Facebook
- Abra o app do Facebook, vá em Configurações e privacidade, depois em Configurações e procure por uma aba chamada sugestões de compartilhamento de rolo de câmera. Deixe os controles cinza, desligados.
- Em alguns aparelhos, a atualização e a aparição desta nova aba ainda não estão disponíveis. Fique atento para quando/caso ela aparecer. Um tutorial detalhado e com imagens pode ser visto neste vídeo:
- Revogue a permissão de acesso às fotos no sistema operacional do telefone
- No iOS: abra Ajustes > role até Facebook > Fotos e selecione Nunca (ou Apenas fotos selecionadas).
- No Android: abra Configurações > Apps > Facebook > Permissões > Armazenamento/Arquivo e mídia e desabilite o acesso. Ao cortar a permissão de acesso às fotos, o app não conseguirá mais ler o seu rolo de câmera.
- Desative backups automáticos do telefone para serviços ligados à Meta
- Se você usa algum serviço de backup automático (inclusive recursos do próprio Facebook/Instagram ou de terceiros que sincronizem com sua conta Meta), desligue esses backups ou configure-os para excluir pastas privadas.
- Remova fotos não publicadas já enviadas à nuvem (quando possível)
- Caso você já tenha ativado a função no passado, busque pela opção de gerenciar ou excluir mídia armazenada em “camera roll cloud” ou “processed media” nas configurações do Facebook. Desativar o recurso de cloud processing também inicia a remoção dos arquivos não publicados após 30 dias (ou seja, eles ainda estarão disponíveis para o treinamento de dados neste período); para ação imediata, procure por opções de exclusão manual nas configurações da conta.
Continua após a publicidade - Reveja e negue termos/consentimentos relacionados à Meta AI
- Na área de Privacidade ou Termos de IA do app, busque se há consentimentos específicos e revogue-os quando possível.
- Mantenha o sistema operacional e o app atualizados — e leia as notas de privacidade
- Atualizações podem alterar caminhos de configuração; ao atualizar, confira as permissões solicitadas e as notas de privacidade para quaisquer mudanças no processamento de dados.
- Se for necessário, exclua o app ou use versões web, que têm permissões limitadas
- Desinstalar o app remove o canal direto de acesso ao rolo de câmera e limita certas integrações automáticas.
Continua após a publicidade - Desinstalar o app remove o canal direto de acesso ao rolo de câmera e limita certas integrações automáticas.
[Por: Superinteressante]
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.