O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê uma rara oportunidade de se reaproximar politicamente dos setores produtivos da economia, principalmente os que se alinharam ao bolsonarismo na última década. Interlocutores do Planalto consideram que a taxação anunciada nessa quarta-feira (9/7) pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de 50% sobre produtos brasileiros é um “presente” para o Executivo, que busca reviver a “era de ouro” da relação com o empresariado.
A avaliação de interlocutores do presidente da República é que nem mesmo o agronegócio e os grandes empreendedores aceitarão calados a taxação de Trump, anunciada de “surpresa” como uma retaliação política ao inquérito que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) responde no Supremo Tribunal Federal (STF). Frentes parlamentares que geralmente fazem oposição a Lula se manifestaram contra a decisão dos EUA e pediram socorro ao governo petista.
De acordo com auxiliares do presidente, há espaço para retomar o que consideram o melhor momento da relação com o empresariado. Eles citam que nos governos Lula 1 e Lula 2 o PT conseguiu desenvolver uma interlocução com os setores da economia, que poderia ser retomada diante do alerta de que um retorno da direita ao Poder significaria a sobreposição da ideologia e capitulação sobre os interesses comerciais do Brasil.
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Presidente dos EUA, Donald Trump
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Eduardo Bolsonaro
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Presidente do Brasil, Lula
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Tarcísio de Freitas durante solenidade Cívico-Militar em Comemoração ao 93° Aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932
Pablo Jacob/Governo do Estado de SP
Trump, tarifas, Brasil e Bolsonaro
- Trump tem ameaçado o mundo com um tarifaço, desde o início do atual mandato, e dá atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil.
- O presidente norte-americano já ameaçou aplicar taxas de 100% aos países membros do bloco que não se curvassem aos “interesses comerciais dos EUA”.
- Após sair em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre exportações brasileiras. De acordo com o líder norte-americano, o Brasil não está “sendo bom” para os EUA.
- Lula informou que a resposta brasileira à taxação será por meio da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
- Ao anunciar tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump indicou que pode rever a medida se o Brasil abrir seu mercado e remover barreiras comerciais.
Ação de Eduardo Bolsonaro nos EUA
A ação de Donald Trump teve a digital do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL), que está nos EUA desde fevereiro para articular sanções do governo norte-americano contra o Brasil. A esquerda considera que, apesar de o filho do ex-presidente se fortalecer no nicho mais bolsonarista, o apoio a uma medida negativa para a economia brasileira possa isolá-lo na sua busca para se firmar como candidato viável da direita à presidência em 2026.
Os auxiliares do presidente Lula também enxergam uma oportunidade de desgastar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Visto como “queridinho” da Faria Lima para concorrer ao Planalto no próximo ano, ele elogiou o discurso de Trump na segunda-feira (7/7) contra as instituições brasileiras por causa do processo contra Bolsonaro. A posição foi vista como um prenúncio de uma sanção pela Casa Branca.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), alfinetou: “Qual a posição do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas? Há dois dias aplaudiu o Trump quando disse que só o povo podia julgar Bolsonaro […]. Gente, há dois dias ele fez uma postagem saudando o Trump, dizendo que só o povo podia julgar o Bolsonaro, como se o julgamento do Supremo fosse ilegítimo. Esse povo tem que falar”.
Lindbergh, então, destacou a movimentaçãp da direita nos EUA: “Articulado pelo Eduardo Bolsonaro e por essa rede da extrema-direita. Não tenho dúvidas, quero reafirmar, ele disse que ia prejudicar Alexandre Moraes e prejudicou todo o Brasil”.
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Setores contra decisão de Trump
Correligionário de Bolsonaro e presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, o deputado Joaquim Passarinho (PA) reclamou da taxação. “Vejo com tristeza para a economia brasileira, somos um grande parceiro americano… Acho que o presidente exagera muitas vezes nesse nesse tipo de colocação, até porque isso não faz mal só para a economia do Brasil, faz mal para a economia americana também”, disse ao Metrópoles.
O deputado, porém, reclama do Planalto: “Falta um interlocutor com governo americano. Ele precisa ter um interlocutor melhor. Temos visto o presidente Trump anunciar essas medidas e depois de 15 dias voltar atrás. [Ele] acha que é uma negociação, eu acho que ele é negociador. Além de ser um presidente, ele é um grande negociador, é um cara bom de negócio. Então acho que isso muitas das vezes é mais um chamariz, mais uma ameaça para que se sentem à mesa”.
Outro setor incomodado com Trump é o agronegócio. A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) manifestou “preocupação” com a taxação anunciada pela Casa Branca. “A medida, comunicada por meio de carta oficial enviada ao governo brasileiro, representa um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países”, disse o grupo liderado pelo deputado Pedro Lupion (PP-PR).
Para a frente parlamentar, que tem 302 deputados e 50 senadores, “a nova alíquota produz reflexos diretos e atingem o agronegócio nacional, com impactos no câmbio, no consequente aumento do custo de insumos importados e na competitividade das exportações brasileiras”.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também se manifestou e disse que a imposição de 50% de tarifas sobre o produto brasileiro por parte dos Estados Unidos foi recebida com preocupação e surpresa. A instituição disse que não há fato econômico que justifique as taxas anunciadas por Trump.
[Metrópoles]
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