Impossível esquecer…

É como um filme em reprise, renovada sua qualidade para uma tecnologia atual, passando em nossa mente.


O dia 17 de maio de 2021, foi o dia mais longo de minha vida…um dia insone, à espera do amanhecer do dia seguinte, que seria o dia de minha alta médica do Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa.


Uma dor insuportável na região sacral, onde se formara uma lesão por pressão (escara), que me impedia sentar ou fazer qualquer outro movimento articular; e foi um misto de dor e anestesia (pela felicidade), não poder sair de cadeira de rodas com a plaquinha com os dizeres: “Venci a Covid!”


A equipe me olhando num paradoxo de alívio, pela cura, e saudade, pois ao longo da recuperação acabamos criando um vínculo de amizade e respeito por esses homens de branco, que, na maioria das vezes, estão a representar o próprio Deus!


Digo que nada acontece por acaso, pois, para mim, foi um aprendizado incomparável. Os profissionais tinham uma dedicação por nós pacientes, parecendo tratarem alguém da própria família. Vi naqueles profissionais a bondade pregada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Como disse: quase Deus!


Em alguns momentos, fiquei constrangido em fazer necessidades fisiológicas tantas vezes, mas jamais ví técnicos ou enfermeiros se aborrecer; ao contrário, me incentivavam para que ficasse à vontade. Traqueostomizado, não conseguia falar, só gesticular. Eles entendiam, sabiam que era uma maneira de agradecer.


Minha filha, enfermeira, e meu filho, médico, ao meu lado, apreensivos e alegres, por minha alta médica, depois de tantas interrogações ou incertezas. Lembro da fisioterapeuta dos olhos de Elisabeth Taylor, da técnica que trocava minhas fraldas com uma rapidez e higiene impressionantes. Da enfermeira que era engenheira-elétrica. A fonoaudióloga, que tinha o maior cuidado comigo, só liberando alimentação pastosa no momento seguro ( fiquei até de voltar para comermos uma picanha argentina ). Uma enfermeira corpulenta, que me botou nos braços com a vontade que eu caminhasse, sem nunca ter me visto, mas torcendo com uma força impressionante. O Técnico de Enfermagem, que trouxe sua maquininha elétrica e cortou meu cabelo e aparou o meu bigode.


Foi um aprendizado muito gratificante, pois conheci pessoas que existem e não são reconhecidas como deveriam ser.


Sou grato a cada uma dessas pessoas, uma a uma, sem distinção!
Após várias reuniões do meu filho com a equipe multidisciplinar, um dos médicos o aconselhou para que levasse para um veículo que ele já havia alugado, para não me deixar exposto em um hospital. E assim fui conduzido em uma ambulância para a viagem mais longa e gratificante da minha vida.


Minha família, a esposa que esteve longe de mim por tanto tempo, por motivo dos riscos de contaminação pela Covid, meus três filhos, minhas cunhadas, minha nora e meu netinho, que aguardava com muita ansiedade.


Não consegui dormir, nesse primeiro dia. Foi uma mudança e acolhimento muito brusco.
Uma equipe multiprofissional começou a trabalhar comigo. Primeiro a fisio; eu não andava e nem mexia com os pés e mãos. Para me movimentar na cama, solicitava a ajuda de meu filho, Yuri, e minha esposa; isso pela manhã, tarde e madrugada. Tomar água, só pastosa; não podia ingerir líquidos, e tive que reaprender muitos hábitos. Só comia pastoso e andava dentro de casa em cadeira de rodas, isso por pouco tempo, devido o ferimento da escara.


Foram muitas dificuldades, mas com a alegria de estar junto aos meus. Estava tão bem acolhido, que já não sentia nem saudade da minha casa.


Não conseguia me comunicar via celular, por conta das mãos trêmulas. Mas como tudo é no tempo do Onipotente, estou relatando, aqui, ainda vivendo o duplo momento que vivi, vítima da covid-19.


Hoje marca a data da minha alta médica, mas é imensa a alegria da provação que passei e de saber o quanto sou querido por minha família, meus amigos e a Santíssima Trindade. Resta somente dizer:


Os instantes de amargura que passei, eu não os lamento tanto, pois eles serviram ainda mais para tornar, depois da ‘tormenta’, mais doce e amena a caminhada, tendo a certeza que o Pai celestial se transforma em muitas pessoas e algumas delas vestem o branco e sabem, como ninguém, fazer o bem! Eu sou testemunha!

Por Marcelo Negreiros


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