[Editado por: Marcelo Negreiros]
O comando militar de Israel informou neste sábado, 2, que eliminou o Batalhão de Beit Hanoun, uma das principais formações do Hamas no norte da Faixa de Gaza. A declaração veio depois da rendição de três integrantes do grupo terrorista, que emergiram de um túnel na cidade e se entregaram às forças da Brigada Givati.
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A operação ocorreu em um momento de aumento nas críticas internacionais sobre a distribuição de ajuda humanitária em Gaza, relata o The Times of Israel. Organizações médicas locais relataram mais de uma dezena de mortes provocadas por disparos israelenses perto de locais de entrega de alimentos. Oito dessas vítimas buscavam comida em meio ao agravamento da crise de abastecimento na região, segundo o jornal.
Yahia Youssef, um palestino que estava próximo a um desses pontos de distribuição administrados pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), contou à Associated Press ter presenciado uma cena de pânico: depois de ajudar a carregar feridos por tiros, viu várias pessoas no chão, sangrando. “É o mesmo episódio todos os dias”, disse.
Mesmo diante de diversos relatos semelhantes, a GHF afirmou que “nada [aconteceu] em ou perto de nossos centros”.
Em resposta às dificuldades enfrentadas pela população civil, as Forças de Defesa de Israel (FDI) anunciaram na sexta-feira 1º a maior operação aérea de ajuda desde o início do esforço internacional.
Foram lançados 126 pacotes com mantimentos e suprimentos essenciais, em parceria com seis países. Espanha, Alemanha e França participaram das entregas pela primeira vez em mais de um ano, ao lado de Jordânia, Egito e Emirados Árabes Unidos. Neste sábado, 2, novas remessas (90 pacotes) foram lançadas por Jordânia, Emirados, Alemanha e França.
“As entregas aéreas fazem parte de uma série de ações voltadas a reforçar a resposta humanitária em Gaza”, comunicou o Exército. “As FDI seguirão trabalhando com a comunidade internacional para ampliar a assistência humanitária e desmentir as acusações falsas de que Gaza está sendo deliberadamente deixada à fome.”
A ofensiva israelense em Beit Hanoun já havia sido realizada cinco vezes desde o início do conflito. De acordo com os militares, a célula do Hamas que ali operava contava com cerca de mil combatentes antes de 7 de outubro de 2023. Desde então, muitos foram mortos em confrontos ou fugiram, incluindo o comandante Hussein Fayyad.
Na semana anterior, em visita à região, o comandante da Brigada Givati indicava a presença de apenas quatro ou cinco milicianos ainda ativos em Beit Hanoun. Durante a rendição mais recente, os três extremistas revelaram às tropas que pretendiam escapar depois de um tiroteio em que outro integrante de sua célula foi morto.
Militares de Israel interrogam membros do Hamas
Eles levaram ainda os soldados até um esconderijo com grande quantidade de armamentos e materiais bélicos. Dentro do túnel por onde haviam emergido, também foram encontrados alimentos, água e suprimentos que sugerem o uso do espaço como abrigo subterrâneo de longo prazo. Os três rendidos foram levados para interrogatório, os armamentos recolhidos e os túneis começaram a ser mapeados para destruição, segundo o Exército.
“O Batalhão de Beit Hanoun, que representava uma ameaça a Nir Am e Sderot, foi derrotado e se rendeu às tropas da Brigada Givati”, informou o comunicado militar.
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O ministro da Defesa, Israel Katz, divulgou nas redes imagens dos combatentes se rendendo. “Terroristas do Hamas estão se entregando em Beit Hanoun”, escreveu. “Eles estão saindo dos seus buracos para uma cidade em ruínas. O Exército está eliminando tanto a infraestrutura de superfície quanto a subterrânea para proteger Sderot.”
O anúncio veio acompanhado de pressão interna sobre o governo israelense. Segundo reportagem do Canal 12, o chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, teria apelado aos ministros para que apresentassem uma estratégia clara sobre os próximos passos militares, diante do impasse nas negociações para libertação de reféns.
Zamir teria ressaltado que o governo carece de um plano definido, o que complica a posição diplomática de Israel no exterior, especialmente com o agravamento da crise humanitária em Gaza.
Na sexta-feira, durante visita a soldados na Faixa, Zamir comentou: “Nos próximos dias saberemos se será possível alcançar um acordo parcial para libertar nossos reféns, caso contrário, os combates continuarão sem interrupção”.
O conflito atual começou em 7 de outubro de 2023, com a invasão de militantes liderados pelo Hamas ao território israelense. A ação resultou na morte de mais de 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e no sequestro de 251. Desde então, segundo as FDI, 28 dos 50 reféns ainda em Gaza já foram confirmados como mortos.
As autoridades de saúde sob controle do Hamas em Gaza afirmam que mais de 60 mil pessoas teriam morrido ou estão desaparecidas desde o início da guerra. Contudo, esse número não distingue civis de combatentes e não pôde ser verificado de maneira independente.
O Estado de Israel informa ter matado cerca de 20 mil combatentes palestinos em combates diretos até janeiro e outros 1,6 mil militantes durante o ataque de 7 de outubro.
Até o momento, 459 israelenses morreram nas operações terrestres em Gaza e em ações nas fronteiras, entre eles dois policiais e três civis contratados pelo Ministério da Defesa.
O governo israelense insiste que tenta evitar mortes de não combatentes e acusa o Hamas de utilizar civis como escudos humanos, operando a partir de áreas residenciais, hospitais, escolas e locais religiosos.
A operação em Beit Hanoun, uma das mais simbólicas da campanha militar atual, representa mais um passo na estratégia israelense de desarticular as estruturas do Hamas nas áreas urbanas de Gaza, tanto em sua superfície quanto no subterrâneo.
[Oeste]
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