[Editado por: Marcelo Negreiros]
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, 8, que os países do Brics se tornaram vítimas de “práticas comerciais injustificadas e ilegais”. Durante reunião virtual com líderes do bloco, ele criticou as medidas adotadas pelos Estados Unidos e as classificou como “chantagem tarifária”.
O encontro, convocado pelo Brasil, que ocupa a presidência rotativa do Brics, reuniu representantes de China, Rússia, Índia, África do Sul, Egito, Indonésia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Arábia Saudita. A cúpula durou cerca de 1h30 e foi realizada em meio à nova política tarifária da Casa Branca.
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Segundo Lula, medidas unilaterais recentes “transformaram em letra morta princípios basilares do livre-comércio como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional”. Ele acrescentou que “a ‘chantagem tarifária’ está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”.
O presidente brasileiro também criticou a imposição de sanções secundárias, que, em suas palavras, “restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos”. Para Lula, o cenário atual representa uma ameaça à governança internacional: “Dividir para conquistar é a estratégia do unilateralismo”.
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A missão do Brics
Em sua fala, Lula argumentou que o bloco tem condições de liderar a “refundação do sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e voltadas às nossas necessidades de desenvolvimento”. Ele destacou que os países do Brics representam 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase metade da população mundial.
O presidente mencionou ainda os recursos naturais e a capacidade agrícola do grupo. “Reunimos 33% das terras agricultáveis e respondemos por 42% da produção agropecuária global”, declarou. “Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia.” Segundo ele, essas características criam condições para uma “industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia”.
Lula ressaltou também o papel do Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como banco do Brics, na diversificação das bases econômicas e na promoção de uma “transição justa e soberana”.


Lula cita Palestina em discurso
O discurso do presidente não se limitou ao comércio. Lula cobrou soluções para conflitos internacionais, como a guerra na Ucrânia e a crise humanitária na Faixa de Gaza. “É urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos Territórios Palestinos”, afirmou.
Ele também classificou a presença de forças armadas dos Estados Unidos no Caribe como “fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”. Segundo Lula, o combate ao narcotráfico não pode justificar intervenções militares externas: “O terrorismo e os desafios de segurança pública que muitos países enfrentam são fenômenos distintos e não devem servir de desculpa para intervenções à margem do direito internacional”.
COP30 em pauta
Outro ponto destacado pelo presidente foi a preparação para a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro, em Belém (PA). Lula disse que o encontro será “o momento da verdade e da ciência” e propôs a criação de um Conselho de Mudança do Clima da ONU.
“Além de trabalhar pela descarbonização planejada da economia global, podemos utilizar os combustíveis fósseis para financiar a transição ecológica”, declarou. “Precisamos de uma governança climática mais forte, capaz de exercer supervisão efetiva.”
Lula visita os EUA neste mês
Os líderes do Brics também discutiram a preparação para a 80ª Assembleia Geral da ONU, que será realizada em Nova York ainda em setembro, e para a Cúpula do G20, em novembro. A reunião virtual, segundo nota do Palácio do Planalto, reafirmou o compromisso do bloco com “a preservação e o fortalecimento do multilateralismo” e com a construção de soluções coletivas para os desafios globais.
Ao final de sua fala, Lula reiterou que o grupo deve chegar unido à 14ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2026, no Camarões. “O Brics já é o novo nome da defesa do multilateralismo”, encerrou.
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