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Lula critica AIEA, que denunciou violações atômicas do Irã

O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), criticou, durante a abertura da Cúpula do Brics, neste domingo (6) no Rio de Janeiro, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), entidade da ONU que foi responsável por denunciar violações, testes nucleares secretos e o armazenamento de urânio altamente enriquecido por parte do Irã.

O mandatário brasileiro afirmou que a entidade vem sendo instrumentalizada, resultando na perda da “reputação de um órgão fundamental para a paz”.

No final do mês de maio, a AIEA foi responsável pela publicação de um relatório que acusou diretamente os iranianos de possuírem cerca de 400 kg de urânio enriquecido com 60% de pureza — o que, segundo especialistas, pode ser suficiente para a produção de 10 armas nucleares, caso o material fosse ainda mais enriquecido e transformado para uso militar.

No relatório, a entidade demostrou “grande preocupação” e afirmou que a cooperação do Irã era “menos do que satisfatória”. Foi a primeira vez em quase 20 anos que a AIEA afirmou que o governo violou suas obrigações de não proliferação nuclear.

Após as denúncias apresentadas pela agência, a república islâmica dobrou a aposta, aprovando medidas de retaliação ao órgão e anunciou um novo centro de enriquecimento de urânio.

“Em resposta à resolução da Junta de Governadores da AIEA, o chefe da Agência de Energia Atômica do Irã emitiu as ordens necessárias para estabelecer um novo centro de enriquecimento em um local seguro e substituir as máquinas de primeira geração no centro de enriquecimento em Fordow por máquinas avançadas de sexta geração”, disseram as autoridades iranianas em um comunicado divulgado no dia 12 de junho.

Após o comunicado, Israel realizou um ataque, classificado como “preventivo”, contra o Irã, alvejando o programa nuclear dos islâmicos, além de outras instalações militares, em operação batizada de Nação dos Leões. Foi o início de uma guerra que se estendeu por 12 dias, e terminou após acordo mediado pelo presidente americano, Donald Trump.

Nos ataques em questão, o governo liderado por Benjamin Netanyahu – que já foi crítico da AIEA – se respaldou nos recentes relatórios da agência e afirmou que o ataque israelense teve o objetivo de evitar um “holocausto nuclear”.

“Eles estavam trabalhando em um plano secreto para armar o urânio, estavam marchando muito rapidamente, e alcançariam um dispositivo de teste e possivelmente um dispositivo inicial [arma nuclear inicial] dentro de meses, e certamente menos de um ano”, afirmou Netanyahu, em entrevista à Fox News, em 15 de junho.

Após a guerra, o Irã encerrou sua “cooperação” com a Agência. De acordo com a legislação aprovada, os inspetores da AIEA foram impedidos de entrar no país, a menos que garantissem a segurança das instalações nucleares e das “atividades nucleares pacíficas” do regime. E essa entrada estaria sujeita à “aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã”, conforme informado pela emissora de TV oficial iraniana Press TV.

Na guerra de 12 dias, Israel destruiu instalações militares, atômicas e de energia iranianas, matando pelo menos 30 comandantes militares seniores e 11 cientistas nucleares. O Irã respondeu com ondas de bombardeio de mísseis em zonas civis e militares israelenses. Pelo menos 935 pessoas foram mortas no conflito, incluindo 66 crianças.

Em seu discurso no Brics, Lula denunciou as “violações à integridade territorial do Irã”.

Ainda sobre Israel, o mandatário brasileiro condenou o “genocídio praticado por Israel em Gaza e a matança indiscriminada de civis inocentes” e acusou o governo de Netanyahu de usar a fome “como arma de guerra”.

O presidente também condenou as “ações terroristas perpetradas pelo Hamas”, quando membros do grupo invadiram o território israelense por céu, terra e mar, matando mais de 1000 pessoas e sequestrando mais de 200, no dia 7 de outubro de 2023.

“A solução desse conflito só será possível com o fim da ocupação israelense e com o estabelecimento de um Estado palestino soberano, dentro das fronteiras de 1967”.

Professor especialista em Oriente Médio aponta discurso “completamente desconectado da realidade”

A Gazeta do Povo conversou com o uruguaio Daniel Osowicki, Professor e Mestre em história e especialista em Oriente Médio, que afirmou que nos últimos anos, a AIEA teve um “papel fundamental em supervisionar o programa nuclear iraniano”.

Para ele, o objetivo do discurso de Lula é “transferir a responsabilidade pelo ataque preventivo ao Irã à organização das Nações Unidas”, algo que é “completamente desconectado da realidade”.

“É evidente que a presença do Irã na cúpula do Brics levou o mandatário brasileiro a demonstrar certos alinhamentos com o discurso oficial da ditadura teocrática xiita iraniana”, afirmou o Professor.

Ele explica que a AIEA “tem sido o único organismo internacional autorizado a inspecionar e verificar as atividades nucleares do Irã, com base no Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) e no Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA)”.

“Apesar das tensões, a agência continua publicando relatórios detalhados sobre o grau de enriquecimento de urânio no Irã — incluindo níveis próximos a 90%, o limite para uso em armas nucleares”, afirma Osowicki.

Ele aponta que o discurso de Lula pode trazer desconfiança à diplomacia brasileira.

“Ao questionar publicamente a legitimidade da AIEA durante seu discurso de abertura na cúpula do Brics, Lula pode colocar o Brasil em uma posição de perda de confiança por parte de outros organismos internacionais”, afirma o professor.

Para ele, colocar em dúvida a imparcialidade no cenário global de uma “agência mundialmente reconhecida dentro do sistema de controle nuclear enfraquece sua credibilidade — e, por consequência, a de quem apoia seu mandato”.

“Governos e potências que respaldam a AIEA podem passar a ver o Brasil como um parceiro menos confiável em temas nucleares, o que reduziria sua influência em fóruns internacionais”.

Ele complementa apontando que a AIEA não é uma agência que lida exclusivamente com temas nucleares, e que, o afastamento do Brasil, pode, em última medida, prejudicar o país em setores essenciais.

“AIEA não apenas fiscaliza: ela também fornece assistência técnica em áreas como energia nuclear civil, medicina, agricultura, entre outros. Caso o Brasil se distancie, pode perder acesso a projetos e financiamentos facilitados pela agência, o que afetaria setores sensíveis como saúde e meio ambiente”.

“O Brasil é signatário do TNP e tradicional defensor de um mundo livre de armas nucleares. Ao enfraquecer o papel da AIEA, surgem dúvidas sobre a eficácia do regime de não proliferação em monitorar programas nacionais. Isso poderia ser interpretado como um afastamento da postura de compromisso com a transparência nuclear”, completa.

[Gazeta do Povo]

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