O pré-diabetes é uma condição silenciosa: o corpo começa a diminuir a produção de insulina, substância que controla os níveis glicêmicos, e os sintomas só se tornam mais perceptíveis quando já é tarde demais. Mesmo que seja reversível, em grande parte dos casos, o pré-diabetes culmina no desenvolvimento de um quadro de diabetes tipo 2, uma doença crônica.
Muitos fatores podem predispor alguém para a pré-diabetes, como o histórico familiar de diabetes tipo 2, sobrepeso ou obesidade, sedentarismo e alimentação inadequada.
Os fumantes também têm um risco mais alto – agora, um novo estudo aponta que fumar cigarros eletrônicos, ou vapes, também aumenta a chance de desenvolver pré-diabetes.
O estudo, publicado na revista científica AJPM Focus, analisou mais de 1,2 milhão de pontos de dados coletados por telefone durante uma pesquisa do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Com base nesses dados, os pesquisadores exploraram as associações entre pré-diabetes ou diabetes e o uso de cigarros eletrônicos, isoladamente ou em conjunto com cigarros convencionais.
No grupo estudado, quem fuma só vape tem uma chance 7% maior de ter pré-diabetes em relação aos não-fumantes. Para quem fuma só produtos convencionais de tabaco, como charutos e cigarros, o número é 15%. Entre os que combinam as duas modalidades, a chance de desenvolver pré-diabetes é 28% maior do que a dos não-fumantes.
“À medida que o uso de cigarros eletrônicos aumenta rapidamente, é vital que compreendamos seus impactos mais amplos na saúde. Não se trata mais apenas dos pulmões, mas de todo o corpo e da saúde metabólica.”disse Sulakshan Neupane, principal autor do estudo, em comunicado.
Segundo o Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), 15,5% dos brasileiros usam nicotina. Dentre os fumantes, 64% fumam apenas cigarros convencionais, 24% fumam apenas cigarros eletrônicos e 12% fazem o chamado uso dual, que mistura as duas modalidades.
“Em uma época em que os cigarros eletrônicos são comercializados como uma alternativa ‘mais segura’ ao fumo, isso sugere que eles podem trazer um perigo oculto e estar contribuindo silenciosamente para problemas de saúde a longo prazo, como pré-diabetes e diabetes”, disse Neupane, no mesmo comunicado.
Os vapes também costumam ser anunciados como uma alternativa para diminuir o tabagismo convencional. Entretanto, os dados do Lenad apontam que, entre o impacto dos cigarros eletrônicos na frequência dos hábitos dos fumantes é nulo ou negativo em 81% dos casos. Isso significa que a maioria das pessoas não passa a fumar menos por causa dos vapes – muitas, inclusive, passam a fumar mais.
No estudo norte-americano, os riscos eram ainda maiores para os fumantes com sobrepeso ou obesidade. Além disso, pessoas fumantes negras, hispânicas e asiáticas também tinham maior risco de serem diagnosticadas com pré-diabetes em relação a pessoas brancas, assim como pessoas de baixa renda – o que pode refletir desigualdades históricas no acesso aos cuidados com a saúde.
“As pessoas que não ganham dinheiro suficiente sofrem de estresse mental e tendem a fumar ou consumir álcool para reduzir esse estresse, o que leva ao aumento desses fatores de risco”, disse Neupane.
A condição pode ser revertida com exercícios físicos e alimentação adequada, mas é possível que o corpo já tenha sofrido danos cardíacos, renais e nervosos. Entre os fumantes que praticavam exercícios regularmente, o risco de desenvolvimento de pré-diabetes era 8% menor que a média.
Mas a prática regular de exercícios físicos fez a diferença, reduzindo o risco de pré-diabetes em fumantes em 8%, o que, segundo os pesquisadores, oferece uma chance de mitigação.
O estudo tem várias limitações. Ele observa uma correlação, mas não pode afirmar que o vape é a causa da pré-diabetes. Os dados foram obtidos a partir da autodeclaração de pacientes e podem não ser totalmente precisos. O período de coleta é curto, e não permite uma análise de evolução temporal.
Por outro lado, o grupo analisado é grande e diverso. O vape é um fenômeno relativamente recente: ainda não temos estudos avançados o suficiente para compreender efeitos colaterais claros a longo prazo. Por enquanto, correlações e estudos em animais são o melhor que temos – e os resultados não são animadores para os fumantes.
[Por: Superinteressante]
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