O conservadorismo de Michael Oakeshott

[Editado por: Marcelo Negreiros]

“Ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, o experimentado ao não testado, o fato ao mistério” (Michael Oakeshott)

O estivador é um trabalhador sem muito protagonismo em uma embarcação de navio. Exerce algumas funções como: carregar mercadorias, operar guindastes e equipamentos simples, além de organizar a carga. Outra obrigação é manter o equilíbrio do barco enquanto navega. O estivador não é o capitão, que projeta o destino da viagem. Seu trabalho é duro e pouco reconhecido.

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Para o teórico do conservadorismo britânico Michael Oakeshott (1901-1990), o papel do político tradicional — assim como do estivador — é manter o equilíbrio do país, não redesenhá-lo ou reconstruí-lo. Seu papel é garantir que haja estabilidade durante a travessia.

Para o teórico do conservadorismo britânico Michael Oakeshott (1901-1990), o papel do político tradicional — assim como do estivador — é manter o equilíbrio do país | Foto: Reprodução/XPara o teórico do conservadorismo britânico Michael Oakeshott (1901-1990), o papel do político tradicional — assim como do estivador — é manter o equilíbrio do país | Foto: Reprodução/X
Para o teórico do conservadorismo britânico Michael Oakeshott (1901-1990), o papel do político tradicional — assim como do estivador — é manter o equilíbrio do país | Foto: Reprodução/X

Um dos pilares do conservadorismo britânico, de acordo com seus teóricos, é a prudência. O governante deve, por exemplo, manter o “barco” em equilíbrio para que não afunde. Não promete um destino utópico, que nunca foi experimentado. Mas age com ceticismo, sabedoria e respeito ao passado, ao presente e ao futuro como uma continuidade histórica.

Apesar de ser amplamente reconhecido nos países europeus, as obras de Oakeshott não são muito divulgadas no Brasil, menos ainda nos cursos de ciências políticas das universidades.  

Há, contudo, alguns pesquisadores brasileiros que o estudam. Outros começaram a organizar, traduzir e publicar as obras do teórico britânico. Um deles é Abdon Menezes, advogado e pesquisador. Ele, junto de outros 10 pesquisadores, organizou o livro Michael Oakeshott: no oceano ilimitado da política. O material, publicado pela editora Jaguatirica, trata sobre a teoria do filósofo político.

Além de Meneses, participaram da elaboração do livro os pesquisadores:

  • Martim Vasques da Cunha; 
  • Lucas de Oliveira Corrêa; 
  • Wodan Grambyel; 
  • Alexandre Nogueira Souza; 
  • Daniel Lena Marchiori Neto; 
  • Lauro Antônio Nogueira Soares Júnior; 
  • Theo Villaça; 
  • Mateus Martins Bruno; 
  • Pedro Frade Balen; 
  • Cesar Kiraly; e 
  • Pedro Henrique Santos Braga.

Oeste conversou com Meneses, que comentou a obra e a dificuldade para tratar do tema no Brasil. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como foi o processo para organizar o livro Michael Oakeshott: no oceano ilimitado da política?

O projeto começou há mais ou menos dois anos, quando idealizei o primeiro livro sobre o filósofo Michael Oakeshott no Brasil. Não existia, até então, nenhuma publicação no país, em livro, sobre o filósofo. Existiam, é verdade, diversos ensaios de intelectuais públicos, compilados em um livro. Então, em 2023, compartilhei com colegas universitários, e pensamos em colocar isso como um projeto editorial. Reuni um grupo de aproximadamente 11 autores, como você pode ter visto aí, e eles toparam participar do projeto. Dentre os autores, temos um tradutor especializado em Oakeshott, Daniel Lena Marchiori Neto. Ele traduziu o livro A Política da Fé e a Política do Ceticismo, do mesmo teórico, pela editora É Realizações. Dois anos depois, a publicação saiu, finalmente. Nem todas as editoras têm interesse em publicar um autor que é completamente desconhecido ainda no Brasil, infelizmente.                                                                                                                                                                                                  

Quais são as dificuldades, não só para lançar a obra, mas para falar dela?

A maioria das editoras brasileiras não aprovam esse tipo de projeto. Diversas foram as justificativas, vamos dizer assim. Por exemplo, ensaios filosóficos não vendem, porque nosso livro é composto também de ensaios filosóficos e artigos acadêmicos. Isso não vende. Além disso, trata-se de um autor completamente desconhecido. Estou lidando há dois anos com editores diversos. Então, começa um diálogo entre editor e organizador nesse sentido e, por fim, conseguimos penetrar no meio editorial. A editora Jaguatirica, do Rio de Janeiro, acolheu o projeto e topou a publicação.

Oakeshott é importante para o debate político atual?

Sim. Entendemos que Oakeshott, como um filósofo qualificado e também um teórico político, professor da London School of Economics, desde 1951, pode contribuir com o debate público nacional, que atualmente é raso e superficial. É envolvido em polarizações. Oakeshott era um autor qualificado como um liberal conservador. Contudo, não aceitou uma honraria dada diretamente por Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra britânica, integrante do Partido Conservador. Ele não queria ser reconhecido como um militante partidário. Jamais se envolveu em disputas partidárias. Não há militância política em suas obras. É um autor, vamos dizer, moderado, que se afasta completamente dos extremos políticos. O Brasil vive com essa polarização entre dois candidatos. Isso é muito ruim. Temos de trazer Oakeshott para o debate público

Se Oakeshott fosse o conselheiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o que ele diria?

Essa pegadinha foi maravilhosa. Primeiro ponto, Oakeshott aconselharia a se afastar de todo o staff do Partido dos Trabalhadores (PT). Diria para ler algo e, assim, entender melhor o que é que metade, vamos dizer assim, da população brasileira. O povo clama por reformas estruturais, educacionais, que o partido dele, infelizmente, não pode oferecer. Isso está provado pelo tempo, pelos testes do tempo. O PT governa o Brasil há anos. O resultado está aí: falta de segurança, má educação e índices altíssimos de analfabetismo.

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