[Editada por: Marcelo Negreiros]
A Polícia Federal está convencida de que o prefeito de Palmas, José Eduardo de Siqueira Campos – preso e afastado do cargo na última sexta, 27, na etapa 10 da Operação Sisamnes -, espreitava a própria Polícia Federal em ações estratégicas, protegidas pelo sigilo. Diálogos recuperados pelos investigadores indicam que ele era reverenciado como o ‘chefe’ de um grupo dedicado ao vazamento ‘sistemático’ de dados reservados sobre operações sensíveis da PF.

O prefeito eleito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos); alvo da Operação Sisamnes Foto: @eduardosiqueiracampos via Instagram
A prefeitura de Palmas informou que Siqueira Campos ‘vai colaborar com a investigação’ e que ‘tudo será esclarecido’ (leia abaixo a íntegra da nota divulgada na sexta,27).
‘Oi chefe, 4 equipes da PF chegaram hoje. Vindas de Brasília, 4 equipes completas’, escreveu a Siqueira Campos, via WhatsApp, o advogado Antonio Ianowich Filho, em 13 de novembro do ano passado. O advogado detalhou. “Delegado, escrivão e 2 agentes. Chegaram por terra.”
Para a PF, Ianowich, que também foi preso na última sexta, 27, com o policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz – outro integrante do grupo -, se referia provavelmente a um desdobramento de uma investigação que põe sob suspeita o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, alvo da Operação Fames-19, inquérito sobre suposto esquema de desvios de verbas de cestas básicas durante a pandemia da Covid.

Diálogos recuperados pelos investigadores; prefeito era o ‘chefe’ Foto: Reprodução
Em agosto do ano passado, os federais fizeram buscas na residência e no gabinete de Wanderlei Barbosa e apreenderam quase R$ 100 mil em espécie. A partir daí, Tocantins vive sob permanente expectativa de que o governador poderá ser afastado do cargo a qualquer momento.
‘GRANDES CHANCES DO GOV SER AFASTADO AMANHÃ’
No mesmo dia 13 de novembro, o advogado avisou ao ‘chefe’ Siqueira Campos.
‘Oi chefe. Grandes chances do Gov. ser afastado amanhã’
‘Confirmado o parecer pelo afastamento’
‘É uma fonte minha de Brasília’
‘Disse que a decisão sai em horas’
‘Talvez ainda hoje’
Após ser alertado sobre a chegada de uma equipe da PF a Palmas, Siqueira Campos perguntou por mais detalhes.
‘Vc acha que será amanhã pela manhã?’
‘Quantos homens?’
Ianowich respondeu.
‘São 16 homens’
‘Acho que algo pontual’
Siqueira Campos insistiu
‘Poderia ser a prece….A pref
O advogado…’Eles ainda estão em Palmas. To tentando descobrir’
A Operação Sisamnes se debruça também sobre suposto esquema de venda de sentenças em pelo menos três tribunais de justiça – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins – e em gabinetes de ministros do Superior Tribunal de Justiça.
ASCENDÊNCIA NA ‘EMPREITA CRIMINOSA’
“Todos esses elementos revelam atuação concertada dos investigados para monitorar e obter dados sigilosos de operação investigativa complexa destinada a apurar atuação de organização criminosa envolvendo autoridades do Estado do Tocantins, o que corrobora a hipótese policial no sentido de que o prefeito se utilizava dessas informações para alertar determinadas pessoas, incrementando sua rede de influência na política local”, afirma Zanin.

Mensagem de advogado para o prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Foto: Reprodução
O ministro é taxativo. “Entendo que os indícios revelados até aqui se qualificam como suficientes para demonstrar o envolvimento dos investigados na empreitada criminosa, observando-se a ascendência de José Eduardo de Siqueira Campos sobre os demais, que o qualificam como ‘chefe’.”
Zanin vê ‘gravidade concreta’ do caso. “Denota o uso da posição política do prefeito e da função pública do investigador da Polícia Civil Marco Albernaz para monitorar membros da Polícia Federal, antecipando operações policiais e, dessa forma, impedindo o êxito de ações destinadas a desbaratar organização criminosa em atuação no Estado.”
O ministro ressalta que os indícios até aqui reunidos na Operação Sisamnes ‘revela concertação delitiva relacionada ao acesso privilegiado e vazamento de informações judiciais sigilosas’.

Conversa recuperada entre advogado e prefeito de Palmas Foto: Reprodução
“A análise do aparelho celular (de Siqueira Campos) revela compartilhamento de dados sigilosos que poderiam comprometer seriamente o êxito das investigações em curso”, adverte Zanin.
Ao pedir a prisão de Siqueira Campos, do advogado e do policial civil, a PF informou que o acesso ao conteúdo do celular do prefeito – agora preso – ‘descortinou indícios de participação ativa na logística montada para frustrar estrategicamente a efetividade das operações policiais’.
COM A PALAVRA, SIQUEIRA CAMPOS
Na sexta-feira, 27, quando a Polícia Federal deflagrou a fase 10 da Operação Sisamnes e prendeu José Eduardo de Siqueira Campos, a Prefeitura de Palmas divulgou nota oficial.
“A Prefeitura de Palmas informa que foi dado cumprimento a decisão judicial em relação ao prefeito Eduardo Siqueira Campos.
Cabe informar à população que as investigações não se relacionam com a atual gestão municipal. A decisão visa a averiguação de informações e tudo será esclarecido.
O prefeito recebeu a decisão com serenidade e irá colaborar prontamente com os trabalhos. Cabe destacar a abordagem respeitosa dos agentes da Polícia Federal.
Neste momento é importante prestar todos os esclarecimentos e manter preservada a população de Palmas e a gestão municipal.”
COM A PALAVRA, O GOVERNADOR WANDERLEI BARBOSA
Quando foi alvo de buscas em agosto do ano passado, o governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa disse, em nota, que, à época dos fatos sob investigação, era vice-governador e ‘não era ordenador de nenhuma despesa relacionada ao programa de cestas básicas no período da pandemia’.
“Como todos já sabem, a única alusão ao meu nome em toda essa investigação foi a participação num grupo de consórcio informal de R$ 5 mil com outras 11 pessoas, no qual uma delas era investigada”, afirmou.
[Por: Estadão Conteúdo]
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