[Editada por: Marcelo Negreiros]
Operação policial contra o Comando Vermelho deixa mortos e se torna a mais letal do Rio
Crédito: Amanda Botelho/Estadão
A operação policial deflagrada pelo governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), contra integrantes do Comando Vermelho, acirrou os ânimos com o governo Lula (PT) e expôs o dilema do prefeito Eduardo Paes (PSD), que dias antes intensificou gestos ao PL na tentativa de unir no mesmo palanque o PT e o partido de Jair Bolsonaro (PL).
Na esteira da ação policial, Paes disse que a cidade não pode ficar refém de criminosos e evitou criticar a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, com mais de 120 mortos. “A primeira mensagem que gostaria de passar para vocês é que o Rio de Janeiro não vai e não pode ficar refém de grupos criminosos que buscam espalhar medo pelas ruas da nossa cidade”, disse em um vídeo publicado nas redes sociais na terça-feira, 28.
O prefeito não saiu em defesa de Lula após Castro politizar o tema e se queixar da falta de ajuda do governo federal para enfrentar o crime organizado no Estado. Levantamento da consultoria AP Exata aponta que 63% das mensagens nas redes sociais consideram que a responsabilidade pela crise da segurança pública é de Cláudio Castro, contra 29% de Lula. A maioria das mensagens, 53,2%, reprovam a operação.
Eduardo Paes foi procurado por meio da assessoria de imprensa, mas não se posicionou até a publicação desta reportagem.

Paes tenta apoio de PL de Castro, que entrou na mira do PT após criticas ao governo Lula Foto: Pedro Kirilos/Estadão
Antes próximo de Bolsonaro e agora aliado do prefeito do PSD, o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) avalia que Paes tem pouco espaço para atuar politicamente na crise da segurança pública e tenta tirar vantagem ao mostrar que é “contra bandido”. “Ele fica meio manco. Não pode pender muito nem para um lado, nem para o outro”, disse o deputado.
Otoni aposta no pragmatismo de Paes e acredita que ele conseguirá colocar PL e PT no mesmo palanque. Em sua visão, o PSD livrará o prefeito de ter que ser o “soldado de Lula” na eleição, possibilitando a aliança com a direita. “Ele não vai rejeitar o Lula, mas tem um bom discurso caso o Kassab lance um candidato a presidente”, concluiu o parlamentar.
Castro, por sua vez, está no final do segundo mandato. Sem poder concorrer à reeleição, ele tenta se viabilizar como candidato ao Senado. Pesquisa Real Time Big Data divulgada no início do mês coloca o governador em segundo, com 22% das intenções de voto, atrás somente de Flávio Bolsonaro, com 29%.
A operação dá visibilidade ao governador, possibilita a ele adotar o discurso de linha-dura na segurança pública e ainda garante o respaldo de outros governadores da direita, como Romeu Zema (Novo), Ronaldo Caiado (União) e Mauro Mendes (União) – eles formaram uma comitiva para prestar apoio a Castro nesta quinta-feira.
Sem um nome de consenso para suceder Castro no PL, Paes fez um gesto ao partido no último sábado, dias antes da operação, em um evento realizado em São João do Meriti (RJ). Ele mencionou o deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ) e o vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ) e demonstrou confiança que terá o apoio da sigla.
“Essa foi uma semana de muitas especulações, general Pazuello. E alguém disse que essas especulações só teriam consequência se a gente fizesse uma dedicação de amor a fulano ou beltrano. E eu disse: eu não tenho dúvida de que vamos estar juntos, mas por um só amor: o amor ao Estado do Rio de Janeiro”, declarou Paes.
A fala foi uma resposta ao presidente do PL carioca, Bruno Bonetti, que afirmou que o partido só apoiará o prefeito se ele der palanque para o candidato de Bolsonaro a presidente. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também rechaçou a possível aliança.
No PT, mesmo a ala que defende o apoio a Paes criticou duramente Cláudio Castro após a operação, complicando ainda mais a tentativa do prefeito de atrair os dois extremos. “A postura de Cláudio Castro é vergonhosa e eleitoreira. Ele admite publicamente usar operações como marketing político, enquanto sob seu comando o Rio é palco das maiores chacinas de sua história”, disse o partido, em nota da bancada federal assinada pelo líder Lindbergh Farias (PT-RJ).
Embora tenha a predileção de Lula, o chefe do Executivo carioca não é unanimidade entre os petistas. “Não dá para passar cheque em branco pra ninguém sem que haja um alinhamento de valores e projeto político”, disse Marina do MST, líder do partido na Alerj.
O cientista político Jairo Nicolau, professor da FGV, avalia que os acenos de Paes à direita abrem margem para que uma candidatura à esquerda do prefeito tenha mais competitividade no ano que vem.
“O Eduardo Paes está fazendo, acho que com um pouco de medo do que aconteceu com ele contra o Witzel em 2018, um movimento que me parece fora até um pouco da biografia dele, assumindo posições mais à direita em segurança pública”, afirmou.
Ele classifica a estratégia como “excesso de zelo”. “Você pode ganhar uma eleição com as forças centristas do Estado, os pragmáticos, as lideranças das cidades importantes do interior, que ele já costurou”, continuou Nicolau.
[Por: Estadão Conteúdo]
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