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Os avanços para trás – Estadão

[Editada por: Marcelo Negreiros]

Gosto de escrever sobre as minhas experiências de viagem. Não por acaso, me sinto mais inspirado quando estou perambulando mundo afora. Estar distante da rotina do dia a dia dá mais liberdade aos pensamentos. Temos tempo para observar, curtir e saborear a vida. Sem falar, é claro, nas paisagens diferentes e nas culturas que nos apresentam novos hábitos e jeitos de viver.

Confesso que, sempre que estou viajando, como agora, sinto saudades do Brasil. Não apenas da família, o que é natural, mas também dos amigos, da comida, do calor humano… Por outro lado, o que mais admiro por aqui é a sensação de segurança e, principalmente, a educação no trânsito. Sim, a civilidade no trânsito dos Estados Unidos chega a causar inveja até nos brasileiros mais apaixonados pelo país — seja para os motoristas, seja para os pedestres.

Nos EUA, o pedestre atravessa na faixa com total confiança. Nada a ver com o Brasil, onde a pobre faixa de pedestres parece sofrer de baixa autoestima — não é respeitada pelos motoristas e tampouco inspira confiança nos pedestres. No Brasil, as listras brancas servem mais como decoração no asfalto do que como garantia de segurança para quem tenta atravessar a rua.

O trânsito brasileiro é, de fato, complicado e perigoso. Os números não deixam dúvida: morre-se 3,5 vezes mais em acidentes de trânsito no Brasil do que nos Estados Unidos. Claro, a precariedade da infraestrutura das ruas e estradas brasileiras contribui para isso, mas não tenho dúvida de que boa parte do problema está no comportamento (ou na falta dele) dos nossos motoristas. Além de ignorar a faixa, muitos brasileiros não sinalizam quando mudam de pista, desrespeitam o limite de velocidade e ignoram as placas de “PARE”. O brasileiro é, no trânsito, mais apressado e menos cuidadoso.

E, falando em apressados, poucas coisas me tiram tanto do sério quanto aquela cena corriqueira do motorista que, no horário de pico, avança sobre o cruzamento para “aproveitar o sinal”, mesmo sem espaço à frente. Resultado? Bloqueia o cruzamento e trava a passagem de quem circula na via transversal. Isso tem nome: “obstrução de cruzamento”. E o impacto é direto — engarrafamentos em efeito cascata, que só agravam o caos.

Por essas e outras, admiro o trânsito aqui nos EUA. Os motoristas respeitam sua vez, aguardam com paciência, não fecham cruzamentos, não trancam a cidade e nem tentam “levar vantagem” em cima dos outros. Esse comportamento, que valoriza o coletivo acima do individual, diz muito sobre as diferenças de desenvolvimento entre os dois países. Mas isso, claro, é assunto para outro texto.

Minha esperança é que este texto chegue a muitos motoristas brasileiros. Quem sabe sirva para uma reflexão, antes daquela “avançadinha esperta”. Essas “avançadinhas” são a própria materialização da nossa cultura de querer levar vantagem em tudo. Cultura esta que, além de travar o trânsito, acaba por travar também o Brasil.

[Por: Estadão Conteúdo]

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