Partido de Bolsonaro vota contrariado a favor de projeto de Lula e expõe uma direita encurralada

[Editada por: Marcelo Negreiros]

Passava das 23 horas da quarta-feira quando a Câmara dos Deputados se juntou numa única direção. Foram 493 votos e nenhum contra o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil por mês. A proposta foi feita pela gestão petista de Luiz Inácio Lula da Silva, mas no bolo dos votos favoráveis estavam os mais estridentes deputados bolsonaristas.

A longa sessão de votação é uma lição de politiquês. A aula começa pelo relator do projeto, o deputado Arthur Lira (PP-AL). O ex-presidente da Casa serviu de mediador de um texto com cores governistas. Na hora da votação, estava em pé ao lado do presidente da Câmara, Hugo Motta, afiançando e apontando a direção de como deveria ser o rumo da apreciação pelos pares.

Da tribuna, bolsonaristas raiz esboçaram um arremedo de reação. Um discurso contrariado de quem reclama do projeto da gestão de Lula. Como não poderiam se opor à ideia de isentar o IR de quem ganha menos por óbvio risco de impopularidade, os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro só puderam dizer que a proposta demorou a ser votada.

De última hora, integrantes do PL ainda apresentaram uma emenda de elevar a isenção para R$ 10 mil. O blefe populista não colou porque o script já estava todo traçado.

“Queria que ficasse muito claro que este é mais um projeto ao qual, evidentemente, o plenário vai votar favoravelmente, mas é mais uma política do presidente Lula de populismo”, discursou o deputado Alberto Fraga (PL-DF).

Bibo Nunes (PL-RS), outro das hoste bolsonarista, jogou a toalha. “Votaremos a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil reais, o que é bom para todo brasileiro. É um projeto com o qual concordo e aprovo, sem dúvida alguma”, declarou, alegando que a ideia já era de Bolsonaro como presidente e que Lula demorou a propor porque só pensa na eleição de 2026.

O deputado gaúcho vocaliza o que estava na cabeça de todos os presentes: a próxima campanha eleitoral. Quem vai dizer não para um projeto que cobra menos imposto de quem está na base na pirâmide? A aprovação unânime do texto é a resposta lógica: ninguém poderia ser contra.

O PL também reclamou da cobrança de imposto sobre dividendos de empresários, sob alegação de que isso sobrecarrega os empreendedores. O discurso até agrada uns e outros. Mas se fosse cristalizado sob a forma de um voto contra o projeto seria um suicídio eleitoral.

Assim, a sessão da Câmara terminou como uma pintura em que a direita aparece encurralada. Com Bolsonaro preso em casa e de tornozeleira eletrônica, e Lula ganhando mais uma bandeira para mostrar em 2026, as opções da direita se estreitam.

[Por: Estadão Conteúdo]

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