O Brasil registrou a morte de quase 3 mil indígenas da etnia Yanomami nos últimos dez anos, conforme dados Ministério da Saúde obtidos pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação (LAI). Em muitos dos casos, vidas foram perdidas por doenças evitáveis, como desnutrição e pneumonia.
Os dados dão indicativos da crise humanitária enfrentada no território indígena, alvo constante de garimpeiros e madeireiros ilegais. A Terra Indígena Yanomami tem 96 mil km², uma área maior que Portugal, dividida entre os estados do Amazonas e de Roraima.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decretou Estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin) no território yanomami em 2023. A decisão foi tomada depois que uma visita técnica do Ministério da Saúde encontrou crianças em estado de desnutrição, com malária, com infecção respiratória aguda e outras doenças.
Óbitos de Yanomami
- Os dados fornecidos à reportagem compreendem o período entre 2015 e 2024. Ao todo, foram 2.918 óbitos no território.
- Segundo as informações, o pico ocorreu em 2023, quando foram registradas 428 mortes.
- No mesmo ano, o governo federal decretou emergência de saúde pública na região e montou uma força-tarefa para atuar na assistência ao povo Yanomami.
- Segundo o governo, até o momento foram investidos R$ 596 milhões para melhoria do atendimento a indígenas no território.
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A pneumonia é apontada como principal causa da morte de yanomamis nos últimos 10 anos. A doença acontece quando um agente infeccioso, como bactérias ou vírus, atinge os alvéolos pulmonares. O quadro tem como tratamento o uso de antibióticos, conforme o próprio Ministério da Saúde.
A desnutrição aparece como a segunda causa do falecimento de yanomamis. No período, 251 vidas foram perdidas por este motivo. A Constituição Federal estabelece que a alimentação é um direito social, mesmo assim, há casos de deficiência nutricional em sociedade afastadas dos grandes centros urbanos.
Outro fator presente na causa da morte dos yanomami é a agressão. O Metrópoles questionou a Polícia Federal (PF) e também a Polícia Civil de Roraima sobre o alto número de mortes nessas circunstâncias, mas não teve retorno a respeito de possíveis investigações.
No caso da PF, a corporação indicou que “nos casos de crimes individuais ou comuns que envolvem pessoas indígenas, a investigação costuma ser de responsabilidade da Polícia Civil”.
Vale lembrar que a presença de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami é muito latente. Uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada em 2024, mostrou que nove aldeias do território estão contaminadas por mercúrio.
Segundo a Fiocruz, os indígenas com níveis mais elevados de mercúrio apresentaram déficits cognitivos e danos em nervos nas mãos, braços, pés e pernas.
O que diz o Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde informou à reportagem que desde a decretação da emergência em saúde no território tem tomado medidas para reverter o cenário. A pasta informou que aumentou o número de profissionais de saúde atuando na região, passando de 690 em 2023 para 1.855 em 2025. O ministério informou ter investido R$ 596 milhões na recuperação e melhoria da infraestrutura dos estabelecimentos de saúde na terra indígena.
“Casos agudos e graves já podem ser atendidos com urgência no próprio território, beneficiando cerca de 10 mil indígenas de 60 comunidades. Também foram reabertos os sete polos base que estavam fechados ou destruídos por conta da insegurança. São 37 polos base e 40 Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSI) em pleno funcionamento e ligadas à internet, para viabilizar serviços de telessaúde e solicitação de serviços de urgência e emergência”, destacou o Ministério da Saúde.
“Neste ano, considerando o primeiro semestre de 2025 e em relação ao mesmo período de 2024, a queda do número de óbitos foi da ordem de 33%. No período, o número de óbitos em relação a doenças respiratórias caiu 45%; em relação à malária, a queda foi de 65%; e de 74% nos óbitos por desnutrição”, explica.
[Metrópoles]
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