A recente polêmica em torno de uma suposta camisa vermelha da seleção brasileira expôs mais do que apenas a sensibilidade nacional em relação ao futebol: evidenciou a dificuldade da esquerda em se posicionar com firmeza no debate público e a força simbólica que as cores carregam no cenário político atual.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) demorou para se pronunciar oficialmente sobre imagens que circularam nas redes sociais, sugerindo uma nova camisa vermelha para a seleção na Copa do Mundo de 2026. A demora provocou ruídos e alimentou teorias políticas, até que a entidade publicou uma nota esclarecendo que os modelos divulgados “não são oficiais” e que a nova coleção de uniformes “ainda será definida em conjunto com a Nike”.
Ainda que o comunicado não tenha sido incisivo, acalmou parte das críticas. No entanto, deixou claro que, sob a atual gestão da CBF, o uniforme da seleção provavelmente continuará longe da cor vermelha.
A discussão tomou proporções políticas quando deputados federais apresentaram projetos de lei para proibir o uso de cores que não representem oficialmente a bandeira nacional. Fernando Rodolfo (PL-PE), Carlos Jordy (PL-RJ) e Daniel Agrobom (PL-GO) propuseram textos que restringem o uso de tonalidades “com conotação ideológica” nos uniformes da seleção, reforçando o verde, amarelo, azul e branco como únicos permitidos.
Enquanto a direita se mobilizou rapidamente, surpreendeu o silêncio da esquerda, tradicionalmente identificada com a cor vermelha. Apenas os deputados federais Natália Bonavides (PT-RN) e Guilherme Boulos (PSOL-SP) comentaram, e de forma bem sutil. Bonavides postou uma foto vestida de vermelho com o número 13 às costas e disse ter “gostado da ideia”. Já Boulos ironizou a situação, compartilhando uma sátira dizendo que ele seria o novo técnico da seleção com Pabllo Vittar como atacante.
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Nem mesmo o líder do governo Lula no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), apoiou a ideia. Pelo contrário: fez questão de defender as cores tradicionais. “Não há identificação, não há história, não há justificativa para que, seja quem for, queira substituir o verde e amarelo pelo vermelho”, afirmou.
O episódio, embora aparentemente superficial, evidencia o quanto a esquerda ainda enfrenta dificuldades para assumir símbolos que, por décadas, fizeram parte de sua identidade, especialmente após resultados tímidos nas eleições municipais de 2024. O recuo diante de polêmicas como a da camisa alternativa revela um receio em reforçar a imagem partidária e evidencia uma busca por maior aceitação em meio a um eleitorado cada vez mais polarizado.
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