Prefeitos Criticam Isolamento na COP 30: “Sem Voz, Sem Ação Climática”

Críticas à Falta de Participação Municipal

Prefeitos e lideranças municipalistas expressaram forte descontentamento nesta sexta-feira (21) com o que consideram um **isolamento dos municípios** nas discussões da COP 30, realizada em Belém. Mesmo com a conferência entrando em sua reta final sem um consenso claro entre as delegações, a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) denunciou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não estabeleceu **canais efetivos de participação** para os gestores locais.

A CNM alega que, apesar do discurso de abertura ao diálogo com prefeitos e governadores, a realidade observada no evento foi a **ausência da voz dos municípios** nas deliberações. Paulo Ziulkoski, presidente da CNM, criticou a discrepância entre a retórica e a prática: “Enquanto cobra ambição da comunidade internacional, falha em construir alicerces institucionais e financeiros que permitiriam às prefeituras traduzir esta ambição em ação concreta”, declarou.

Escassez de Diálogo e Propostas Concretas

Segundo a CNM, houve uma **”escassez de espaços de diálogo”**, e sua própria participação no evento só foi possível mediante muita insistência e a ajuda de instituições privadas. A entidade ressalta a contradição de um governo que, ao mesmo tempo em que reconhece a importância da integração entre União, estados e municípios para enfrentar as mudanças climáticas, falha em dar voz a quem está na **linha de frente da crise climática**.

Os representantes municipais clamam por **políticas públicas concretas e financiamento climático adequado** no Orçamento Geral da União, em vez de empréstimos onerosos que a maioria das prefeituras não consegue acessar. A falta de inclusão é evidenciada por dados da CNM, que indicam que **49% dos gestores municipais desconhecem a COP** ou seus impactos locais. Isso se agrava diante de um cenário de perdas acumuladas de R$ 732,2 bilhões entre 2013 e 2024, afetando 95% das cidades devido a eventos climáticos extremos.

Desconexão entre Discurso Global e Realidade Local

A crítica se estende à desconexão entre os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil e a realidade vivenciada nos municípios. Ziulkoski enfatiza que a implementação efetiva de acordos como o de Paris ocorre nos territórios municipais, onde prefeitos lidam diariamente com secas, enchentes e outros desastres. No entanto, eles se sentem **”deixados à própria sorte”**, apesar de serem os responsáveis diretos pelos serviços afetados.

Estudos da CNM revelam que apenas **12% das administrações municipais contam com Defesa Civil própria**, e muitas dependem de apoio financeiro e assistência técnica externa. Essa **”desconexão cria um abismo perigoso”**, segundo Ziulkoski, pois o país assume compromissos globais ousados, mas falha em fortalecer a base local para cumpri-los.

Expectativas para o Documento Final

Enquanto isso, no último dia da COP 30, negociadores internacionais trabalham para fechar um acordo final. As discussões centrais giram em torno do financiamento climático, metas de redução de emissões e o futuro dos combustíveis fósseis. A principal dificuldade reside no alinhamento de compromissos financeiros entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, na definição de um roteiro claro para a redução do uso de petróleo, gás e carvão, e na necessidade de **aumentar a ambição das metas nacionais**.

A expectativa é que o documento final, a “Declaração de Belém”, seja divulgado no início da noite, possivelmente aquém do esperado pelo governo brasileiro e pelas lideranças municipalistas que clamam por mais inclusão e ação concreta.


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