[Editada por: Marcelo Negreiros]
As eleições para o Senado em 2026 movimentam desde já a cúpula do PT e do PL. De um lado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aposta em “dobradinhas” com legendas de centro-direita e mira bancar nomes próprios onde a sigla tem força consolidada. Do outro, o PT articula apoios dentro desse mesmo bloco, que hoje integra a base do governo Lula, para conter o avanço bolsonarista na Casa.
Com 54 das 81 cadeiras do Senado em jogo, a eleição é vista por ambos os lados como estratégica. Para Bolsonaro, trata-se de garantir maioria para avançar propostas de anistia aos envolvidos nos ataques do 8 de janeiro, barrar indicações a agências reguladoras e pedir impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. Para o PT, a prioridade é impedir esse avanço e garantir uma base no Congresso.
O presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República e Pedro Kirilos/Estadão
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, deu a Bolsonaro carta branca para definir os nomes da sigla na corrida ao Senado. Segundo aliados, o ex-presidente passou a acompanhar com mais atenção pesquisas eleitorais para embasar sua escolha. “Vamos pegar o União Brasil, o PP, o PSD, o PR, partidos que têm conversado conosco, não de forma muito aprofundada, mas já sinalizamos dessa maneira”, disse Bolsonaro em entrevista ao canal AuriVerde.
No PT, a estratégia segue a mesma lógica: priorizar nomes competitivos e abrir mão de candidaturas próprias em Estados onde o partido tem desempenho fraco, apostando em alianças. “Haverá lugar onde nós vamos ter candidatos do PT e outros onde vamos buscar um entendimento com partidos do centro e até da centro-direita, desde que comprometidos com a reeleição de Lula”, disse o senador Humberto Costa (PT) ao Estadão.
Embora ocupem ministérios na gestão petista, partidos como PP e União Brasil já sinalizaram que deverão desembarcar do governo e lideranças demonstram resistência a alianças com o PT nos palanques estaduais. A possível federação União-PP, se oficializada pelo Tribunal Superior Eleitoral, pode limitar ainda mais o campo de alianças lulistas.
Segundo levantamento da Paraná Pesquisas, partidos do Centrão lideram as intenções de voto ao Senado em 9 dos 17 Estados analisados. Em muitos deles, o PSD e o União Brasil aparecem em primeiro ou segundo lugar. Cada aliança regional, no entanto, segue uma lógica própria. “No Sudeste e no Sul, a proximidade do Centrão com o bolsonarismo é mais forte. Já no Nordeste, o cenário é mais favorável ao PT”, explica o cientista político Marco Teixeira, professor da FGV.
Estados do Norte e Centro-Oeste concentram candidaturas mais alinhadas à direita, com forte presença de partidos do Centrão já identificados com o bolsonarismo na liderança. Em Rondônia, por exemplo, o senador Marcos Rogério (PL) lidera com 43,8%, seguido por Marcos Rocha (União Brasil), com 35,4%. São cenários onde o PT tende a não lançar candidatura própria.
Na região Norte, pesa a favor do ex-presidente sua votação expressiva em 2022. Bolsonaro alcançou mais de 70% dos votos no Acre, Rondônia e Roraima.
A exceção é o Pará, onde Helder Barbalho (MDB), cotado também para ser vice de Lula em 2026, lidera com 45,3%. Apesar de integrar a base do governo Lula em nível federal, o MDB ainda evita se comprometer com a reeleição do petista. O ex-presidente Michel Temer (MDB) articulou encontros com governadores para discutir a construção de uma candidatura única de direita ao Planalto em 2026.
Já no Distrito Federal, Michelle Bolsonaro (PL) lidera e pode fazer dobradinha com o governador Ibaneis Rocha (MDB). Bolsonaro já afirmou que a ex-primeira-dama será candidata ao Senado. Ela, porém, é citada também como possível nome para a disputa presidencial, e ainda não confirmou qual será seu papel no pleito.
O PL mantém outras opções em vista, como a deputada Bia Kicis (PL). Apesar das diferentes possibilidades, a liderança de Celina Leão (PP) nas pesquisas para o Executivo do Distrito Federal e a boa avaliação sobre o governo de Ibaneis fortalece a possibilidade de uma chapa conjunta com o MDB.
Nordeste favorece alianças do PT
No Nordeste, o PT está em posição mais confortável e lidera as pesquisas na maioria dos Estados, como em Pernambuco, com Humberto Costa (PT). Ele é seguido de Miguel Coelho (União Brasil), que apoiou Bolsonaro em 2022, mas que tem defendido ser de centro.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), também é cotado para disputar uma vaga no Senado pelo Estado. Apesar de integrar a legenda que apoiou o ex-presidente na última eleição, já sinalizou apoio ao presidente Lula em 2026.
No Ceará, Cid Gomes (PSB) e Eunício Oliveira (MDB) lideram com ampla vantagem. No estado, Eunício deve formar uma chapa com o governador petista, Elmano de Freitas (PT), mas também há articulações para uma aliança entre o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT), e o deputado Júnior Mano (PSB). O Estado conta com a vice-governadora Jade Romero (MDB), o que, na avaliação de correligionários, fortalece a sigla.
Em Alagoas, Lula indicou a tia do prefeito João Henrique Caldas (PL), Maria Marluce Caldas, para vaga de ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ), costurando um acordo para que o chefe do Executivo municipal não dispute as eleições no próximo ano.
A manutenção de JHC no cargo até o final do mandato abre caminho para a candidatura de Renan Calheiros (MDB) ao governo e do ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP) para o Senado. Lira é relator do projeto que amplia a isenção do imposto de renda para quem recebe até R$ 5 mil, proposta que deverá ser uma das bandeiras do petista em 2026.
Recuperação da popularidade
Em Estados considerados indefinidos, o peso do Centrão tende a ser ainda mais determinante. Em São Paulo, Eduardo Bolsonaro (PL), que tem futuro indefinido após ter ido para os Estados Unidos e ser alvo de inquérito por obstrução de Justiça, lidera em dois cenários de disputa para o Senado: contra o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Em ambos, o secretário estadual de Segurança, Guilherme Derrite (PP), ocupa a terceira colocação. Derrite migrou recentemente para o PL com o objetivo de compor uma chapa com o deputado licenciado, mas a possível candidatura de Bolsonaro à Presidência embaralhou o cenário.
Para dirigentes petistas, o atual arranjo em São Paulo favorece o PL, mas uma eventual candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao Planalto pode desestruturar a aliança governista no Estado.
“Se ele fizer isso, vai abrir uma disputa pela sucessão dele no governo. Pode ter o Ricardo Nunes, o próprio Derrite, o Kassab querendo disputar. Isso pode esfacelar aquela aliança, abrindo caminho para uma alternativa, uma aliança mais distinta”, avalia o presidente do PT paulista, Kiko Celeguim.
O senador Humberto Costa aposta que o desempenho do governo federal também influenciará alianças em 2026, inclusive com partidos que não estiveram com Lula em 2022. No entanto, segundo levantamento da Paraná Pesquisas, o presidente Lula é reprovado por 56,7% dos brasileiros.
De todo modo, o PT deve consolidar sua estratégia a partir de agora, após o Processo de Eleições Diretas (PED). O partido será comandado por Edinho Silva, que já sinalizou disposição para negociar apoios e ampliar alianças, destacando que elas fazem parte “da construção democrática do País”.
[Por: Estadão Conteúdo]
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