László Krasznahorkai é o mais novo escritor a entrar no seleto rol de autores reconhecidos pela Academia Sueca com o Prêmio Nobel de Literatura. O romancista húngaro de 71 anos recebeu a honra “por sua obra envolvente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte”.
O Nobel é concedido pela obra completa de um artista, não por um único livro ou projeto literário. No caso de Krasznahorkai – se seu húngaro estiver enferrujado, o nome se pronuncia “crasnarrórcai” –, a obra inclui alguns contos e ensaios, roteiros de filme em parceria com o cineasta conterrâneo (e de nome muito mais simples) Béla Tarr e, especialmente, seus romances densos e melancólicos.
Entre seus livros, o carro-chefe é Sátántangó, sua única obra em português (até agora), traduzida por Paulo Schiller e publicada pela Companhia das Letras. “O Tango de Satanás” é seu romance de estreia, publicado em 1985, e é escrito de múltiplas perspectivas e estruturado como um tango, com seis passos – ou capítulos – para frente e seis para trás. Seu primeiro livro já dá o tom de sua obra, que explora a alienação com frases longas e estruturas experimentais.
Cada uma das partes do livro é escrita como um único parágrafo longo, e a história se passa numa aldeia húngara precária em que os habitantes são enganados por Irimiás, um golpista que quer roubar o dinheiro dos aldeões. Nas mãos de Béla Tarr, o livro de 232 páginas virou um filme aclamado de 7h30, lançado em 1994.
A última vez que um húngaro ganhou o Nobel foi em 2002, quando o autor Imre Kertész, um sobrevivente do Holocausto, foi premiado também na categoria de Literatura. O principal prêmio literário do mundo paga 11 milhões de coroas suecas (pouco mais de R$ 6 milhões) para os vencedores. Os autores laureados com o Nobel são escolhidos por um comitê de seis pessoas, geralmente escritores da Suécia.
Mais livros em português pela frente
Krasznahorkai nasceu em Gyula, na Hungria, em 1954, numa família judia de classe média. Seu pai escondeu a herança judaica do garoto até os 11 anos. Antes de estudar literatura e se dedicar a ela como escritor, ele cursou Direito, mas desde que saiu da universidade, em 1983, o laureado com o Nobel trabalhou como escritor freelancer.
Compartilhe essa matéria via:
Sua primeira viagem para fora da Hungria comunista aconteceu em 1987, e desde então ele viveu em vários cantos do mundo, especialmente na Ásia, continente que inspiraria livros futuros. Hoje, ele mora recluso nas colinas de Szentlászló, na Hungria, e já ganhou outros prêmios literários, como o Booker Internacional pelo conjunto da sua obra em 2015.
Krasznahorkai escreveu sete romances, entre eles O retorno do barão Wenckheim, que vai ser publicado pela Companhia das Letras no começo de 2026, com tradução da professora Zsuzsanna Spiry. A editora também vai publicar, ainda sem data para lançamento, HERSCHT 07769, seu livro mais recente, um calhamaço formado por só uma única frase que se estende por 400 páginas.
Outra de suas principais obras, A melancolia da resistência (ainda sem tradução para o português), também virou filme em 2000, com o diretor e amigo próximo Béla Tarr, sob o título de Werckmeister Harmonies. A última colaboração da dupla – e o último filme de Tarr – foi O Cavalo de Turim, de 2011.
Os livros de Krasznahorkai não são leituras tranquilas: distopias sombrias, que criticam o comunismo que dominou a Hungria entre 1949 e 1989 e olham com pouca esperança para o futuro.
Agora, o prêmio será entregue ao romancista húngaro em dezembro. Em entrevista à sueca Sveriges Radio, ele disse que estava “bem feliz, calmo e, ao mesmo tempo, muito nervoso”.
Como a China usa os seus pandas para fazer política
[Por: Superinteressante]
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.