Ratinho Jr. e Leite vão pelo centro contra Lula em 2026

Com o recente e crescente alinhamento do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-SP) e a pauta da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro, os governadores do Paraná, Ratinho Junior (PSD), e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSD), buscam ocupar um caminho pela centro-direita e pelo centro para conseguir validar suas pré-candidaturas presidenciais e assim, quem sabe, representar a oposição ao projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) nas eleições de 2026

Em comum, os três governadores oposicionistas contam como “mentor” Gilberto Kassab. O presidente nacional do PSD segue com um pé em cada canoa: a da direita, com o governador Tarcísio (de quem é o secretário estadual de Governo e Relações Institucionais); a da esquerda, com presença no governo do presidente Lula — onde o PSD mantém os ministérios da Agricultura, Pesca e Minas e Energia —; e a do centro e centro-direita, com Ratinho Junior e Eduardo Leite.

Enquanto a estratégia eleitoral construída por Kassab para as eleições do ano que vem passa, no caso de Tarcísio, pelo alinhamento incondicional a Bolsonaro em busca de seu apoio explícito em 2026, a estratégia para Ratinho Junior e Leite é justamente a busca pelo afastamento do ex-presidente. “De um jeito ou de outro, quem vai ganhar as eleições de 2026 é o Kassab”, afirma um aliado próximo à reportagem da Gazeta do Povo.

“Vai esperar até o último minuto para ver quem é o candidato mais competitivo e apostar quase todas as fichas nele. Que ninguém se surpreenda se, no final das contas, esse nome for o do presidente Lula mesmo. De um jeito ou de outro, ele nunca fecha portas e vai continuar conversando e articulando como todo mundo mesmo depois das eleições”, acrescenta.

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Favorito de Kassab, por enquanto, parece ser o governador do Paraná

Por enquanto, no momento imediato o favorito de Kassab parece ser Ratinho Junior. Na noite do último dia 21, mais um gesto em favor do governador do Paraná aconteceu durante um jantar na casa do cacique político do Centrão, em São Paulo.

O evento, restrito a apoiadores mais próximos do projeto presidencial de Ratinho Junior e da direção nacional do PSD, reforçou a disposição da legenda de avançar com a pré-candidatura do paranaense ao Palácio do Planalto em 2026. Aliados que participaram do encontro contam à reportagem da Gazeta do Povo que até o nome de um marqueteiro para a possível campanha presidencial foi debatido entre os presentes.

Após o jantar, na segunda-feira (22), Kassab e Ratinho Junior participaram lado a lado de um evento na Associação Comercial de São Paulo. “Nós temos bons governadores no Nordeste, temos bons governadores no Norte do Brasil, no Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul. Hoje, quem está tocando de forma organizada e planejada o Brasil são os governadores. Você vai ver poucos estados dependentes do governo federal”, afirmou Ratinho Junior, em tom de presidenciável.

O governador do Paraná voltou a se colocar contra a PEC da Blindagem. “A sociedade, por muito tempo, lutou para acabar com o foro privilegiado e o que estamos vendo hoje é uma medida que muda toda a lógica que a sociedade defende há tantos anos”, afirmou.

Sobre a PEC da Anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro e os condenados por tentativa de golpe de Estado e pelo 8 de janeiro no Supremo Tribunal Federal (STF), o governador presidenciável foi mais cauteloso e menos enfático. “A anistia é uma solução política. O Supremo faz uma decisão jurídica, apesar de a gente ter visto muita política também em algumas metodologias do Supremo. Mas o Congresso faz uma análise política do processo. E o Congresso tem que se dedicar a isso. Não é a hora agora de achar certo e errado, é achar a pacificação do país”, afirmou.

O governador paranaense completou dizendo que “o Brasil está gastando muita energia já há alguns anos com esse tipo de pauta e isso não está colocando comida na mesa da dona Maria, não está melhorando o transporte público, não está melhorando a educação, não está fazendo o país atrair investimento. E o país tem que andar para frente, não pode ficar olhando o retrovisor”, completou Ratinho Junior, sem falar explicitamente sobre 2026, mas com o reforço claro da estratégia de buscar o centro e afastar-se das discussões pela anistia.

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Leite recebe menos empenho de Kassab

Paralelamente, mas com menos destaque e empenho de Kassab, o governador do Rio Grande do Sul também tem buscado se posicionar mais ao centro para garantir um lugar ao sol nas eleições presidenciais de 2026. “A gente está discutindo blindagem para político. Está errado. Precisamos trazer a política para onde ela deve estar. Discutindo os grandes problemas do Brasil e dos brasileiros e não o problema dos políticos, simplesmente”, afirmou Leite em uma publicação no Instagram na semana passada.

Sobre a PEC da Anistia e o ex-presidente Jair Bolsonaro, Leite tem sido enfático em se posicionar contra a proposta e tentar marcar um distanciamento. “Tenho respeito por ele, sempre tivemos diálogo aberto. É um bom gestor, temos convergências, mas também divergências, sobretudo na relação com Bolsonaro. Se houver um programa que una, é possível construir. Política se faz entre diferentes. O fundamental é que seja baseado em valores sólidos, democráticos e republicanos”, disse Leite sobre um eventual apoio a Tarcísio em um podcast do Estadão no mês passado.

Apesar do discurso de candidato, nos bastidores Leite diz saber que ele próprio é a terceira opção de Kassab, o que o coloca mais no rumo de uma candidatura ao Senado pelo Rio Grande do Sul do que à Presidência pelo PSD. “Se defendo a ‘despolarização’, tenho responsabilidade com esse movimento – seja como candidato a presidente, ao Senado ou em outra posição. O importante é fazer o país superar esse clima de destruição”, disse na mesma entrevista, na qual reafirmou a disposição de apoiar o nome de Ratinho Junior caso seja o escolhido de Kassab para o pleito nacional em 2026.

Tarcísio perde embalo para candidatura a presidente em 2026?

Ainda sem o aval oficial de Bolsonaro e família para lançar-se oficialmente como pré-candidato à Presidência, mesmo colocando-se como articulador e fiador da PEC da Anistia no Congresso Nacional, Tarcísio de Freitas está em uma situação difícil neste momento do xadrez eleitoral.

“Ao tensionar com o STF, Tarcísio tentou mandar um recado claro: mostrar fidelidade ao núcleo raiz de apoio a Bolsonaro e conquistar o carimbo de ‘herdeiro legítimo’, mas esse gesto saiu caro”, avalia o cientista político Samuel Oliveira. “Em vez de consolidar apoio, aumentou a desconfiança no centro político e deu espaço para que outros governadores se apresentassem como opções. A estratégia de alinhamento pode até reforçar sua imagem com o núcleo duro da direita, mas mina a construção da ponte necessária para vencer em 2026: dialogar com o eleitorado moderado que decide eleição no segundo turno.”

São Paulo é vitrine, mas também pode se tornar uma gaiola.

Samuel Oliveira, cientista político

Na avaliação do cientista político, enquanto isso Ratinho Junior e Eduardo Leite tentam ocupar a faixa do centro, abandonada pelo governador paulista pelo menos por enquanto. “Ambos perceberam que há uma rejeição crescente aos extremos. Esses dois governadores jogam mais silenciosamente, tentando se apresentar como viáveis contra Lula sem carregar o peso político do ex-presidente, que pode ser ativo no primeiro turno, mas que pode se transformar em fardo no segundo, devido a sua alta rejeição”, diz Oliveira.

O grande risco para Tarcísio, na avaliação do cientista político, é ficar preso a uma bolha paulista. “São Paulo é vitrine, sim, mas também pode se tornar uma gaiola: governar o estado mais rico dá visibilidade, mas não garante projeção nacional se o discurso não for ajustado”, afirma.

Ele salienta que Lula já “escolheu” seu adversário e foca em colar a imagem de Bolsonaro em Tarcísio. “O que está em jogo agora não é só quem herda o espólio eleitoral do ex-presidente, mas quem consegue provar que fala para além dele, e hoje Ratinho Junior e Leite parecem mais atentos a essa jogada do que o governador paulista.”

Segundo a última pesquisa de intenção de voto para presidente em 2026 da Genial/Quaest, divulgada na semana passada, Ratinho Junior teria 32% das intenções de voto contra 44% de Lula em um segundo turno no ano que vem. Pouco atrás de Tarcísio de Freitas, que teria 35% contra 43% do petista das intenções de voto em um segundo turno em 2026. Zema marcaria 32% contra 45% de Lula, e Ronaldo Caiado 31% contra 46%.

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro aparece no mesmo patamar, com 32% das intenções de voto contra 47% do atual presidente, de acordo com a mesma pesquisa. Eduardo Leite e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) não alcançaram o patamar dos 30% das intenções de voto em um segundo turno contra o petista. Leite marcou 26% contra 45% de Lula, e Eduardo 29% contra 47%.

Já contra o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), Lula aparece com 45%, frente a 32% do adversário no segundo turno. No cenário contra o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), Lula alcança 46%, contra 31% do adversário.

Contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Lula teria 47% das intenções de voto, contra 34% do rival. A pesquisa ouviu 2.004 pessoas entre 12 e 14 de setembro; a margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

[Gazeta do Povo]

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