Trabalhar menos pode ser bom para a saúde dos funcionários, para a satisfação deles com o trabalho e até para os chefes, que podem colher os frutos do bom desempenho de uma equipe mais descansada e motivada. É isso que mostra um estudo que analisou dados de quase 3 mil funcionários de 141 empresas dos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Austrália e Nova Zelândia.
A pesquisa analisou iniciativas de diminuir a escala de trabalho do tradicional 5×2 para quatro dias de produção e três de descanso, sem redução salarial. Depois da pandemia, que transformou diversas relações de trabalho e popularizou o home office, algumas empresas passaram para o modelo de escala 4×3. Pelo jeito, está dando certo.
Um time de pesquisadores liderados pela socióloga Wen Fan, do Boston College nos Estados Unidos, analisou os dados de 141 empresas que participaram de um programa piloto liderado pela organização sem fins lucrativos 4 Day Week Global, que tem até um projeto no Brasil.
O estudo, publicado na Nature Human Behaviour, chega num momento em que o assunto está dividindo opiniões no Brasil – pelo menos entre os legisladores que têm poder para aprovar uma medida para mudar os direitos trabalhistas no país.
Em fevereiro, a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) apresentou uma proposta de emenda constitucional (PEC) para acabar com a escala 6×1, muito comum para quem trabalha com comércio, e reduzir a jornada máxima de trabalho para 36 horas semanais espalhadas em quatro dias da semana.
É bem improvável que a PEC, que propõe a escala 4×3, seja aprovada como está. Mas mesmo o fim da jornada 6×1, um dos principais debates políticos do último ano, encabeçado pelo movimento VAT (Vida Além do Trabalho) é impopular na Câmara. De acordo com um levantamento Quaest do começo de julho, 70% dos deputados são contra o fim da escala 6×1, com uma margem de erro de 4,5 pontos para mais ou menos.
Como funcionou a pesquisa
Antes de testar a escala 4×3, as 141 empresas que participaram do estudo passaram por uma consultoria de dois com a 4 Day Week para reorganizar o fluxo de trabalho e reduzir ineficiências do cotidiano das equipes – como as famosas reuniões que podiam ser e-mails.
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O programa piloto de quatro dias de trabalho e três de descanso durou seis meses. Fan e seu time analisaram relatórios preenchidos por 2.896 profissionais das empresas que participaram do teste sobre produtividade, saúde e satisfação no trabalho. Esses dados foram comparados com as declarações de trabalhadores de 12 empresas que consideraram participar do programa, mas desistiram depois.
Os trabalhadores que passaram para a escala 4×3 relataram níveis menores de burnout e mais satisfação no trabalho, além de níveis melhores de saúde física e mental. Os pesquisadores acham que esses benefícios podem ser atribuídos a mais tempo de sono de qualidade, menos cansaço e, no caso da saúde mental, sentir que sua habilidade para trabalhar melhorou.
Uma preocupação recorrente relacionada a mudar a escala de trabalho é a de intensificação do trabalho, que aumentaria o estresse do funcionário. Se não dá para terminar tudo em cinco dias, imagina em quatro? Por isso, a reorganização é tão importante. O estudo mostra que, com menos horas no expediente, os trabalhadores conseguiram ter mais bem-estar, e não menos.
Esses benefícios da escala 4×3 foram identificados no estudo independentemente de gênero, idade ou se o trabalho era predominantemente presencial ou feito de casa. O único fator que pareceu ter um efeito era a posição da pessoa na empresa. Os supervisores reportaram melhorias maiores do que aqueles que não trabalhavam em cargos de gerência.
Os pesquisadores não perguntaram diretamente aos quase 3 mil funcionários o quê eles achavam que era responsável por todas essas melhorias durante o teste. Mais estudos na área ainda são necessários para entender melhor como esses benefícios se apresentam e são sentidos pelos funcionários. Por enquanto, uma coisa é certa: das 141 empresas que testaram o projeto, mais de 90% continuaram com a semana de trabalho de quatro dias.
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[Por: Superinteressante]
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