Por: Luciano Marinho (Buchinho)
De tanto ouvir histórias dos velhos carnavais de Patos, nas quais incluem blocos, escolas de samba, ala ursas e os bois, talvez a mais contada seja a do Boi que “cagou” em frente à Catedral. E de tanto contarem, nasceu em mim a vontade de fazer um Boi de Carnaval, junto com outros amigos.
Final dos anos 70. Conseguimos juntar um grupo de amigos, e fiquei na responsabilidade de mandar confeccionar o Boi. Procurei um marceneiro, e começamos a engenharia, que não precisava, tudo muito mais por minha insistência porque queria que saísse bem feito. Comprei a cabeça no matadouro e o tecido nas lojas do ramo.
Chegou o carnaval… Contratamos um sanfoneiro e sua trupe e fomos pra concentração. Se não me engano, na Rua Vidal de Negreiros.
O que ninguém sabia era que o Boi de tão bem incrementado, ficou pesado demais.
Concentrados estavam: Alírio Barata, Nêgo Lindo, Antônio Marcos, Luciano de Evaristo, Mago Irenaldo, Irenaldo Marques, Guri, Marcelo Negreiros, Berlânio, Romuleudo, Adriano Peupéu, Alexandre (Trairinha), Roberto Priquitim, Iedo (BB) e outros.
Cada um que carregasse o Boi! Assim começou o “desfile” e a coleta de bebidas (era em um cano de 100ml, com uma torneirinha em baixo para abastecimento individual, sendo que se recebia todas as marcas de bebidas…imaginem a mistura, além de dividir com os carnavalescos que acompanhavam o boi) e o “caivão”(dinheiro) só no final.
Durante o percurso, passamos pela “Balança”, subimos até o Escondidinho e chegamos ao bar de Algustin. E lá, houve o encontro do Boi do Carnaval e uma Ema (tipo Ala Ursa) com todos os componentes. Valorizavam o Carnaval raiz. No comando do Boi, o Mago Irenaldo, que entendeu de partir para cima da Ema. Menino, essa deu uma cacetada de cima pra baixo no Boi, que sobrou até para o Mago.
A cacetada pegou na testa do Mago Irenaldo que se amuou e não levou mais o Boi. Depois foi Berlânio, mas ele dizia se não aparecesse um para substituí-lo, ele faria como o Boi fez em frente à Catedral.
E seguindo o corso, chegamos até a Rua 18 do Forte. Depois de tanto forró-carnaval-cana, não se teve condições de continuar, o sol causticante, tomando cana, pulando, dançado e até correndo de um lado pra outro da rua para receber as contribuições.
Depois de uma arrecadação substancial, fomos despachar o sanfoneiro lá no bairro da Maternidade e, de lá, seguimos pra Chico da Tripa, no Noé Trajano, sempre com a ajuda do amigo Adriano Peupéu na sua Kombi de carroceria (a diesel).
No final, a arrecadação deu pra alguns irem pro Carnaval do Mela-mela (AABB), outros, preferiram ficar pelo centro da cidade.
Satisfaz-me contar essas histórias, porque nelas estão nossa juventude, nossas amizades; o tempo em que era muito pouco o interesse individual. Quando um tinha mais condições financeiras que outro, dividia-se. Nenhum ficava fora de uma farra por falta de dinheiro (tudo liso), mas quando se juntavam, dava pra todos.
Infelizmente, alguns já não estão mais conosco na matéria, mas, com certeza, estão no coração de cada um de nós.
SALVE, SALVE A AMIZADE!
Luciano Marinho
Hoje não tem carnaval
Tendo em vista que a alegria
Foi seriamente abalada
(no que tange a nossa alçada,
fizemos o que se podia).
Entre guerras e pandemias
O bem sucumbiu ao mal,
Jogaram uma pá de cal
No brilho das fantasias,
Amanhã, talvez um dia…
Hoje não tem carnaval!
(Perigo Neto)
_Agradeço ao amigo, Perigo Neto, pelo auxílio luxuoso de suas peças agregadas ao nosso texto._
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.