[Editado por: Marcelo Negreiros]
“A política energética é um território e também um instrumento destacado dos jogos geopolíticos na Europa Central, e talvez até em todo o continente”. Esta declaração marcou o discurso do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, do partido Fidesz, em cerimônia realizada nesta quarta-feira, 28, em Kidricevo, na Eslovênia. Na ocasião, foi lançada a construção da linha de transmissão Pince-Cirkovce, entre os dois países.
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A fala do líder húngaro é direcionada ao atual contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia, que redesenhou o mapa da energia no continente. A dependência de gás russo, a busca por novas rotas de fornecimento e o temor de uma escassez prolongada de combustíveis colocaram a segurança energética no centro das disputas políticas da União Europeia.
Nesse cenário, ele considera que a Europa Central passou a funcionar como rota de interconexão quanto como região que tenta afirmar sua autonomia em relação às potências tradicionais do bloco.
Segundo Orbán, a integração das redes elétricas entre Hungria e Eslovênia reforçará a posição dos dois países em disputas estratégicas. Ele acrescentou que, se avançarem também em acordos sobre gás e ampliarem a capacidade ferroviária, o impacto será igualmente geopolítico.
O líder húngaro avaliou que essas iniciativas elevam a soberania nacional, fortalecem a região e permitem maior proteção contra pressões externas. “O que está acontecendo aqui é, ao mesmo tempo, um interesse húngaro, esloveno e centro-europeu”, disse.
Para Orbán, esse é o maior projeto conjunto das últimas décadas entre os dois países e tornou-se símbolo de cooperação e de construção de confiança. “Quando uma nação decide se conectar a outra, isso exige confiança, sobretudo em sistemas cruciais como o de fornecimento de energia”, observou.
Ele recordou que a Hungria, por muitos anos, conviveu com desconfiança de seus vizinhos e teve de investir esforços constantes para criar relações baseadas em credibilidade. No caso da Eslovênia, destacou que por 20 a 30 anos as duas nações “não prestaram muita atenção uma à outra”, vivendo de forma paralela. Para ele, essa postura foi “um luxo enorme”, já que os dois países poderiam ter avançado juntos bem antes.
Orbán salientou que a expectativa agora é que húngaros e eslovenos percebam que estão mais próximos do que imaginavam. O governo de Budapeste, disse, está totalmente comprometido com o sucesso da parceria energética.
O premiê também mencionou a pandemia, lembrando que conversa frequentemente com seu colega esloveno para compartilhar experiências sobre o enfrentamento do vírus. Reconheceu que a doença segue em expansão, mas elogiou os resultados de Ljubljana, entre os melhores da Europa. “Nós também temos nos saído melhor do que muitos países”, afirmou.
Ele acrescentou que a vitória contra a crise sanitária só virá com a vacina, que ainda levará tempo. Até lá, frisou, os países precisam liderar suas populações e reforçar a cooperação. “A Eslovênia tem podido contar com a Hungria até agora, e nós, também, sempre contamos com a Eslovênia”, afirmou.
O premiê aproveitou para lembrar que hoje “o gás é mais barato na Hungria do que em qualquer outro país europeu, e a eletricidade para consumidores residenciais é a segunda mais barata”. Para manter esse quadro, ressaltou a necessidade de sistemas energéticos flexíveis e integrados.
Orbán quer que Hungria reduza a dependência energética
Orbán também refletiu sobre como é arriscado prever a história. Disse que, no início da década de 2010, leu livros sobre como seria o período até 2020, mas nenhum mencionava Donald Trump, o Brexit, a crise migratória ou a pandemia. “Isso mostra claramente que devemos ser cautelosos ao querer prever a relevância de algo em uma perspectiva histórica.”
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E concluiu que os acontecimentos de agora, ao contrário, “estarão certamente nos livros que descreverão o período entre 2020 e 2030”.
A União Europeia (UE), da qual a Hungria é membro desde 2004, reduziu fortemente a dependência do gás russo desde 2022, diversificando fornecedores (como Noruega, Catar e Estados Unidos) e ampliando investimentos em energia renovável.
A Europa Central, conforme disse o primeiro-ministro, ganhou importância estratégica. Países como Hungria, Eslováquia e Polônia são corredores de trânsito para gás e eletricidade, e por isso passaram a ter mais peso nas decisões energéticas.
Os países da região temem o risco de escassez e pressão nos preços de combustíveis. Em 2022 e 2023, a crise energética foi um dos maiores problemas da UE, com preços disparando e ameaça de racionamento. Em 2024 e 2025, a situação se estabilizou, mas continua sendo um tema sensível e estratégico.
[Oeste]
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