02 de Setembro – Dia do Repórter Cinematográfico


Foto: Repórteres Cinematográficos
Primeiras reflexões (Do reconhecimento e do auto-reconhecimento profissional)


              O repórter-cinematográfico Aídes Brasil, em texto publicado na coluna Opinião do Diário da Borborema (O jornalista de imagem, DB, 14/05/2005), dava conta dos “erros” que permeiam as apreciações feitas pelos próprios profissionais do meio quanto ao trabalho dos repórteres de imagem. De acordo com ele, a diferenciação entre “jornalistas” e “cinegrafistas” impressas nas palavras de “colegas com anos de profissão” contém dois erros:

O primeiro é que tanto um como o outro são jornalistas. As diferenças são, primeiro, que aquele que recebe a designação de jornalista no exemplo em questão exerce uma função de texto e o segundo uma função de imagem. A segunda é que o nome correto é repórter cinematográfico, e não cinegrafista. (ARRUDA, 2005)


              As constatações de Arruda foram, em primeiro plano, o que nos levou a refletir sobre a realização de um trabalho que viesse a discutir essas questões no seio da própria categoria dos jornalistas de televisão. Percebíamos ali uma questão que envolve o reconhecimento dos feitos da profissão que, de acordo com Arruda (2005) leva até o profissional a desconhecer a nomenclatura de sua profissão e se chamarem apenas por “cinegrafistas”. E isso pode ser visto na prática. Arruda (2006a), após pedir para, de memória, o leitor lembrar nomes de jornalistas, jornalistas de televisão e fotojornalistas, propõe:
Cite, rapidamente, o nome de um cinegrafista de televisão ou repórter cinematográfico. É isso mesmo, aquele profissional da imagem que produz o conteúdo do principal veículo de comunicação e de jornalismo do país. Difícil? Pare e pense um pouco mais. Surpreso? Deveria! Com certeza para a maioria dos profissionais de jornalismo e principalmente para o público em geral, essa parte da pesquisa  vai ficar definitivamente sem resposta. (ARRUDA, 2006a)


Para concluir de forma meio amarga.


Apesar de existirem grandes profissionais, figuras lendárias, conhecidas pelos especialistas do meio televisivo, nomes como o pioneiro Ortiz, da Tupi, o velho Cabreira, Orlando Moreira ainda brilhando em Nova York ou o José Andrade, para citar alguns mestres, a verdade é que esses jornalistas tendem a ser, antes de tudo “anônimos. (Arruda, 2006a)


              Isso porque, ainda de acordo com Arruda (2006b), apesar de vivermos na “era das imagens, de acordo com as “análises acadêmicas”, “a realidade é que sempre existiu um privilégio reconhecido e assumido da palavra sobre a imagem em todos os meios jornalísticos”.
              Esse privilégio se reflete no auto-reconhecimento profissional. Mesmo sendo os “professores” imediatos dos novos repórteres, conforme Arruda (2006a), “existe uma grande desinformação” entre os profissionais da imagem, “o que se reproduz nos recursos humanos das empresas e, não raro, implicam essas pessoas serem remuneradas abaixo do piso salarial da categoria”.
              Na prática, jornalistas de texto e jornalistas de imagem trabalham com a mesma matéria-prima na forma de notícia. O diferencial encontra-se na linguagem utilizada, onde os repórteres cinematográficos se valem dos “recursos mágicos de imagem e luz”. Luz que, de acordo com Arruda, não incide sobre eles.
             

Se a imagem deveria privilegiar seus próprios profissionais, isso não ocorre com a TV. Profissional da imagem ainda carrega o peso dos equipamentos, muitas vezes incômodos, obsoletos, que provocam graves problemas de saúde. Pior do que isso, o cinegrafista carrega o estigma da profissão. (ARRUDA, 2006b)


             
A profissão de jornalistas de imagem é regulamentada desde 1969 com a denominação de repórteres cinematográficos e foi pelo Decreto nº 83.184 de 13 de março de 1979, no Artigo 11 que especifica “as funções desempenhadas pelos jornalistas, como empregados”. Dentre as outras funções ela se destaca como aquela “a quem cabe registrar cinematograficamente quaisquer fatos ou assuntos de interesse jornalístico”. (DECRETO, 1979)
A responsabilidade de produzir um material de boa qualidade que permita, inclusive, a montagem de um texto sobre mobilizar o profissional, o estimula. No reino das imagens e dos sons, conforme Arruda (2006b), “o que se pretende mostrar é o que o telespectador deseja ver e ouvir sobre aquela notícia; o ângulo, o som e, às vezes, um detalhe falam por si só”
O que vai ao ar, contudo, é fruto não de um profissional exclusivo, de uma “estrela”. Há um leque de profissionais que se unem para produzir material noticioso. O repórter cinematográfico é mais um, talvez de uma importância capital (Haveria televisão, sem repórteres cinematográficos?), mas, como todo jornalista, amparado pelo trabalho de equipe.

A integração da equipe (repórter, repórter cinematográfico e o assistente), é fundamental para o êxito da pauta. A troca de informações a respeito do assunto ainda dentro da unidade móvel e, a agilidade de todos durante a execução da matéria, podem determinar um trabalho bem feito ou não.(ARRUDA, 2005a )  

              Não é preciso muito para reconhecer-se a presença “anônima” dos repórteres cinematográficos na história da televisão brasileira, dos pioneiros da TV de Chateaubriant aos Globais. Nada parece ter escapado aos seus olhares. Há um historia brasileira contada a partir de imagens. Imagens que falam mais que palavras, que guardam uma expressividade ímpar, mesmo que o poder das palavras ainda sirva para explicá-las, penetrar-lhes os sentidos. Mas isso é uma outra história.

O fato é que boa parte da memória contemporânea desse pais está registrada a partir das lentes e dos olhares de profissionais da imagem que, como jornalistas que são, devem concordar com Arruda (2005b):

(…) para mim o que mais pode orgulhar nessa profissão, além de conhecermos todas as realidades do nosso país, é quando fazemos uma matéria que, de certa forma, contribui para melhoria das condições e do desenvolvimento sócio-econômico-cultural da nossa sociedade.


           A história da TV e a influência do meio entre a população, portanto, não está fora do universo demarcado pelos repórteres cinematográficos. O dia-a-dia, a sensibilidade jornalística, o antenamento com a realidade, o senso profissional, o domínio técnico são os elos componentes desse profissional a quem o vídeo-documentário Repórteres do Olhar toma como personagem. 

por Marcelo Negreiros em seu TCC

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