A França vive uma crise social sem precedentes desde o início do ano, com greves e protestos contra a reforma da Previdência proposta pelo governo do presidente Emmanuel Macron. Neste artigo, vamos explicar os principais pontos da reforma, os motivos da resistência popular e as consequências para o país e para a Europa.
A reforma da Previdência
A raiz da onda de insatisfação popular atual é uma reforma no sistema previdenciário assinada pelo governo de Emmanuel Macron em meados de março. Ela aumenta a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos para a maioria das categorias .
O governo argumenta que a reforma é necessária para sustentar a Previdência, algo cada vez mais difícil diante da queda na proporção entre trabalhadores ativos e aposentados . Só em 2021, as despesas com pensões custaram quase 14% do PIB francês aos cofres públicos, quase o dobro da média dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo um relatório de especialistas encomendado pelo governo, essas despesas podem ainda levar a um déficit de 10 bilhões de euros por ano entre 2022 e 2032.

Mesmo com a mudança, a idade mínima para aposentadoria na França ainda é mais baixa que a de vizinhos europeus, como Alemanha, Reino Unido, Bélgica, Holanda, Espanha e Itália, onde ela varia entre 65 e 67 anos. No Brasil, atualmente a idade mínima para aposentadoria por idade é de 62 anos para as mulheres e 65 para os homens, com tempo mínimo de contribuição de 15 anos. A regra foi estabelecida pela reforma aprovada em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro.
Mas o sentimento de revolta na França também está ligado à maneira como a reforma foi aprovada. A coligação de Macron perdeu sua maioria na Assembleia Nacional nas eleições legislativas de 2022. Com isso, o governo não conseguiu o apoio necessário para aprovar a reforma pelo processo normal e recorreu ao artigo 49-3 da Constituição francesa, que permite ao Executivo impor uma lei sem votação parlamentar. Essa medida foi vista como autoritária e antidemocrática por muitos franceses.
A resistência popular
Desde janeiro, os franceses têm saído às ruas em massa para protestar contra a reforma da Previdência. As manifestações são lideradas pelos sindicatos dos trabalhadores, que exigem a retirada da reforma e defendem um sistema previdenciário mais justo e solidário .
Os protestos têm sido marcados por episódios de violência entre manifestantes radicais e policiais. Além disso, várias categorias profissionais entraram em greve por tempo indeterminado, afetando os serviços públicos essenciais. Os setores mais afetados são os de transporte ferroviário e metropolitano, educação, saúde, energia e limpeza urbana.

A greve dos catadores de lixo deixou cerca de 10 mil toneladas de lixo acumuladas nas ruas de Paris. A greve dos trabalhadores das refinarias provocou escassez de combustível em alguns postos de gasolina. A greve dos professores fechou escolas e universidades. A greve dos funcionários da Torre Eiffel e do Museu do Louvre prejudicou o turismo.
O governo tentou dialogar com os sindicatos, mas sem sucesso. O presidente Macron se mostrou inflexível
mnegreiros.com com informações da BBC News