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A Rússia e o terror comunista

A revista Commentary publicou um dos ensaios mais importantes do século 20 em 1979: “Ditaduras e Padrões Duplos”, de Jeane Kirkpatrick, que viria a se tornar embaixadora do presidente Ronald Reagan nas Nações Unidas.

Os regimes autoritários de direita, explicou a ex-diplomata norte-americana, controlavam apenas as alavancas do poder e, portanto, não alteravam os “ritmos habituais” das sociedades tradicionais — nem estavam inclinadas à revolução. Assim, esses políticos deixaram seus países intactos. Os sistemas e a ideologia comunistas, por sua vez, procuraram refazer as sociedades. Os esquerdistas reivindicaram “jurisdição sobre toda a vida” de seus povos e, portanto, destruíram-nos completamente de cima a baixo.

Apesar de o foco de Kirkpatrick ter sido os regimes comunistas do Terceiro Mundo, não há melhor exemplo disso que a Rússia. Trata-se de uma sociedade superficialmente europeizada, que sustentou mais de 70 anos de comunismo.

Quando o sistema soviético entrou em colapso, em 1991, o resultado não foi estabilidade, mas uma década de quase anarquia (no pior sentido da palavra). Com tal herança, a tirania de Vladimir Putin seguiu organicamente, diz Robert D. Kaplan, em artigo publicado na quarta-feira 8 no The Wall Street Jornal.

“Putin foi descrito com precisão como um fascista, em razão de seu culto à personalidade e ao feroz ataque ultranacionalista à Ucrânia”, afirmou o colunista. “Mas como a extrema direita e a extrema esquerda compartilham estranhas semelhanças em seus métodos de controle e demonização de inimigos, também é verdade que Putin foi soviético em seu estilo de governo. Ele acumulou mais poder pessoal que qualquer russo desde Josef Stálin.”

Muitos intelectuais agiram de forma ingênua em 1991, depois de a União Soviética entrar em colapso. Eles pensavam que o comunismo estava remetido a um passado irrecuperável. As três décadas recentes provaram que essa ideia é falsa, visto que os problemas do comunismo permanecem vivos.

“A Revolução Russa não foi preordenada”, diz Kaplan. “Era uma questão circunstancial. Se o czar Nicolai II tivesse permanecido no poder, a Rússia provavelmente teria evoluído para uma monarquia constitucional imperfeita, não para a monstruosidade assassina dos últimos cem anos.”

Nada revela a herança soviética de Putin tão bem quanto a estrutura e o desempenho do Exército da Rússia na invasão da Ucrânia, segundo o colunista. “Vários anos de integração com as forças terrestres dos EUA me ensinaram que um Exército é construído em torno de seu corpo de suboficiais: os diversos sargentos e cabos que impõem orgulho e disciplina às tropas”, afirmou. “Os militares russos que Putin enviou para a Ucrânia mal tinham um corpo de sargentos. Isso não importava muito para os mercenários e unidades de forças especiais que lutaram nas pequenas guerras de Putin.”

É por isso que tantos generais russos foram mortos. Em vez de permanecerem na retaguarda e dirigirem movimentos em grande escala, como nos Exércitos ocidentais, os generais foram postos à frente. Estavam mais vulneráveis. Os Exércitos das democracias ocidentais descentralizam a tomada de decisões nas fileiras. As Forças Armadas que são produtos de um sistema soviético, não.

“Uma Rússia pós-Putin não é de forma alguma viável no curto prazo”, argumenta Kaplan. “O Ocidente precisará ser paciente e compreensivo. A própria Kirkpatrick era cautelosa ao impor a democracia a sociedades que tinham pouca experiência com valores relacionados à liberdade.”

Daniel Patrick Moynihan lembra que a cultura, e não a política, determina o sucesso de uma sociedade. A cultura russa continua a ser vítima de décadas de regime revolucionário, seguido por uma variação de Putin. A podridão do Exército reflete as forças obscuras da sociedade russa e da política em geral — forças que provavelmente se revelariam no caso um vácuo de poder.”

Se a derrota militar de Putin na Ucrânia acabar levando a distúrbios em Moscou, o drama aumentará. Uma Rússia pós-Putin continuará a ser o maior desafio geopolítico da Europa e, portanto, há que se ter cautela com soluções rápidas na sociedade ou na política russa.

Mas como a bestialidade russa na Ucrânia é, em parte, o resultado final de um século de ideologia, segue-se que uma ruptura com a ideologia oferece a melhor esperança para o futuro, escreveu Kaplan. “Ainda pode chegar o dia em que o Ocidente terá de ajudar a Rússia.”

Leia mais: “Putin, a Mãe Rússia e o Ocidente”, artigo de Rodrigo Constantino publicado na Edição 102 da Revista Oeste

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