
A imagem nas Forças Armadas segue em queda livre: os democratas as veem como simpatizantes do golpe; os golpistas as veem como traidoras, porque na hora H correram da raia. Interessante: os dois lados concordam no entendimento de que os militares viam o golpe com simpatia.
A coisa é tão grave que o comandante do Exército, general Tomás Paiva, emitiu uma ordem interna insólita. “Os quadros da Força devem pautar suas ações pela legalidade”, escreveu. Paiva parece crer, no entanto, que é necessário aumentar a satisfação dos militares para compensar a vitória de Lula e o fato de que muitos militares serão punidos. Quer aumentar o soldo da tropa e dar outros benefícios.
Os Altos Comandos insistem que a imagem das Forças está sendo degradada por “elementos isolados”. Curioso: se são “elementos isolados”, por que é necessário alertar a tropa inteira de que é preciso cumprir a lei? E por que o Ministério Público Militar está se fazendo de morto em vez de investigar os tais elementos (culpados também de crimes militares)? E por que “compensar” a soldadesca pela punição de criminosos?
Lula está indo por caminho parecido: já se reuniu diversas vezes com os comandantes das Forças para discutir aumento de investimentos no setor militar. Acha que verbas são uma boa maneira de aplacar o eventual apetite golpista. “O aplacador é alguém que alimenta o crocodilo na esperança de ser o último a ser devorado”, ensinou Churchill.
Reconheçam-se as boas intenções dos comandantes, mas não é com concessões a um centenário espírito golpista que as Forças Armadas entrarão na linha.
A maneira de garantir o compromisso com a democracia, o profissionalismo e a disciplina é punir os criminosos na Justiça Militar, reformular os currículos das escolas militares e proibir que militares da ativa exerçam cargos civis.
Fora disso, são palavras (e verbas) ao vento.
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