Brasília está desligada do mundo real, enquanto brasileiro sofre com insegurança absoluta

[Editada por: Marcelo Negreiros]

O brasileiro está exausto e Brasília não percebe, a ilha da fantasia de todo desligada dos anseios do ser real. Brasília é Barroso flanando na Sapucaí. Todo mundo baleável nas grandes cidades – e o governo se organizando para combater roubo de celular. Todo mundo baleável – e a oposição unida pelo perdão a um golpista. Todo mundo baleável – e ministro de corte constitucional comparando operação que pegou corruptos de bilhões ao PCC.

Os dias são Toffoli. Brasília, essa imagem, sendo a elite política cuja atividade consiste em convescotes pela manutenção do próprio poder-privilégio – em defesa da democracia. Brasília é quando Moraes encontra Pacheco, quando Dino encontra Alcolumbre. Quando a solução é Motta, o vip do orçamento secreto que respeita os ritos – um Lira democrata. Quando o dissenso é Fux.

Poderes mostram desconexão com os anseios reais da população brasileira Foto: Wilton Júnior/Estadão

O brasileiro exaurido é aquele cuja vida tem impossível o mais mínimo planejamento. Não sabe se chegará ao mercado. Sabe que sairá do mercado sem dinheiro e com menos comida do que na semana anterior.

Esta deveria ser a maior inquietação de quem se aflige com a saúde da República: as gentes, empobrecidas, cada vez mais apartadas das chances de prosperar, descreem do contrato por meio do qual delegaram o norte do país. O cara, para quem se prometeu picanha, que não consegue comprar pedaço de alcatra. Que mudou os hábitos de consumo.

E não importa qual seja o hábito, ainda que o mais supérfluo, se observa o Congresso e se dá com reserva de R$ 50 bilhões para emendas – grana cujo paradeiro será a estrada que serve à fazenda de algum Juscelino. O observador é pai de classe média, que abriu mão da pizza aos domingos – e que vê togado blindando benefícios que asseguram salários de seis dígitos.

Todo dia sai pesquisa que aponta a desesperança das pessoas. Lula ganhou porque a maioria desejava se livrar de Bolsonaro. A maioria deseja se livrar. A condição do governante é descartável. Não existe projeto de país. As políticas públicas sendo formuladas no improviso, sob a encomendas de marqueteiro. Vide o ministro da Justiça sobre segurança pública: “Essa questão já está sendo atribuída pelo povo ao governo federal. Há essa percepção da população de que o governo precisa fazer alguma coisa”.

Armas e drogas entram livremente pelas fronteiras. E a questão, atribuída ao governo federal porque responsabilidade também do governo federal, só se tornando agenda porque captada em pesquisa. O produto é a tal PEC da Segurança Pública, prioridade para a qual não há previsão no Orçamento.

Todo mundo baleável – e o Parlamento ocupado em garantir suprimento à Codevasf. Todo mundo baleável – e o STF preocupado com o encarceramento excessivo. Todo mundo baleável – e o governo cuidando da violência via Lewandowski. Todo mundo baleável – e a direita amarrada a um projeto de impunidade para Bolsonaro.

[Por: Estadão Conteúdo]

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