Após a descoberta da contaminação pelo Coronavírus na China, suspeitas levantaram a hipótese da doença ter sido transmitida através de morcegos, que, provavelmente, teria passado para um outro animal, comum na região, chamado de pangolim e que, em seguida, teria contaminado um humano, que se alimentou dessa espécie. E aí, invés de condenarem o humano por seus costumes irracionais, jogaram a culpa nos morcegos.
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No momento, as pessoas passam a ver os morcegos como vilões, mas é preciso ter cautela quanto a sair por aí matando esses mamíferos, como se fosse a solução para evitar contaminações.
A importância das pesquisas, realizadas na fazenda Tamanduá, município de Santa Terezinha(PB), através de biólogos do Instituto Fazenda Tamanduá, fizeram um levantamento minucioso das espécies e constataram a importância dos morcegos no ecossistema.
Foram registradas 27 espécies, variando entre polinizadores, insetívoros (se alimentam de insetos) o que contribui para eliminação de mosquitos Aedes aegypti, algumas que se alimentam de frutos, com registros de consumo de néctar e folhas e até morcegos beija-flores. Só uma espécie hematófaga, que se alimenta de sangue.
Na maioria dos casos, a única evidência que associa morcegos às infecções zoonóticas é o isolamento ou a detecção do mesmo vírus em morcegos e humanos em áreas onde surgiram as doenças. Isso não prova que os morcegos sejam os hospedeiros; é apenas uma evidência de que, como mamíferos, humanos e morcegos são semelhantes o suficiente para servirem de hospedeiros temporários ao mesmo vírus. Em alguns casos, o mesmo vírus pode ser encontrado em outros vertebrados terrestres, como primatas, antílopes e pássaros ou mesmo em artrópodes.
Todas essas informações podem ser encontradas no livro: “Fauna Ilustrada da Fazenda Tamanduá”, editora avisbrasilis 2015, nas versões português e inglês.
Devido às muitas lacunas em nosso conhecimento sobre morcegos e vírus zoonóticos, associar os animais à proliferação dessas doenças é um desserviço. Dissemina-se o medo entre a população, e esforços são dedicados a controlar o reservatório errado, o que pode atrasar ações de mitigação, apropriadas para evitar mortes ou interromper a propagação da doença. Além disso, um extermínio das populações de morcegos pode levar à interrupção de importantes serviços ecossistêmicos prestados por esses animais.
Para o biólogo Paulo Barros, um dos pesquisadores do IFT, o conhecimento da biodiversidade contribui para que a população, ao invés de ver esses mamíferos “bonitos”, como inimigo, vejam como aliados da natureza e não saiam por aí matando, indiscriminadamente, esses indefesos animais e outras espécies.
Assistam o vídeo dos pesquisadores no trabalho de campo, na fazenda Tamanduá:
MarceloNegreiros- Com pesquisa em Ciência Hoje
(26/4/2020)
Obs: o livro pode ser adquirido na livraria Nobel, no Guedes Shopping, em Patos(PB)
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