
Uma startup criada pela pesquisadora Thamires Pontes transforma algas marinhas em matéria-prima para tecidos. O projeto quer desenvolver fios que podem ser usados em escala comercial, com rastreabilidade e baixo impacto ambiental, oferecendo uma alternativa para “descabornizar a moda”.
A paraibana, natural de João Pessoa, conta que a ideia começou a ganhar forma durante o mestrado em Têxtil e Moda na Universidade de São Paulo, iniciado em 2016. Foi nesse período que Thamires identificou o potencial das algas como matéria-prima para a indústria têxtil. “Foi um período de autodescoberta. Eu percebi que o caminho tradicional da moda já não me trazia realização”, afirmou Thamires.
Na época, ela já atuava na indústria têxtil, trabalhando com importação de tecidos, pesquisa de tendências e exploração de novos materiais. Mas foi apenas em 2022 que a startup foi criada e o foco no desenvolvimento de fios à base de alga marinha teve início.
Segundo a fundadora da Phycolabs, a alga marinha é o organismo de crescimento mais rápido do planeta e possui vantagens importantes para o meio ambiente e a indústria.
“As algas são cultivadas de forma renovável, não exigem grandes áreas de terra, uso intensivo de água doce ou produtos químicos. Elas absorvem CO2, reduzindo a pegada de carbono e melhorando a qualidade da água, além de promoverem a saúde dos ecossistemas marinhos”, afirmou.
Depois da pandemia, a pesquisadora conta que percebeu a urgência de avançar para a aplicação comercial da fibra. Atualmente, ela explica que está desenvolvendo o fio ideal para uso em escala industrial e prepara o lançamento do primeiro lote piloto da tecnologia.
Segundo Thamires Pontes, a startup já firmou parcerias com grandes marcas da moda que testarão os tecidos em seus produtos. “Essa etapa será crucial para definir nossa escalabilidade e aprimorar nossos processos”, afirmou a pesquisadora.

Além da sustentabilidade ambiental, a pesquisadora também aposta no impacto social da tecnologia. Thamires acredita que a inovação pode gerar renda para comunidades costeiras, incentivar práticas regenerativas e promover inclusão socioeconômica.
As algas utilizadas são cultivadas por parceiros da empresa nas regiões Sudeste e Sul do Brasil. Após a colheita, passam por um processo exclusivo de formulação e transformação em fio, realizado pela equipe da startup.
“Meu objetivo é que as fibras à base de algas se tornem uma alternativa viável e acessível aos materiais têxteis convencionais, sem comprometer a biodiversidade, ajudando a reduzir o uso de recursos escassos”, afirmou Thamires Pontes.
O projeto também vem recebendo reconhecimento nacional e internacional. Em 2023, foi uma das vencedoras do Global Change Award, da Fundação H&M, que premia inovações sustentáveis na moda. No ano seguinte, Thamires recebeu o prêmio Unlock Her Future, da britânica The Bicester Collection, e o Glamour Generation Awards, da revista Glamour Brasil, na categoria Mulheres na Ciência.
“Eu gostaria mesmo é de ver essa tecnologia ajudando a construir um novo padrão para a indústria, mais consciente, mais conectado com a natureza e alinhado com os desafios ambientais do nosso tempo. Por isso, insisto em dizer que a solução para cuidar do oceano vem justamente dele”, concluiu Thamires.

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