Quem são os torturadores de animais do Instituto Royal?

Por Paulo Ghiraldelli

Banalização da dor aparece quando ela se torna uma constante, sem lugar e sem critério, afirma filósofo

Minha esposa estava no parque com o Pitoko. Enquanto o Pitoko se divertia, ela parou para olhar uma criança que havia dado um tapa em um cachorrinho amigo do Pitoko. Ela ficou espantada com a atitude da criança, mas nem bem ela conseguiu falar algo e o pai da criança deu um tapa no filho. O filho olhou espantado e com cara de choro para o pai. E este respondeu de imediato: “ah, não gostou né? Então, se não gosta, por que fez isso com a cachorrinha que é sua amiga?”
Estamos em uma época em que a “palmada pedagógica” é proibida por lei. Há razão para isso: que não se pense que são poucas as crianças que chegam ao hospital quebradas, vítimas de uma surra de quem perdeu o controle após um primeiro tapa, o “tapa pedagógico”. Só vendo isso e lendo as estatísticas é que me convenci que o estado poderia, nesse caso, ultrapassar a soleira da porta e adentrar a vida privada. No entanto, ainda resta em mim algo de quem espera que o pai seja sempre a pessoa mais sóbria do mundo, e que possa usar da “palmada pedagógica” quando ela se faz necessário, como no caso visto pela minha esposa. Estarei sozinho nisso? Todos os outros filósofos tenderão a dizer que estou errado de ainda ter esperança de encontrar o “pai que é pai”?
O filósofo alemão Theodor Adorno disse certa vez que se um pai vê uma criança arrancando as asas de uma mosca, nada há que fazer senão dar um tapa ardido na mão da criança. Teria Adorno pensado antes como velho alemão que como filósofo? Ou teria Adorno visto a tortura se instaurar na Alemanha exatamente porque toda uma geração apanhou, mas por razões erradas, e não por ser cruel. Quem viu o filme “A fita branca” (França , Itália, Áustria, Alemanha. Michael Haneke, 2010) sabe bem do que estou falando. Crianças podem ser tratadas severamente e, no entanto, nada aprenderem senão a bajulação e a crueldade contra os diferentes e mais fracos. Longe de Adorno defender a ideia de que a violência da criança se cura com a violência do adulto. Nada disso. O recado de Adorno é claro: a punição física, para que a criança tenha a dimensão mínima da dor e não se torne um deus, pode ser exercida não aleatoriamente, mas exatamente contra a crueldade, contra a ideia de que não há dor no mundo ou que a dor é normal.

Fonte: Último Segundo

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