“Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” (Marcos 12:31)
Jesus nos deixou um mandamento simples, mas profundo: amar o próximo como a nós mesmos. É a base de toda a Lei e dos Profetas. No entanto, basta uma imagem — uma única foto — para nos confrontar com o quanto esse mandamento tem sido ignorado por quem mais deveria praticá-lo.
Recentemente, vimos representantes do poder público brasileiro, alguns envolvidos direta ou indiretamente em episódios de injustiça e indiferença social, sendo recebidos no Vaticano, diante do Papa Francisco. Um cenário que, para muitos, deveria simbolizar humildade, compaixão e arrependimento, transformou-se numa vitrine de contradições.
Não se trata de julgar os corações, pois isso cabe apenas a Deus. Mas quando os frutos são visíveis — e podres — não podemos fingir que não os vemos. A presença de certos políticos naquele local sagrado causa revolta não apenas por suas trajetórias duvidosas, mas pelo simbolismo de impunidade e hipocrisia que carregam. Como podem estender a mão ao Papa e, ao mesmo tempo, virar as costas para os injustiçados?
Falo daqueles que, após os atos de 8 de janeiro, foram presos de forma questionável, sem o devido processo legal, tratados como criminosos antes de serem ouvidos, esquecidos nos corredores escuros da política e da mídia. Falo de famílias humildes que viram seus entes desaparecerem atrás das grades, enquanto verdadeiros culpados, já condenados pela corrupção e outros crimes, hoje desfrutam de poder, prestígio e dinheiro.
Quando clamamos por anistia, não estamos defendendo um homem, mas um princípio. Não se trata de Bolsonaro — que está solto — mas da multidão de esquecidos que clamam por justiça. Ignorar isso é negar o Evangelho na prática.
O presidente da Câmara dos Deputados, que já viveu na pele o drama de ter um ente preso, deveria lembrar disso antes de posar com ar de pureza no Vaticano. A consciência limpa vem do arrependimento verdadeiro, não da maquiagem política.
É preciso ter coragem para dizer: alguns que hoje apontam o dedo e se dizem defensores da moral e da fé, são os verdadeiros bandidos da história. E o pior: muitos que se dizem católicos, aplaudem essas condenações, não por zelo pela justiça, mas por ódio político. Isso é pecado. Isso é farisaísmo. E disso Jesus nos advertiu repetidamente.
Se quisermos falar em nome de Deus, temos que viver como Ele ensinou. Amar, perdoar, defender os que sofrem injustiças, buscar a verdade com humildade e olhar o outro como alguém feito à imagem e semelhança do Criador.
Sem esse amor, qualquer discurso de fé, qualquer visita ao Vaticano, qualquer citação bíblica, não passam de teatro. E Deus não se deixa enganar.
Marcelo Negreiros
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