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‘SWEET DREAMS’ E O INÍCIO DA REVOLUÇÃO ESTÉTICA …

No atual contexto cultural e digital, muitos videoclipes e canções dos anos 80 vêm alcançando marcas expressivas nas plataformas de streaming. É um fenômeno que ultrapassa a nostalgia: trata-se de um verdadeiro movimento de redescoberta geracional, que conecta novos públicos ao legado artístico de uma era revolucionária da música pop feminina.

A revolução começou com um grito de liberdade

Essa revolução estética e comportamental, liderada por mulheres, teve suas portas escancaradas com o sucesso estrondoso de “Girls Just Want to Have Fun”, de Cyndi Lauper. Com sua mensagem leve, colorida e libertadora, a faixa se tornou um hino de empoderamento, redefinindo o papel da mulher no universo pop e inspirando outras artistas a romper com estereótipos e moldes visuais impostos pela indústria da música.

A partir desse marco, videoclipes, álbuns e performances de nomes como Annie Lennox, Madonna e Whitney Houston passaram a ganhar outro significado — ainda que de forma inconsciente — e só agora vêm sendo revisitados e valorizados sob novos olhares pelas novas gerações. E não por acaso, o mercado de vinis retrô também vive um ressurgimento, impulsionado pela busca por autenticidade e por uma conexão emocional com uma era de criatividade sem amarras.

Sweet Dreams: um clipe que moldou o futuro

Imagem de conteúdo da notícia "'SWEET DREAMS' E O INÍCIO DA REVOLUÇÃO ESTÉTICA POP FEMININA NOS ANOS 80" #1

Toque para aumentar

Entre as obras que mais simbolizam esse renascimento está “Sweet Dreams (Are Made of This)”, lançada como o quarto e último single do segundo álbum homônimo da dupla britânica Eurythmics, em janeiro de 1983. O videoclipe da faixa atingiu recentemente 1 bilhão de visualizações no YouTube, marco surpreendente para um vídeo lançado em 1983, muito antes da era digital.

Dirigido por Chris Ashbrook, o clipe apresenta uma estética surrealista marcada por contrastes visuais ousados: vacas vivas em uma sala de reuniões, ambientes corporativos cruzados com paisagens naturais, cadeiras vazias, máquinas de escrever… Mas nada chama mais atenção do que a figura central de Annie Lennox, vestida com terno masculino, bengala, cabelo laranja curto e um olhar firme e desafiador, rompendo os limites das convenções de gênero com uma confiança magnética.

Segundo um artigo do portal AllMusic — com o qual concordamos —, essa fusão provocadora de símbolos visuais, inspirada em nomes como Salvador Dalí e Luis Buñuel, posicionou Annie Lennox como uma figura pioneira na ruptura das normas de gênero dentro de uma indústria musical ainda marcada por estereótipos visuais impostos às mulheres artistas.

Um símbolo da resistência pop que atravessa gerações

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Toque para aumentar

Na época de seu lançamento, Sweet Dreams foi um dos vídeos mais exibidos da MTV, abrindo caminho para que artistas com propostas visuais inovadoras e não convencionais tivessem espaço no mainstream. O sucesso catapultou o Eurythmics à fama mundial e consolidou Lennox como um ícone atemporal da música pop.

Décadas depois, a conquista de 1 bilhão de visualizações confirma o que muitos já sabiam: algumas obras não envelhecem — elas apenas aguardam a próxima geração para serem redescobertas. E quando isso acontece, ganham novos significados, influenciam novos artistas e reafirmam seu papel como marcos da história da música e da cultura visual.

Quem são os Eurythmics?

Formado em 1980, o Eurythmics é uma dupla britânica composta pela vocalista Annie Lennox e o multi-instrumentista e produtor Dave Stewart. Misturando synthpop, new wave, rock e soul, o duo ficou conhecido por sua sonoridade eletrônica elegante, letras introspectivas e estética visual marcante — especialmente pelo estilo andrógino e provocador de Lennox.

Ao longo da década de 80, emplacaram diversos sucessos como “Here Comes the Rain Again”, “Would I Lie to You?” e “There Must Be an Angel (Playing with My Heart)”.

O surgimento da dupla se insere dentro de um momento fértil da música britânica do início daquela década, quando o synthpop — um subgênero do pop com forte presença de sintetizadores, batidas eletrônicas minimalistas e visual futurista — dominava o cenário europeu. Esse movimento não só transformou o som das rádios e pistas de dança, como também favoreceu a formação de duplas criativas e icônicas, como Yazoo, Pet Shop Boys, Soft Cell e Erasure, que assim como os Eurythmics, exploraram temáticas existenciais, identidades visuais ousadas e inovações tecnológicas em suas produções.

Mais do que uma tendência estética, o synthpop representava uma nova forma de expressão artística — muitas vezes intimista, experimental e politicamente ambígua — que se opunha à grandiosidade do rock tradicional e refletia as transformações sociais e culturais da época.

Reconhecidos por sua originalidade e impacto duradouro, os Eurythmics foram introduzidos no Rock and Roll Hall of Fame em 2022, consolidando seu papel como uma das duplas mais influentes da história da música pop.

Sweet Dreams: letra sombria, roteiro simbólico e um convite à reflexão

Mais do que um hit dançante ou um videoclipe visualmente impactante, “Sweet Dreams” também carrega em sua letra uma mensagem enigmática e, por vezes, inquietante. Com versos como “Sweet dreams are made of this / Who am I to disagree?” – “Bons sonhos são feitos disso / Quem sou eu para discordar?”, a canção mergulha em uma espécie de mantra cíclico sobre desejo, ambição, controle e poder. Há um senso de repetição proposital, como se a busca por sonhos doces estivesse sempre à beira de se tornar obsessão ou ilusão.

Esse tom quase distópico encontra eco no roteiro do videoclipe: figuras solitárias em ambientes corporativos, cadeiras vazias que parecem representar ausências ou silêncios, animais deslocados do habitat natural, símbolos de domesticidade invertida… Tudo isso compõe um cenário visual que questiona o que é real, o que é fabricado — e quem realmente está no controle.

Vista com esse olhar, a estética fria e a postura impassível de Annie Lennox ganham ainda mais força: ela não interpreta a canção com doçura ou vulnerabilidade, mas com autoridade e mistério, como alguém que habita — e talvez desafie — as engrenagens do sistema que ela mesma canta.

Assista ao videoclipe original de “Sweet Dreams” com esse novo olhar.

Repare nos detalhes, nas expressões, nos símbolos e no silêncio entre os versos.
A experiência pode revelar mais sobre o mundo em que vivemos hoje do que parecia à primeira vista nos anos 80.

[Antena 1]

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