Cláudio Bazoli, um vascaíno que frequentava São Januário e o Maracanã quase de maneira religiosa durante os anos 1990, não previa que o seu futuro seria viajar o mundo para conhecer outros estádios levando uma mensagem. O hoje advogado de 46 anos tampouco poderia adivinhar que em seu roteiro ainda haveria um episódio essencial para o desenrolar da história: conhecer Karla Bazoli, 37, pessoa que está junto desde 2007.

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Apaixonado por futebol desde a infância, Bazoli precisou superar um enorme obstáculo para se dedicar ao atual “hobby”. Ele ficou paraplégico em 2000, quando fazia faculdade de Direito e foi baleado durante uma festa.

O advogado readaptou a própria paixão ao conhecer a jornalista Karla e assim levar uma mensagem por todos os 159 estádios que visitaram juntos: a da inclusão.

“Eu ficava restrito a estádios próximos [no Rio de Janeiro] e não viajava. Era por desinformação mesmo porque eu não conhecia e achava que não seria capaz. Nunca gostei de depender dos outros e fico até sem graça quando preciso ser carregado. Isso até a Karla me encorajar e a gente pesquisar melhor sobre o assunto”, contou em entrevista a PLACAR.

Após bastante pesquisa e um processo de encorajamento, a primeira viagem aconteceu. Uma visita a Buenos Aires, que, coincidentemente, também foi o destino mais recente do casal.

“Em 2013, fomos para a Argentina, em Buenos Aires. Todo brasileiro vai para lá e visita La Bombonera, do Boca Juniors, e o Monumental de Nuñez, do River Plate, né? Fui nesses e em outros. E, desde então, não paramos mais. E nossa última viagem foi para lá, também, para visitar mais destinos incluindo o Estádio Diego Armando Maradona, do Argentinos Juniors.”

Estádio do Club Almagro pensou em acessibilidade -
Estádio do Club Almagro pensou em acessibilidade – Divulgação/Arquivo pessoal

Nesse último destino, Claudio narrou com a memória mais fresca uma dificuldade que encontrou no país vizinho. Ao visitar o estádio que leva o nome do ídolo argentino, campeão da Copa do Mundo de 1986, precisou ser carregado escada acima para fazer a visita ao museu do clube.

“Era uma escadaria, não tinha rampa. Estava com meu amigo e chamamos mais uma pessoa que passava na rua. Eles me carregaram para cima. Não é legal isso, além de ser um risco para as pessoas envolvidas. Podem desequilibrar”, explicou.

Também sobre a viagem a Buenos Aires, o advogado fez um elogio e relatou boa experiência no Estádio Tres de Febrero, do modesto Club Almagro. “Lá eles não têm estrutura de arena, é um estádio mais antigo e modesto. O clube não tem muito dinheiro, mas teve boa vontade. Fizeram uma rampa na inclinação correta, como alternativa aos que não conseguem subir escada. Isso não serve só para cadeirante”, disse.

Com o olhar empático, Bazoli ainda fez questão de frisar durante toda a entrevista que ele não era o único que precisava de acessibilidade.

“Esse assunto deveria ser de interesse de todos. Essas rampas e esses acessos são para diversos grupos: obesos, idosos, gestantes, entre outros. Por isso, eu e a Karla mantemos a página, para ajudar”, explicou.

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Área de acessibilidade do estádio do Galatasaray -
Área de acessibilidade do estádio do Galatasaray – Divulgação/Arquivo pessoal

Como não poderia ser diferente, Claudio foi ao Catar, para assistir aos jogos da fase final da última Copa do Mundo. Relatando sua experiência, apontou dois órgãos que ajudam na hora de viajar: o Fremec (Cartão Médico para Viajante Frequente) e o Medif (Formulário de Informação Médica), capazes de dar até 80% de desconto para quem acompanha o deficiente – neste caso, sua esposa Karla, que também protagoniza a história de amor.

Além disso, alertou que a Fifa disponibilizou ingressos para pessoas que necessitam de acessibilidade com um preço mais baixo e direito a acompanhante, além do desconto na estadia.

“A Fifa, de uma maneira geral, ajuda bastante os cadeirantes. Tem os ingressos mais baratos e vantagem nos hotéis. Pelos estádios serem mais novos e pela Copa ter sido realizada em estádios próximos entre si, foi mais fácil. Ressalto o ponto positivo do estádio Internacional Khalifa, que contava com uma cadeira para o acompanhante. Além disso, fui ao jogo entre França e Marrocos, pela semifinal, o primeiro de uma seleção africana na fase”, contou Claudio sobre o primeiro Mundial realizado no Oriente Médio.

Claudio exaltou Arena Pantanal -
Claudio exaltou Arena Pantanal – Divulgação/Arquivo pessoal

Em toda essa saga, o casal já visitou 14 estados e o Distrito Federal do Brasil. Para ele, os principais destaques do país são a Arena das Dunas, em Natal, e a Arena Pantanal, em Cuiabá, onde o acompanhante e o cadeirante não pagam o ingresso. Outra grata surpresa foi no estádio Jayme Cintra, em Jundiaí, do Paulista: “Procuramos contatar o clube para evitar surpresas desagradáveis. No dia que fomos, o assessor orientou por qual portão deveríamos entrar. Apesar de antigo, o espaço acessível foi bem satisfatório.”

Estádio Jayme Cintra, do Paulista de Jundiaí, foi destaque por boa vontade -
Estádio Jayme Cintra, do Paulista de Jundiaí, foi destaque por boa vontade – Divulgação/Arquivo pessoal

As viagens fazem Claudio e Karla muito felizes. Desde quando cita a expectativa que começa no planejamento, ao procurar voos baratos fora das temporadas comuns para o turismo, até o momento que detalha as visitas, o advogado não esconde a satisfação. Porém, reconhece, que teve um momento mais especial, por mexer com seu coração cruzmaltino.

“A emoção me pegou muito forte no estádio Nacional do Chile. Sou vascaíno desde sempre e foi lá que o Vasco conquistou o Sul-americano de 1948, o primeiro título internacional de um time do Brasil. E, também, foi o palco do bicampeonato da seleção brasileira, na Copa do Mundo de 1962. Lá um filme passa pela cabeça”, não escondeu.

O Nacional do Chile foi o local em que Claudio mais se emocionou -
O Nacional do Chile foi o local em que Claudio mais se emocionou – Divulgação/Arquivo pessoal

Questionado sobre a maneira que os preconceitos impactaram sua jornada, o “Caçador de Estádios” foi enfático e citou que diversos outros grupos sofrem com julgamentos. Em sequência, afirmou que enxerga, sim, em suas viagens a importância de levar a mensagem da acessibilidade por todo o mundo.

“Quando alguém que precisa e me chama perguntando sobre algum estádio é gratificante. E, depois, que as pessoas vão e mandam fotos, melhor ainda. Eu fico amarradão”.

A pagina de Claudio e Karla (@cacacodoresdestadiosdefutebol, no Instagram), tem mais de 3.900 seguidores e é alimentada frequentemente com experiências sobre o assunto – certamente, muitas novas virão em 2023, especialmente com o Vasco de volta à elite.

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